A economia do Ceará como um todo possui diversos atributos conhecidos, mas a composição econômica do Estado, na verdade, está longe de ser algo homogêneo. Pelos quatro cantos dos 148.886 Km² de território, há peculiaridades que escondem – ou evidenciam – certas características políticas, demográficas e sociais, entre outras, que, justamente por serem únicas, podem […]

Sertões de Crateús e Inhamuns: os melhores negócios para investir

A economia do Ceará como um todo possui diversos atributos conhecidos, mas a composição econômica do Estado, na verdade, está longe de ser algo homogêneo. Pelos quatro cantos dos 148.886 Km² de território, há peculiaridades que escondem – ou evidenciam – certas características políticas, demográficas e sociais, entre outras, que, justamente por serem únicas, podem interessar sobremaneira os olhares dos investidores mais atentos.

Em 22 de outubro de 2015, foi publicada, no Diário Oficial do Estado, a Lei Complementar nº 154, que criava as 14 regiões de planejamento do Ceará com o objetivo de aperfeiçoar as atividades de planejamento, monitoramento e implementação de políticas públicas de forma regionalizada. Assim, o Estado ficou dividido em 14 regiões de planejamento distintas, seguindo a metodologia do estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

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Tendo como referência esses estudos, a TrendsCE elaborou um mapeamento resumido dessas regiões que pode auxiliar na prospecção de novos negócios de acordo com as particularidades de cada lugar. Trata-se de um panorama local a partir da visão de dois personagens de relevância e com larga experiência na economia dessas 14 regiões. Alguém que já tenha feito ou faça parte dos quadros da gestão pública, da iniciativa privada ou da academia vai mostrar bons indicativos do que está em evidência no setor produtivo e possa render bom retorno para possíveis investidores.


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Confira, a seguir, na visão dos nossos “consultores”, algumas das características que fazem as regiões do Sertão dos Crateús e Sertão dos Inhamuns, cada uma a sua maneira, uma boa opção para investir. 

SERTÃO DE CRATEÚS

Como acontece em boa parte do interior do Estado, a região do sertão dos Crateús possui uma característica quase tão marcante quanto seu permanentemente tórrido clima: a predominância dos serviços na economia local. Atualmente, esse setor responde por 37,6% da economia local. só perde para a administração pública (42,5%), segundo consta em números do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), e empregava 2.636 pessoas, segundo dados de 2017. Pode ser uma deixa para o turismo na região que em grande parte faz divisa com o Piauí. O segmento começa a ganhar fôlego, de carona no ecoturismo, nos sítios históricos existentes e até na antiga ferrovia que corta seu território. 

Na produção industrial, o destaque por lá nos últimos anos vai para a construção civil, com os incrementos de 187,2% na construção de edifícios e 33,6% nas obras de infraestrutura, ambos registrados em 2018. Números que podem oferecer um certo alento a uma região que ainda tem muito a melhorar para estar apta a receber cada vez mais oportunidades de negócios.

Na agropecuária, que responde por 12,9% da economia local, famosa anteriormente por suas produções de mamona e algodão, a região tenta se estabelecer como importante bacia leiteira nos dias de hoje. Enquanto isso, busca qualificar melhor seus habitantes através de novas instituições de ensino superior, que ultrapassou a marca de 2 mil matrículas para a graduação em 2018. Confira, a seguir, mais detalhes desse panorama econômico da região com o advogado crateuense Alexandre Maia, presidente da Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) dos Sertões de Crateús. Ele ressalta que “a área de influência do município vai além do Estado do Ceará”.  

Riqueza: A região também é conhecida como Vale do Poti, por contar com um grande manancial. “Na época do Ciclo do Couro, há cerca de 250 anos, ia-se naturalmente para onde havia água, e o Rio Poti ainda hoje mata nossa sede”, conta Maia, sobre o curso d’água de 570Km de extensão que nasce no município de Quiterianópolis (no Sertão dos Inhamuns), na altura da Serra dos Cariris Novos e deságua no Rio Parnaíba, no Piauí. Nele está o Cânion do Poti, que oferece uma ótima oportunidade de investimento no segmento do turismo.

