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Startups focadas em mobilidade urbana despontam no Ceará

Excesso de veículos, escassez de opções de transporte público e opções para curtas distâncias são algumas entre tantas discussões urgentes sobre mobilidade urbana no Brasil

Os problemas envolvendo o trânsito de pessoas e a mobilidade, especialmente nas grandes cidades, geraram a necessidade permanente de novas ideias para oferecer aos usuários maneiras de, entre outras coisas, perder menos tempo se deslocando e até mesmo chegar em casa em segurança após um longo dia de trabalho. Tais soluções têm gerado novos negócios – especialmente baseados em startups – a todo momento e, ao contrário do que se pensa usualmente, não são direcionados apenas para as metrópoles.

Segundo dados do IDC (International Data Corporation), em pesquisa realizada no Brasil e no México, divulgada no fim de 2019 e encomendada pelo PayPal, 61% dos brasileiros têm em seu celular dois ou três aplicativos voltados para este fim. Com a disseminação, chegou a hora da diversificação de opções. E foi nesse sentido que quatro empresários cearenses desenvolveram a solução batizada de Tuker.


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A inovação tem inspiração europeia, mas pretende atender a uma demanda comum nas cidades interioranas brasileiras: a falta de opções de locomoção em curtas distâncias. Para ajudar a resolver a questão, o empresário Miguel Andrade conta que não foi difícil imaginar os chamados tuk tuks circulando pelas ruas do interior do Estado. Tratam-se de uma espécie de triciclo, semelhante a um carro de golfe, que pode carregar até três pessoas além do piloto (até 300 Kg) e funciona à base de bateria recarregável.

Um modelo de tuk tuk que será disponibilizado no Ceará

“Em minha última viagem para o exterior, para Portugal, tive a oportunidade de andar de tuk tuk. Por lá, em cidades como Lisboa e Porto, entre outras, o veículo é muito utilizado para os roteiros de turismo, principalmente porque as ruas dos centros históricos das cidades são muito estreitas, e não seria adequado o uso de carros. Então lembrei que muitas cidades do interior do Brasil não possuem transporte público. A grande maioria delas não tem táxi ou Uber, contam apenas com mototáxi, que é muito desconfortável em muitos casos”, conta. Andrade possui família originária do município de Itapipoca e relata que começou a imaginar situações do dia a dia que poderiam ser amparadas pelo uso do veículo.

“Você levaria sua mãe a um médico ou seu filho à escola num mototáxi? Existem também aqueles veículos, as vans, comumente chamadas de lotação, que geralmente são muito caros, pois cobram um valor fixo por viagem. Então, trouxe os tuk tuks ao Brasil, a princípio para ser utilizado em cidades do interior, para pequenas distâncias. Fiz uma pesquisa, encontrei esses tuk tuks fabricados na China e os importei para cá”, completa.

O empresário explica que o carimbo “made in Ceará” do novo serviço não é à toa e deve acabar facilitando as operações da Locatuk – startup formada por duas empresas em quatro municípios inicialmente, todos com alguma identificação com os criadores – além de Andrade, são sócios Deodato Ramalho Neto, Tomás Figueiredo Filho e Sormani Queiroz. “A questão de ser no Ceará é porque sou cearense e gostaria que o primeiro protótipo do negócio estivesse próximo a mim, também para que pudesse fazer as correções necessárias no projeto original sem precisar me deslocar muito. A minha família é de Itapipoca, de outro sócio é de Boa Viagem, tem de Santa Quitéria e a esposa de outro, e ele é o único não cearense, é de Quixadá. E sendo assim poderemos quebrar, junto à municipalidade de cada uma delas, uma série de barreiras de entrada que um novo negócio como esse pode enfrentar”, explica.

Mais informações serão divulgadas pela Lokatuk em breve, quando do lançamento oficial do serviço, mas a empresa adianta aos interessados pelo trabalho de condutor de um veículo da Tuker deverão passar por uma seleção. Os pilotos pagarão um aluguel mensal (via leasing) no valor de R$ 400 pelo triciclo. O leasing se encerra após 36 meses, quando os pilotos poderão optar entre ficar com o triciclo, tornando-se proprietários e pagando um valor residual em torno de R$ 3.500, ou devolver o equipamento e alugar uma versão mais moderna. Será cobrada uma taxa de até 25% de comissão pela intermediação dos serviços de transporte, cuja plataforma oferecerá ainda admissão de mototaxistas.

Segurança colaborativa

Ramon Gadelha Cruz hoje é co-fundador e CEO da startup de inovação tecnológica Drive Labs. Há não muito tempo, porém, foi motorista profissional de aplicativo e, portanto, tem o chamado “lugar de fala” para defender a necessidade de seu produto: o aplicativo DriveSocial, uma plataforma de segurança colaborativa desenvolvida pela startup Drive Labs.

