Em um período no qual o acesso a tecnologias se expandiu com demandas tanto do público quanto de empresas, o segmento de startups, que por tradição já atua com o desenvolvimento de inovações, precisou se atualizar para dar conta de todas as solicitações. No Ceará, estado que conta com 187 startups, de acordo com dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), o contexto não foi diferente, com empresas ampliando e até surgindo em meio a pandemia do novo coronavírus.
Sobre o ecossistema cearense do segmento, Delano Macêdo, conselheiro do Ninna Hub, equipamento para aceleração e incentivo de startups, define que o Estado está em processo de estruturação. Em comparação com outros estados do Nordeste, como Bahia e Pernambuco, o Ceará demorou alguns anos para começar de fato a olhar o segmento com atenção, avalia Delano. Contudo, a presença de universidades e escolas técnicas no interior do Estado serão responsáveis por estimular ainda mais o surgimento de profissionais para o setor.
Entre as possibilidades de setores de atuação, o conselheiro destaca a saúde como um potencial, citando como exemplo a presença da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Distrito de Inovação em Saúde do Eusébio, além dos projetos para a região do Porangabussu, que também abrigará um Distrito. ”Há previsão de programas de startup em saúde para lá. Acho que logística é outra área (de destaque), considerando a posição equidistante do Estado no Nordeste. Tem vários centros de distribuição de empresas grandes que estão se instalando no Ceará”.
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Ainda sobre os principais setores no Ceará, Marília Diniz, analista do Sebrae-CE comenta que observa “muita força na área da educação, agronegócio, turismo e saúde. Iniciativas estão rodando bem em todos os setores, na área de energia solar está acontecendo, também tem o pessoal trabalhando com Inteligência Artificial (IA). Várias tecnologias de robotização, games”, elenca. Em estudo intitulado “Mapeamento de Comunidades Emergentes Região Nordeste 2019”, a ABStartups informou que os segmentos de Educação (15%), Saúde e Bem estar (10,6%), Varejo/Atacado (10,6%), Comunicação e Marketing (6%) e Big Data (6%) são os líderes em atuação no Ceará.
O programa StartupCE, realizado pelo Sebrae-CE, é uma das estratégias para incentivar o ambiente no Estado, com a pré-aceleração de iniciativas selecionadas. Marília comenta que a expectativa para o quarto ciclo do projeto, que já beneficiou 70 startups, abra inscrições no mês de setembro. Ainda não há mais detalhes sobre a nova edição do programa.
Marília também reforça que os padrões de averiguação de uma startup, com a hipótese, o problema, a validação da hipótese e teste, aproximam o setor do método científico. Dessa forma, potenciais erros no desenvolvimento ou foco da empresa acabam sendo modificados mais rapidamente, evitando perdas expressivas de investimento.
Ninna Hub
Com foco em ser um espaço para incentivar startups de diferentes segmentos no Ceará, o Ninna Hub, lançado em dezembro de 2019, reúne seis empresas em sua sede. Por conta do período de pandemia, um novo edital para a chegada de novas startups foi adiado. “Íamos lançar edital antes da pandemia, mas veio o lockdown, não fazia sentido fazer se o prédio não estava vivo. Agora, estamos reabrindo a ideia do edital”, conta Delano Macêdo, ainda sem definir a data oficial para a chegada de novas iniciativas. O espaço possui capacidade para até 20 startups.
Atualmente, o Ninna conta com cinco mantenedores. Ou seja, empresas que pagam uma mensalidade fixa, com contrato de um ano, e têm acesso às startups inseridas dentro do hub para estudarem inovações que se apliquem a cada necessidade. De acordo com Delano Macêdo, três deles foram conquistados durante o período de pandemia. Para os próximos meses, o hub pretende angariar novos mantenedores, com o desenvolvimento de programas de inovação mais curtos, com duração de até dois meses.
Para além do contato com empresas privadas, o hub se aproxima da academia, com a presença de uma unidade Centro de Empreendedorismo (CEMP) da Universidade Federal do Ceará (UFC) nas instalações do Ninna. Em contrapartida, o hub contará com um espaço dentro da sede do CEMP, localizado no Campus do Pici. A estratégia é uma forma de fazer com que os estudantes tenham mais facilidade de apresentarem seus projetos e incentivar o ambiente de inovação.
Chatbot Maker
A mudança de foco e escopo faz parte do processo de desenvolvimento de uma startup. No caso da Chatbot Maker, criada em 2017 pelos amigos Thiago Amarante, CEO e CTO da empresa, e Marlos Távora, COO, o objetivo se manteve o mesmo: auxiliar o atendimento e relacionamento de empresas com os clientes de forma automatizada. Com experiência adquirida em três startups anteriores, o aporte de um investidor anjo foi um dos primeiros passos para o surgimento da Chatbot Maker.
A tecnologia de chatbot permite, por meio de um aplicativo de mensagens, que as empresas tenham uma IA para responder às solicitações de forma automática, sem a necessidade de um operador humano no processo. “(Em 2017) Vendíamos um produto que as empresas ainda não entendiam o que podia fazer com ela. Whatsapp ainda engatinhava no Brasil a ponto das empresas entenderem que elas poderiam fazer atendimentos nesses canais”, conta Thiago.