Turismo: Reserva Serra das Almas, o Mirante Delta (em Ipueiras), Complexo da Colina (também em Ipueiras) e uma das maiores reservas de caatinga do mundo são algumas das atrações turísticas de caráter natural da região. Mas o mais ponto mais destacado, aponta Maia, é mesmo o início do Cânion, especialmente em sua entrada, no Boqueirão do Oiticica. “Se trabalhado, há um potencial muito grande (no turismo)”, comenta ele, citando como um “privilégio” o fato de a região contar, em seu território, com uma entrada para a Serra da Ibiapaba. 

Passeio cultural: O presidente da OAB na seção do Sertões de Crateús faz um resgate histórico ao lembrar da chegada da primeira linha férrea à região, em meados de 1912. “Foi um divisor de águas, tanto para a cidade como para a região do Sertão de Crateús. Então, pode-se dizer que o transporte ferroviário por aqui tem essa marca, de matriz do desenvolvimento, já há mais de cem anos”. Maia sugere uma pequena viagem de trens, nos moldes do que há em cidades como Tiradentes e São João Del Rey (MG) e Garibaldi (RS). “Uma ideia é oferecer um passeio similar, se dirigindo a essa região do cânion, a cerca de 50 quilômetros da cidade de Crateús”, explica. Outras atrações são as fazendas centenárias no município de Independência, o ponto mais alto do Estado, localizado no Pico da Serra Branca, (a 1.154 metros de altitude), em Monsenhor Tabosa

Educação: Em 2011, houve a chegada de um campus da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Durante muito tempo tivemos um acanhamento em termos de opções para estudos universitários, mas isso fez com que muitos estudantes que antes iam buscar formação acadêmica lá fora acabassem ficando por aqui mesmo”, conclui Maia. 

Recursos hídricos: O advogado lamenta a ausência de investimentos em infraestrutura, citando o Açude Carnaubal, que foi construído há cerca de três décadas, um manancial de quase 90 milhões m³ que à época ofereceu alguma segurança hídrica, mas que hoje está saturado, com ligações de redes de água e esgoto. “Infelizmente, em nosso País, o planejamento é sempre feito para um curto prazo, dentro de uma visão de um grupo político. O Brasil ainda carece muito de políticas de estado, ou seja, que permaneçam independentes do governo vigente”. 

Agro: Além de importante bacia leiteira, em municípios como Santa Quitéria, Monsenhor Tabosa, Tamboril, Catunda, Ipueiras, Nova Russas, Independência, Crateús e Poranga, o advogado aponta a produção de feijão, tendo a cidade de Novo Oriente como destaque no setor, e a década de 1970 como marco para a cultura do algodão. “Isso gerou uma cadeia comercial muito forte, que veio a sofrer um forte impacto com a crise econômica da década de 1980, com hiperinflação e tudo mais, numa espécie de refreamento desse desenvolvimento”.

Construção civil: Setor cresceu mais em função dos loteamentos do programa Minha Casa, Minha Vida, em um boom da construção civil, com grandes depósitos de material de construção, “mas mais concentrado no setor comercial. Contando com obras portentosas, como reativação da BR-226 e um possível novo tronco ferroviário (na Transnordestina), teríamos, nesses modais, algo muito mais promissor para o desenvolvimento da região”, opina.  

SERTÃO DOS INHAMUNS

Com apenas cinco municípios integrantes, o Sertão dos Inhamuns é uma das duas regiões de planejamento do Estado – juntamente com o Maciço de Baturité – que possuía população predominantemente rural no último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010. O fenômeno de abandonar o campo em busca das cidades, registrado historicamente em todo o Ceará e intensificado nas últimas décadas, enfrenta maior resistência em Aiuaba, Arneiroz, Parambu, Quiterianópolis e Tauá, numa taxa de urbanização que ficou em 46% em relação aos 75% do Ceará como um todo.

