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Grande Fortaleza e Centro Sul: os melhores negócios para investir

Municípios de Iguatu e São Gonçalo do Amarante (Pecém) são destacados em suas respectivas regiões. FOTOS: Divulgação/Adobe Stock

A economia do Ceará como um todo possui diversos atributos conhecidos, mas a composição econômica do Estado, na verdade, está longe de ser algo homogêneo. Pelos quatro cantos dos 148.886 Km² de território, há peculiaridades que escondem – ou evidenciam – certas características políticas, demográficas e sociais, entre outras, que, justamente por serem únicas, podem interessar sobremaneira os olhares dos investidores mais atentos.

Em 22 de outubro de 2015, foi publicada, no Diário Oficial do Estado, a Lei Complementar nº 154, que criava as 14 regiões de planejamento do Ceará com o objetivo de aperfeiçoar as atividades de planejamento, monitoramento e implementação de políticas públicas de forma regionalizada. Assim, o Estado ficou dividido em 14 regiões de planejamento distintas, seguindo a metodologia do estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

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Tendo como referência esses estudos, a TrendsCE elaborou uma mapeamento resumido dessas regiões que pode auxiliar na prospecção de novos negócios de acordo com as particularidades de cada lugar. Trata-se de um panorama local a partir da visão de personagens de relevância e com larga experiência na economia de cada uma dessas 14 regiões. Alguém que já tenha feito ou faça parte dos quadros da gestão pública, da iniciativa privada ou da academia vai mostrar bons indicativos do que está em evidência no setor produtivo e possa render bom retorno para possíveis investidores.


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Confira, a seguir, na visão dos nossos “consultores”, algumas das características que fazem as regiões do Grande Fortaleza e Centro Sul, cada uma a sua maneira, uma boa opção para investir. 

GRANDE FORTALEZA

A complexidade de sua Região Metropolitana, dada a robusta e óbvia importância que possui no cenário econômico estadual, faz com que deixemos um tanto de lado, em nosso levantamento, a capital do Ceará, Fortaleza. Em vez disso, optamos por fazer uma incursão numa das sub-regiões de maior relevância para a receita estadual, especialmente no quesito balança comercial. E isso se dá por uma razão destacada: o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), que se mantém pujante mesmo durante a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Para que se tenha uma ideia, a título de comparação, apenas de janeiro a junho de 2020, o município de São Gonçalo do Amarante, sede do equipamento inaugurado em 2002, foram US$ 529.513.067,00 em exportações, segundo dados do Comex Stat. Enquanto isso, cidades como Maranguape (US$ 877.780,00), Pacajus (US$ 4.376.652,00) e Cascavel (US$ 3.244.505,00), todas integrantes da mesma macrorregião, e mesmo contando com um bom parque industrial, ficaram um pouco distantes de sua congênere nesse aspecto nos seis primeiros meses do ano.

Entre as mercadorias e os insumos que vêm e vão todos os dias do Complexo Portuário, responsável por uma movimentação de mais de 18 milhões de toneladas de janeiro a dezembro de 2019 – dados do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) – , o olhar dos investidores também deve se voltar para dentro do continente. No entanto, para o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Gonçalo do Amarante, Victor Samuel da Ponte, a grande aposta para a região deita seus olhos mesmo sobre as “marés” oriundas do Pecém e de sua vasta propensão à economia do mar.

Pequenos portos: “O Estado está em uma região muito singular, diferenciada. Nossa grande riqueza está no mar, no litoral, com a questão portuária. Da ponta onde está o Porto do Pecém até o Paracuru, onde existe um terminal marítimo de apoio às plataformas offshore, há uma área ainda muito pouco explorada. Poderia contar com terminais de menor porte, complementares ao Pecém, como pesqueiros, por exemplo. Na questão do apoio às plataformas e às atividades marítimas em geral, haveria mais movimentação de carga, com uma maior sinergia externa. A sobrevivência do Ceará está na logística, está na troca”, vaticina.

Olho no futuro: “A Logística está se desenvolvendo para explorar melhor os modais (ligados ao Complexo). É o caso do binômio porto-ferrovia, que ainda está muito incipiente, aguardando a conclusão da ferrovia Transnordestina e suas interligações com o Porto. Há a expectativa também da ampliação desta ferrovia até os limites da fronteira agrícola do Nordeste com o cerrado. E, para além do que está projetado, hoje, que é (no município piauiense de) Eliseu Martins, poder avançar até encontrar a Norte-Sul e fazer uma interligação muito interessante com esse eixo ferroviário e suas interconexões. Isso ampliará muito o raio de ação do Pecém com os demais portos da região, inclusive o do Mucuripe. O projeto inicial previa uma empresa âncora, que é a CSP (Companhia Siderúrgica do Pecém), que está indo muito bem, evoluindo e trazendo muito desenvolvimento, mas está faltando ainda uma refinaria, algo que vem sendo trabalhado politicamente, mas sem sucesso até o momento. Isso traria um desdobramento interessante, com empresas satélite girando em torno do polo petroquímico. Daria uma pujança maior àquela região“. 

Relação de forças: No começo, estava tudo a cargo do Estado, que idealizou, planejou e executou o Complexo com a ajuda de verbas federais. Naquela época, os municípios (próximos) não eram nem coadjuvantes, eram atores passivos do processo. Foi um dos maiores feitos de um governo na história em prol do desenvolvimento do Ceará, só comparável à chegada da energia elétrica ao Estado. A relação de forças no início foi muito desproporcional, mas depois disso a iniciativa privada passou a aportar recursos, através de investimentos diretos, como a implementação de duas siderúrgicas. Só uma delas, a CSP, com um projeto de mais de US$ 5 bilhões. Há outras indústrias, como a cimenteira, e uma série de empresas que têm investido lá. Enfim, foram compensando o gasto inicial do Estado, que até hoje investe, embora em menor escala. Isso é uma relação muito boa, que tem que acontecer mais vezes. 

