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Por que investir no Ceará?

Já se vê ao longe, como uma pequena jangada perdida na imensidão do mar, o tempo em que o Ceará era identificado apenas com belas imagens praianas e o mito do “sertanejo forte”, além da receptividade e humor característicos de seus habitantes. Às portas da terceira década do Século XXI, o Estado prepara-se para mostrar ao mundo que é, sim, o lugar certo para se fazer negócios a partir de agora. E tal vocação se ampara não apenas nos atributos geográficos, mas também, e cada vez de forma mais significativa, nos avanços em infraestrutura. Trata-se de uma visão que vem ganhando aderência no setor produtivo cearense, pautada eminentemente na inovação e na preparação de talentos voltados ao empreendedorismo.  

Tal tendência pode ser captada no desempenho do Estado no Produto Interno Bruto (PIB), que vem crescendo, em média, mais do que o nacional. Para se ter uma ideia, em 2019, o desempenho ficou em 2,11% contra 1,1% do País, com destaque para a indústria e seus 4,08% frente aos 0,5% da Federação como um todo. 

Boa parte dessa pujança se deve aos investimentos públicos em infraestrutura realizados nos últimos anos, que abriram caminho para a chamada “Trinca de Hubs”, fazendo valer, enfim, a vantagem da posição geográfica que põe o território cearense numa espécie de “esquina” da América do Sul, mais próxima dos continentes europeu e africano e da América do Norte. 

Um dos integrantes da trinca é o hub tecnológico. Nos últimos anos, o Governo do Estado tem investido pesadamente em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Entre as ações, que incluem o processo de migração de todas as suas operações de TI para o ambiente de nuvem, barateando e agilizando processos, destaca-se a atração de empresas com base tecnológica, cujo marco importante, em abril de 2019, é a instalação do Data Center Angonap e a instalação dos dos cabos submarinos Sacs e Monet, num investimento de aproximadamente US$ 300 milhões da multinacional Angola Cables. Os dois cabos ligam, por meio da fibra óptica, as Américas e a África. uma nova rota de conectividade com os Estados Unidos e o continente asiático. Já o prédio de 3.000 m² é mais uma forma de atrair novos provedores de conteúdo e internet e mais investimentos em tecnologia e pesquisa. Tudo valendo-se da posição estratégica no mapa-mundi e da agilidade nas operações, facilitadas pelo conjunto de 14 cabos submarinos – em breve serão 18 – que já chegam à cidade de Fortaleza e faz da Capital um hub de comunicação de dados.

“A melhor localização para os data center ou se dá perto de grandes conglomerados de clientes, e aí o Estado de São Paulo é um grande polo de atração, ou por estarem próximos de hubs de comunicação, caso do Ceará. Porque nem todos os clientes estão concentrados (no mesmo lugar). Existe um grande número de clientes difusos. E a melhor experiência do usuário para esse tipo de serviço seria na utilização de data centers próximos de hubs de comunicação, porque oferece menores tempos de latência, uma melhor gestão de risco e uma maior disponibilidade do serviço. E, naturalmente, o preço cai na proximidade desses hubs. Então há um conjunto de fatores que fazem com que o Ceará possa ser esse polo de atração no Brasil, além de São Paulo, da indústria de data center, que tem como seu principal cliente a computação em nuvem”, explica o presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice), Adalberto Pessoa.  

Aliada à infraestrutura e com investimentos feitos na formação de capital humano em universidades e escolas profissionalizantes, há ainda a intenção, da parte do Executivo estadual, de aplicar a Ciência de Dados na gestão pública. Assim, apostam os gestores, abriria-se caminho para uma otimização na oferta de serviços, resolução de gargalos existentes e uma maior transparência na tomada de decisões do poder público. 

Pelo ar

O segundo integrante do trio de hubs cearense é o aéreo, que apresenta como principal trunfo o centro de conexões em operação com o consórcio Air France-KLM/Gol. A localização no globo terrestre, o que faz com que um voo entre Fortaleza e Lisboa dure menos de sete horas, foi novamente um ótimo argumento para a definição da parceria. 

Isso sem falar nas obras de requalificação do Aeroporto Internacional Pinto Martins, que agora está sob a gestão de suas operações a cargo da empresa alemã Fraport e deve ser concluída até 2021, num investimento de R$ 1 bilhão. Intervenção que oferece uma capacidade 50% maior para passageiros em um equipamento de 60 mil m². 

A mudança de patamar do terminal vem em época oportuna, uma vez que, conforme dados do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), apenas no primeiro ano de funcionamento do centro de conexões, foi registrado um crescimento de 103,88% no número de passageiros internacionais. Outro levantamento, realizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), aponta que Fortaleza passou a atrair um milhão a mais de passageiros com a chegada do novo hub. Se entre maio de 2017 e abril de 2018 passaram por lá 4,9 milhões de usuários, este número passou para 5,9 milhões de maio de 2018 a abril de 2019.

