TrendsCE

Indústria de alimentos no Ceará cresce na pandemia e mira novas possibilidades

Segmento de alimentos é o terceiro no ranking de participação industrial do Ceará. FOTO: AdobeStock

Uma das atividades tidas como essenciais, o setor de alimentos não foi paralisado em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Pelo contrário. De acordo com o Instituto Brasileiro de Demografia e Estatística (IBGE), a fabricação de produtos alimentícios no Ceará teve um crescimento de 7,1% entre os meses de janeiro e abril deste ano, se comparado com o mesmo período de 2019. 

As medidas de produção e manipulação dos insumos e os próprios hábitos de consumo da população, porém, precisaram ser revistos. Uso constante de luvas e máscaras, pulverização de desinfectantes nos ambientes em cada turno de trabalho, medição da temperatura de colaboradores e limpeza completa de fretados estão entre as ações que mudaram a rotina da cadeia. Já os consumidores recorreram às compras online — chamando a atenção de empresas para o sistema de delivery em múltiplas plataformas. Como será, então, que este segmento da indústria olha para o futuro? 

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação e Rações Balanceadas no Estado do Ceará (Sindialimentos), André Siqueira, os próximos passos devem ser positivos.

“O setor foi um dos poucos a registrar alta durante a pandemia. Portanto, a tendência é de que ele continue em ascensão. As boas práticas empresariais e a adaptação aos novos métodos de consumo já são uma realidade do setor”, disse Siqueira. 

Segundo o presidente do Sindialimentos, as indústrias de frios e, pontualmente, a venda de ovos de codorna foram as mais afetadas pela crise sanitária. “Por distribuírem, principalmente, para restaurantes, estabelecimentos que estavam fechados durante o período de quarentena”, justificou. Na contramão, outras foram incentivadas. “Houve um acréscimo no consumo de alimentos saudáveis e orgânicos, mercado que passou a ser ainda mais explorado positivamente”, destacou. 

Conforme aponta o Produto Interno Bruno (PIB) do Ceará mais recente (2017), o segmento de alimentos é o terceiro no ranking de participação industrial do Estado (10,8%), com R$ 2,40 bilhões, ficando atrás somente da indústria de construção e dos serviços de utilidade pública. Nos cinco anos anteriores, a participação era de 7,5%. O Ceará ocupa o 8° lugar na importância do setor no Brasil. No ano seguinte ao último PIB, o IBGE destaca o segmento como o segundo na participação de valor industrial no Ceará, com 16,9%.

Produtos exportados

O País é campeão no mundo em produção e exportação de suco de laranja. Açúcar, carnes bovinas e de aves também têm destaque, ocupando o primeiro e segundo lugares no globo, respectivamente, em exportação e produção desses insumos.

No Ceará, conforme balanço do Ministério da Economia, consolidado pelo Observatório da Indústria, os produtos de maior protagonismo são a castanha de caju, as ceras vegetais e as lagostas — dos 283 itens alimentícios exportados pelo estado cearense. Juntos, os três somaram, em 2019, U$$ 203,5 bilhões em valores de exportação (mais de 60% dos US$ 338,5 bilhões gerados pelo total de produtos). Tratando-se de bebidas, a água de coco cearense figura em primeiro lugar no ranking de exportações de líquidos e em quarto no de produtos gerais, com US$ 33,2 bilhões.

Fomento à agricultura

Assim como tantas outras atividades, os processos produtivos foram fortemente impactados pelo novo coronavírus. Mas a saída para contornar este momento estava mais próxima do que se imaginava: instrumentalizar ferramentas tecnológicas já disponíveis para dar suporte aos pequenos agricultores. “A Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) apostou em redes sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp para incentivar feiras virtuais, que estão dando um incremento extraordinário de renda e fazendo com que a comercialização se torne uma realidade neste período na vida dos produtores”, explicou o secretário De Assis Diniz. 

Além das feiras virtuais, realizadas em várias cidades do território cearense, o titular da pasta também afirma que há um incentivo à adoção do sistema de delivery por cooperativas. Outra estratégia da SDA foi criar o Portal da Agricultura Familiar para aproximar consumidores e produtores familiares e criar perspectiva de renda no período pandêmico, permitindo a localização de produtos de forma regionalizada em cada um dos 184 municípios do Estado. 

Castanhas de caju lideram ranking de produtos exportados pelo Ceará. FOTO: Erivelton Celedônio/SDA

No mapeamento, lançado em abril, os contatos de 14 mil agricultores, associações e cooperativas estão disponíveis. Até o início de julho, mais de dois mil acessos foram registrados no sistema. “O portal será um forte instrumento na pandemia e, sobretudo, após. Isso nos levará para dentro de um ciclo constante de comercialização”, garantiu Diniz.

O secretário também destaca o edital de chamamento público para o projeto São José IV, previsto para o período pós-pandemia. Os objetivos do PSJ IV, conforme o documento, são “melhorar o acesso a mercados, adotar abordagens resilientes ao clima e melhorar o acesso a serviços de água e saneamento entre os beneficiários-alvo em áreas rurais”, bem como “melhorar o acesso dos produtores da agricultura familiar a mercados dinâmicos e possibilitar uma fonte sustentável de renda”. 

Grupos vulneráveis, como indígenas, quilombolas, ciganos, povos de terreiro e pescadores, além de produtores locais, estão contemplados pelo projeto. “Mercados completos, que precisam de consultorias para acessar o mercado nacional também farão parte das rotas do São José IV”, somou o titular da SDA.

Empregos e capacitação

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) afirma que, atualmente, 58% de toda a produção agropecuária do País é processada pela indústria de alimentos. E que esta é também a principal geradora de empregos, com mais de 36 mil empresas do setor e 1,6 milhões de postos de trabalho formais e diretos. No Ceará, 38.887 empregados formais compõem o segmento, de acordo com Ministério da Economia. 

Conforme levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação, mais de 20 cursos técnicos no Ceará, com 341 turmas formadas em 2019, estão ligados ao segmento de alimentos. No ano passado, 10.867 matrículas foram realizadas nessas formações. Agricultura, Agropecuária, Meio Ambiente, Química e Automação Industrial estão entre os campos de capacitação mais procurados. 

Diretora de Educação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Ceará), Sônia Parente afirma que o setor de alimentos e de bebidas é um mercado promissor no Estado. Mesmo com a pandemia, o segmento, segundo ela, segue ascendendo, “acompanhando o crescimento das empresas cearenses”.

De acordo com Parente, algumas áreas de capacitação ganham destaque, como panificação, técnico em confeitaria e de alimentos. Para o segundo semestre deste ano, ela afirma que o Senai, observando uma demanda, deve estrear qualificações voltadas para o setor hortifrutigranjeiro e de bebidas em seu polo no município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza. “Precisamos acompanhar o mercado. A indústria sempre requer novos processos e pessoas para atuarem nesses novos processos”. 

Sair da versão mobile