Entorno beneficiado: Como se sabe, o CIPP fica dividido entre dois municípios, Caucaia, a Leste, e São Gonçalo do Amarante, a Oeste. Embora se saiba que o equipamento fica bem centralizado neste, aquele também acaba sendo beneficiado com o desenvolvimento de toda a região. Paraipaba e Paracuru sentem menos o impacto do desenvolvimento, mas também acabam beneficiadas. Nossa proposição é que esse espaço seja ampliado, que toda essa região se torne uma região portuária por excelência, para que se aproveite todo o potencial do litoral, do Oceano Atlântico.

CENTRO SUL

Com os municípios de Iguatu e Icó se destacando, economicamente, à frente de suas outras 11 cidades, a região de planejamento do Centro Sul apresenta inúmeras facetas inseridas em um território de 11.582 Km² e um universo de quase 400 mil habitantes. Enquanto Iguatu (77%) e Orós (75%) são constituídos por população urbana em sua maioria, Acopiara (49%), Icó (46%), Catarina (46%), Cariús (44%) e Quixelô (32%) são municípios eminentemente rurais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dessa discrepância e da constante escassez de recursos, agravada pelos longos períodos de estio, sua população tem conseguido, décadas após décadas, encontrar maneiras de se reinventar e dar vazão a novos fluxos econômicos, amparados em seu patrimônio histórico (bem representado pelos casarios da Ribeira dos Icós), eventos festivos e investimentos em educação e na cultura agropecuária, conforme destaca o atual supervisor especial da Fazenda Pública e responsável pelo Núcleo Econômico da Prefeitura de Iguatu, Klériston Medeiros Monte.

Disparidade econômica: Principal cidade do Centro Sul, Iguatu ostenta um PIB de cerca de R$ 1,5 bilhão, o que mantém o município como o 12º no Estado neste ranking, de acordo com dados do IBGE de 2017. Do outro lado está Umari (PIB de cerca de R$ 49 milhões), que se encontra entre os piores desempenhos econômicos do Ceará. “Iguatu é o grande carro chefe da região, não só do ponto de vista de visibilidade, como do técnico, quando se analisa os dados”, diz.

Mercado interno forte: “No último IPC (Índice de Potencial de Consumo), pudemos notar que Iguatu e Icó têm um alto poder de movimentar o comércio. Basta olhar para a quantidade de pessoas da região que se deslocam para essas duas cidades diariamente para realizar compras”.

Conhecimento:  No ensino superior, Iguatu, possui campi das universidades Federal (UFC), Estadual (Uece), Regional do Cariri (Urca), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE) e Faculdade São Francisco (Fasc), entre outras, com cursos como os de Economia, Direito, Enfermagem, Pedagogia, Psicologia, Fisioterapia e uma faculdade de Medicina em construção. A estrutura acadêmica e técnica, porém, não garante ainda retorno imediato ao mercado. “A região possui mão de obra barata e abundante, embora haja necessidade de melhor qualificação”, reconhece.

Tombados: “Icó possui um grande potencial turístico, especialmente ligado ao patrimônio arquitetônico, que precisa ser melhor explorado. Quando trabalhei na gestão do município, insisti muito nisso. Por lá, existe um acervo histórico belíssimo. Há, no Sobrado Mariinha Graça, a restauração de processos judiciais, com o primeiro deles datado do ano de 1735, e isso pouca gente sabe”, conta. O equipamento é um conjunto de prédios do século XVIII, com centro histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Eventos: Klériston Monte aponta os turismos religioso (festa de São Sebastião, em Ipaumirim, de Senhora Santana, em Iguatu, e do Senhor do Bonfim, em Icó, entre outros) e festivos (Forricó e Iguatu Junino), além do gastronômico, como outras possibilidades de investimento na macrorregião.

O que está em alta? “Setores comercial, de serviços e tecnológico, de forma mais imediata. Mas não podemos esquecer nossa capacidade produtiva na agropecuária e de uma expressiva bacia leiteira, apesar do largo período de estiagem”, que, de acordo com Monte, será potencialmente melhorado com a chegada das águas do Rio São Francisco à região, que já conta com equipamentos do porte de um Açude do Orós, inaugurada já nos idos dos anos 1960.

E em baixa? “Carência de investimento privado de maior monta, na perspectiva da geração de emprego, de renda e de acumulação de capital, que é o escopo do investimento. Este, porém, ainda é acanhado. O último que podemos citar é o grupo Assaí, que está em torno de R$ 50 milhões, da faculdade Vale do Salgado (Univs), em Icó, e a de Medicina, em Iguatu”; Alto nível de informalidade, que, “diante da atual conjuntura, tende a crescer soberbamente”, e Dependência da massa de trabalhadores da esfera pública: “Infelizmente, o único município entre os 13 da região que não possui essa dependência no volume geral de empregos é Iguatu. É aquela máxima: quanto mais pobre a cidade, mais dependente se torna da administração pública”.

Setor industrial: “Está em dificuldade, como no País inteiro, fruto da maneira como foi conduzida a política econômica nos últimos anos, mas não deixa de ser um setor importante, exatamente por sempre agregar maior valor à economia. Precisa urgentemente ser observado com mais acuidade e agressividade. Para se ter uma ideia, Iguatu, em 2012, tinha 13% de suas atividades na indústria. Hoje, está em pouco mais de 8%. Icó está com aproximadamente a metade disso. Acho que este é um dos grandes gargalos da região”.

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