No último trimestre, a Chatbot Maker cresceu 500% em número de clientes, saindo de 23 para 150, com 1,5 milhão de usuários interagindo com os clientes. Hoje, a empresa conta com 13 pessoas na equipe.
“Nós começamos como um serviço de consultoria, depois fomos para um serviço de construção de chatbot, depois fomos para um modelo mais de serviço, com mistura de construção com consultoria e, por último, agora um produto mais caixinha”, detalha Thiago. O CEO se refere a Suri, uma IA já automatizada, disponível nos canais de atendimento dos clientes, como Whatsapp, Messenger (Facebook) e o próprio portal da empresa. Dessa forma, a implantação do sistema é mais rápida e menos onerosa para o cliente, que paga uma mensalidade pelo serviço.
Para os próximos passos da empresa, Thiago explica que está sendo preparada a tese de investimento, pois uma rodada de investimentos é prevista para o próximo trimestre. Também há planos para o desenvolvimento de um ticket de valor mais baixo, voltado para empresas de menor porte, como forma de ampliar o escopo de atuação da startup.
Mercadapp
Durante o período da pandemia, com a necessidade da população de ficar em casa e reduzir aglomerações, o uso de aplicativos para realizar compras em supermercados foi um dos segmentos que se desenvolveu em 2020. Fundada em 2016, a startup Mercadapp já possuía expertise no setor, mas o crescimento da demanda de clientes representou um novo desafio para a empresa. Durante o mês de março, a média de crescimento de vendas pelo aplicativo foi de 400%. Somente neste ano, mais de 50 milhões de reais já foram movimentados na plataforma.
De acordo com o CEO Gabriel Gurgueira, a equipe cresceu durante o período de pandemia, passando de 16 para 41 pessoas. “Como a gente tem uma solução que ganha senso de urgência nesse momento, acabamos tendo um crescimento considerável, que ampliou as margens de crescimento que a gente vinha tendo a cada ano. Nosso desafio foi justamente crescer de forma saudável num escopo tão rápido e como conseguir atender toda a demanda que nos foi deslocada. E conseguimos fazer todos os movimentos adequados, crescer bem no perído, estabelecer boas relações”, explica.
O CEO destaca que um dos diferenciais da Mercadapp é já possuir uma base com mais de 150 mil produtos pronta para os novos clientes, o que reduz a necessidade de realizar novos cadastros. “E a gente ‘pluga’ também a assessoria, que já está embutida na nossa solução completa. Além da tecnologia, tem um assessor que vai estudar o caso do lojista, os resultados, vai sentar com ele ao menos uma vez ao mês, traçar plano, metas, definir quais campanhas podem ser executadas, já entendendo quais campanhas trazem melhores resultados. Indica em um benchmarking como ele está performando em relação a supermercados que temos na nossa base de porte semelhante, isso sem ferir a confiabilidade de nada.”
Com presença em 150 supermercados em 20 estados brasileiros, a meta da empresa para o primeiro trimestre de 2021 é chegar a 200 clientes, com cobertura em todo o território nacional. “A gente observa que houve uma aceleração na maturidade da venda online no Brasil, que Covid infelizmente disparou. Nossa tarefa é ajudar isso da melhor forma, fazendo com que seja mais produtivo pro lojista”, comenta Gabriel.
Logaroo
Criada em maio de 2020, durante o período de pandemia, a startup Logaroo trabalha na perspectiva de ser uma nova atuante no segmento de delivery. Samuel Batista, diretor de tecnologia da empresa, explica que a experiência para entrar no setor veio com o segmento de dark kitchens (restaurantes com funcionamento exclusivo via delivery), no qual os desenvolvedores da Logaroo estavam inseridos desde 2018.
“Nascemos dentro de uma operação de dark kitchens, o Delivery Mall. Então, nossa operação já era mais do que desejadas por estes primeiros clientes de nossa operação. Como estes clientes também possuem outros negócios em outras localizações, nosso serviço acaba sendo bastante recomendado justamente por sanar uma dor que é bastante recorrente dentre os operadores de dark kitchens: a entrega dos pedidos”, comenta Samuel.
Apesar do setor ter uma concorrência bem estabelecida, a startup já conseguiu resultados relevantes, com 60 mil entregas realizadas em 50 bairros de Fortaleza, movimentando mais de R$ 2,6 milhões. “Nos diferenciamos dos grandes players que também oferecem a logística pelo fato de garantirmos a disponibilidade de agentes de entrega para atender a alta demanda nos mais diferentes horários, já que as operações de dark kitchens onde operamos já garantem aos entregadores uma grande oferta de entregas. Dessa forma, alcançamos uma eficiência logística que traz ótimas avaliações aos restaurantes atendidos.”
Nos próximos meses, a startup tem como foco ampliar a equipe operacional, além de viabilizar atuações em outros estados do nordeste.