“Tive a oportunidade participar de grupos de motoristas e nisso acabei identificando algumas necessidades mais urgentes e que não eram plenamente atendidas, seja pelo estado, seja pela iniciativa privada”, diz, referindo-se especialmente ao item segurança, que é a base do trabalho desenvolvido.

A partir de sua experiência pessoal, Gadelha identificou os principais problemas e partiu para a criação do aplicativo, que inicialmente era um mapa com alguns pontos dispostos na visualização. Tais pontos representavam a localização de cada motorista que estava com o app aberto. Dessa forma, estava lançado um tipo de “protótipo funcional” do DriveSocial. “Não chegava a ser um MVP (Produto Mínimo Viável), pois ainda não tinha todo o básico implementado. Daí passei a construir o restante do app baseado nas necessidades que eu ia aos poucos identificando e percebendo quanto um app poderia aumentar mais tanto a capacidade de interação entre pessoas de um mesmo grupo como a sensação de segurança”, comenta.

Um MVP do DriveSocial foi lançado em fevereiro de 2017, já contando com itens como geo-posicionamento em tempo real, botão de pânico e suporte a grupos. Gadelha relembra que o MVP foi distribuído no formato APK por links em grupos de WhatsApp, e antes mesmo de ser oficialmente lançado na Google Play (Android), já contava com mais de 100 usuários em Fortaleza. “Em Maio de 2017 lançamos oficialmente a versão 1.0 do app, e daí foi só ladeira acima, ao ponto de hoje termos mais de 130.000 motoristas utilizando o app em todo o Brasil”, diz, citando que o aplicativo, que é gratuito, está disponível em todas as capitais do Brasil, já com boa recepção especialmente em Manaus, Belém, Curitiba e Fortaleza. “Atualmente, estamos crescendo com força em Porto Alegre, São Paulo, Recife e João Pessoa. Também temos adquirido usuários em cidades do interior, principalmente no Sul e no Sudeste”, acrescenta.

Soluções em competição

De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em 2017, já havia um carro para cada quatro brasileiros, número que expressa apenas um entre tantos problemas a serem discutidos dentro do tema nos próximos anos. “Levando em consideração todas as variáveis de distância, trânsito e modais que o cidadão utiliza para se deslocar de casa para o trabalho e vice-versa, ele pode perder até 2h30m, em média, por dia. Horas essas que poderia estar gastando com sua família, lazer, estudos ou outras atividades”, argumenta Ramon Gadelha.

Não são poucas, portanto, as iniciativas que almejam colocar sempre a questão na pauta das discussões, tanto no âmbito das gestões públicas como no da iniciativa privada. São corriqueiros os debates sobre segurança, poluição e, consequentemente, acerca da promoção da saúde – tanto física como mental – dos indivíduos.

Uma dessas oportunidades será oferecida pelo Arduino Camp2020 Experience, evento que ocorre anualmente e simultaneamente em diversas cidades do mundo e este ano está previsto para 16 e 17 de outubro em Fortaleza. Serão palestras que oferecerão informações para desafios propostos aos participantes, no sentido de fomentar-lhes o empreendedorismo por intermédio de soluções criativas e inovadoras. Nesta edição, as ações serão concentradas na mobilidade urbana, em função da busca por um trânsito mais seguro e saudável.

Na capital cearense, haverá uma competição, no formato “maker”, no qual as equipes, compostas por três a quatro participantes – entre profissionais de TI, engenheiros, estudantes ou simplesmente entusiastas – cada, se concentrarão em soluções para categorias diversas para o dia a dia dos inúmeros modais de deslocamento nas grandes cidades.

Conforme um dos idealizadores do Arduino Camp2020 Experience, Marcelinho Silveira, que é startup instructor no Ari Sá College e CEO da StartupExperience, o cenário para inovação na mobilidade no Ceará, não obstante conte com as melhores intenções, ainda carece de impulsionamento. “Temos boas iniciativas locais, a meu ver. Tem um app de transporte para mulheres e outro para pessoas com necessidade de mobilidade, entre outros. Mas todos na mesma pegada da uberização. Ou seja, transportar uma pessoa do ponto A para o B no menor tempo e a um preço possível, o que aparenta ser tudo igual. Não vejo, nesse sentido, o Ceará despontando”, critica ele.

Como saída, destaca Silveira, os CEOs deveriam, antes de criar uma solução ou cópia de uma existente, “pensar na prestação do serviço como um diferencial. Mas, em se tratando de startups, com modelo escalonar em nível global, fica praticamente impossível controlar a forma de se relacionar das pessoas que prestam o serviço, que é o caso do uber”, finaliza.

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