“Não tenho dúvida que vamos ter aqui o melhor aeroporto do Norte e Nordeste do Brasil. Estamos trabalhando, juntamente com a Prefeitura da cidade, para fazer de Fortaleza um grande centro de conexões aérea, conectar Fortaleza com o mundo”, revelou o governador Camilo Santana, quando da ocasião do lançamento da nova área de check-ins do equipamento, em abril de 2019.

Voos diretos internacionais disponíveis a partir de Fortaleza: 

– Paris (França);

– Amsterdã (Holanda); 

– Frankfurt (Alemanha);

– Lisboa (Portugal); 

– Miami e Orlando (EUA); 

– Buenos Aires (Argentina);

– Ilha do Sal (Cabo Verde); 

– Cidade do Panamá (Panamá);

– Caiena (Guiana Francesa); 

– Madri (Espanha).

Hub logístico – do mar à Transnordestina 

No hub marítimo, alicerçado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e com expectativa de um grande salto em suas operações nos próximos anos após a parceria firmada com o Porto de Roterdã, em outubro de 2018, o grande diferencial, para muitos especialistas, é a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará

Claro que a posição geográfica, novamente, acaba dando uma boa vantagem ao Estado, umas vez que o equipamento está próximo dos mercados consumidores da Ásia, Europa, África e América do Norte. Além disso, com uma área de 13.337 hectares, o complexo, que acaba por ser uma espécie de hub logístico, oferece infraestrutura rodoviária, ferroviária e portuária, completada pelo atrativo dos incentivos fiscais, a capacitação de pessoas e a segurança energética, entre outros chamarizes para investidores.

“O fato de possuir uma Zona de Processamento de Exportação garante ao CIPP um certo grau de segurança econômica. Isso porque as empresas que ali estão têm a produção voltada para o mercado internacional, como é o caso da siderurgia da CSP (Companhia Siderúrgica do Pecém, empresa baseada no complexo). Nesse contexto, também destacam-se as operações de pás eólicas, que, apesar de não estarem na ZPE, tem grande parte da produção escoada pelo Porto”, explica Igor Pontes, PhD em Logística e professor da Faculdade CDL. 

Foram mais de 18 milhões de toneladas movimentadas no Pecém apenas em 2019, conforme dados do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), mas a expectativa é de que esses números se tornem ainda mais expressivos quando, enfim, forem concluídas as obras da ferrovia Transnordestina, que vai oferecer 30 mil toneladas/ano em capacidade de transporte. Há a expectativa de que as obras na via, que em seu trecho cearense, de 527Km de extensão, que vai ligar o porto à cidade de Missão Velha, na Região do Cariri, cheguem a 30% até o fim deste ano. A intervenção foi iniciada em 2006 e acabou paralisada em 2016, sendo retomada no segundo semestre de 2019.   

Inovação como a “grande chance”

De olho no desenvolvimento econômico, o Estado do Ceará busca olhar para o futuro alicerçado em capital humano, que passa, inexoravelmente, pela educação. De acordo com dados da Secretaria de Educação do Estado (Seduc) e baseando-se em estudos sobre a qualidade do ensino, o Ceará possui 55 escolas de ensino médio entre as 100 mais bem avaliadas do Brasil.

Na transição dos jovens para o mercado de trabalho, a palavra inovação tem sido quase onipresente. Pelo Estado, surgem diversas iniciativas voltadas para o tema, caso do Projeto Clusters Econômicos de Inovação (link para a matéria dos clusters), que reúne setor produtivo, poder público e instituições acadêmicas com o objetivo de gerar mais e melhores oportunidades de emprego e empreendedorismo nas 14 regiões de planejamento do Ceará. Dessa maneira, por meio da inserção de ideias inovadoras, que podem vir ainda a incentivar a criação de novas startups nos respectivos clusters econômicos de maior potencial e cuja formação de ensino superior e profissionalizante tenha maior oferta na região, busca-se o tão almejado desenvolvimento.

A ação é conjunta das secretarias do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet) e Ciência e Tecnologia e Educação Superior (Secitece) e a vinculada Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).

Para gestores locais, a busca por alternativas que não mirem a evolução do PIB estadual apenas pelas lentes da execução massiva de obras de infraestrutura representa a oportunidade de fazer a economia do Ceará crescer de forma ainda mais rápida e segura, mesmo em tempos de economia nacional estagnada. 

“É o grande momento que temos para poder fazer nesta crise um novo desenvolvimento diferenciado para o Estado, fugindo simplesmente da questão dos ativos físicos, que são as fábricas, os prédios, as máquinas, e usando algo que temos de muito rico, que são exatamente as cabeças que estão espalhadas pelo Interior”, ressalta Júlio Cavalcante, secretário Executivo de Comércio, Serviço e Inovação da Sedet, e responsável pelo Projeto Clusters Econômicos

Cavalcante acrescenta que essas jovens mentes podem ser encontradas em diversas instituições de ensino, “com uma vontade enorme de resolver problemas. Elas poderão contar com uma estrutura de Comunicação e Internet, num investimento complementado pela iniciativa privada que faz com que o Estado seja um dos mais conectados em banda larga do Brasil.

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