O novo coronavírus afetou a economia do mar cearense na mesma medida que atingiu outras muitas economias ao redor do globo. Tivemos a competência público-privada de não deixar parar as instalações portuárias no Pecém e no Mucuripe, nem desligar as máquinas das indústrias localizadas no Complexo do Pecém, o que permitiu assegurar uma boa atividade econômica no período para os setores ligados à nova economia do Estado sem descuidar das pessoas. Mas mesmo assim, as transações com o mercado externo foram bastante impactadas, especialmente as exportações e, desta forma, a movimentação de nossos portos sofreu.
Os produtos exportados mais afetados foram os semi-acabados de ferro ou aço e os calçados, ou seja, os dois principais produtos da pauta exportadora do Ceará, que, juntos, somam quase 62% do que vendemos para o mundo. Os dados disponíveis na ComexStat, sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro, mostram que números das exportações da pesca cearense também foram afetados, ainda que menos, e devemos esperar o segundo semestre para ver se chegamos perto do crescimento de quase 37% que o Ceará registrou no ano passado. Algo semelhante também ocorreu com os aerogeradores que hoje é nosso terceiro item na pauta exportadora e que no ano passado cresceu surpreendentes 189% em relação a 2018. Sobre a pesca, ainda, um destaque positivo em meio à pandemia: a concessão de um novo terminal pesqueiro a ser instalado no Porto do Mucuripe.
Apesar da retração que indiquei acima, mesmo nessa crise, o Ceará tem bons motivos para celebrar o crescimento das suas exportações de frutas frescas. Cresceram 11,3% em relação ao primeiro semestre do ano passado. A cada 5 dólares que o Brasil recebe com a exportação de frutas frescas, 1 vem para o Ceará.
Indo para outros setores ligados à Economia do Mar, o turismo foi o setor mais afetado: acredita-se que o tráfego de cruzeiros na janela entre outubro de 2020 e abril de 2021 seja impactado, assim com o número de turistas que é atraído para o litoral do Estado. Apesar disso, temos boas perspectivas a longo prazo, porque o Estado fez bons deveres de casa e tem infra-estrutura para se recuperar e o Zoneamento Ecológico-Econômico avança. A temporada dos ventos, apesar de promissores a partir dos próximos meses, também será afetada. Teremos menos kitesurfistas estrangeiros no Cumbuco, a Meca desse esporte.
Enfim, adaptando os antigos: navegar é preciso. Viver, também! (Parabéns a todos os que não deixaram cearense algum para trás durante a pandemia).
* Advogado e mestre em negócios internacionais