A região, entretanto, conforme levantamento do Ipece, divulgado em agosto último, não possui nenhum município em  condição de alta-vulnerabilidade em aspectos climatológicos, agrícolas e sociais. Por lá, a famosa manta do carneiro de Tauá – cidade mais importante, com a segunda maior extensão do Estado, com população atual estimada em 59 mil habitantes – e o queijo coalho são atrações. Porém há boas possibilidades para quem quiser investir nos ramos de educação, mercado imobiliário, energias renováveis e autopeças, de acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tauá, Ailton Maciel de Souza. 

Olhar deve ser de produtor: “Temos, hoje, um carneiro, cujo corte especial é conhecido no Brasil todo e até fora do País. Em Fortaleza mesmo, há muitos restaurantes que exaltam o carneiro de Tauá, com grandes empresários buscando matrizes por aqui”. E estes, no entanto, não potencializaram mais essa qualidade, segundo Maciel, por uma questão que seria eminentemente cultural: “Por aqui, precisamos de um olhar não de criador, mas sim de produtor. Se criarmos carneiros só por paixão ou por sobrevivência, sem essa visão profissional economicamente, vamos contar ainda com muita gente gostando da carne daqui, mas não vamos conseguir explorar todo o potencial. Entretanto, se vier alguém com uma maturidade empreendedora, dará uma grande salto, um legado para a região”, projeta, acrescentando que havia um estudo para essa cultura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que, porém, “esfriou muito nos últimos anos”. Entretanto, o dirigente afirma ver já alguns criadores com “mentalidade produtora” se organizando rumo a uma profissionalização.

Reforço natural: O sol abrasador e os ventos constantes também são trunfos da região. “Temos um recurso natural muito importante, que é o sol, e aqui foi instalada a primeira usina comercial de energia fotovoltaica da América Latina”, lembra, referindo-se ao equipamento construído pela empresa MPX – hoje administrada pela Eneva – em 2011, que conta com 4680 painéis fotovoltaicos geradores de 1 MW de energia elétrica. “Temos o melhor território – com terrenos de baixo custo para implementação de projetos – para exploração de energia solar do Brasil e já há, inclusive, muitos equipamentos domésticos (Geração Distribuída) instalados”, conta. Maciel também cita a energia eólica como boa oportunidade na região, que apresenta, segundo dados do Atlas Eólico e Solar do Estado, o maior potencial dos sertões cearenses, com aproximadamente 6 GW

Educação e estrutura: “Nossa região é muito bem servida na área da educação, especialmente no ensino fundamental. Com a vinda da escola profissionalizante para a cá, houve um crescimento no potencial de um mercado muito amplo também para o ensino médio”, comenta. O presidente do CDL de Tauá informa que a entidade fez um levantamento, há cerca de quatro anos, para conhecer o número de estudantes que moravam fora da região, participando de cursos preparatórios para concursos e ensino superior. “O êxodo econômico é muito grande. Se boto meu filho para estudar fora, consequentemente, terei de pagar despesas com moradia, com supermercado e combustível em outro lugar. Veja o caso do Cariri, como foi importante para o desenvolvimento da região possuir boa estrutura para a educação. Se trago isso para Tauá, aqueço o setor imobiliário, o comércio, o de autopeças e assim por diante”.  

Carência e oportunidade na pista: Para o dirigente, setor automotivo pode ser melhor explorado, com a implementação dos chamados autocenters. “Tauá e as cidades adjacentes, hoje, estão à margem da terceira maior BR do País, que é a 020. Há, por aqui, um largo trânsito na ligação de Crateús ao Cariri; de Parambu a Fortaleza. Só o Detran da região registra algo em torno de 23 mil veículos; sete mil carros e 16 mil motos. Só que cidades como Parambu, Aiuaba e Arneiroz não contam com oficinas ou autocenters de grande porte, e seus habitantes acabam tendo que buscar outras cidades para esses serviços”, informa. 

Ecoturismo: “Se pudermos contar com algumas parcerias, sejam públicas ou privadas, temos o Serrote de Quinamuiú, que já despertou o interesse de alguns empresários e já inspirou projetos públicos. É uma área de preservação. Se fizessem uma trilha ecológica por ali, uma caminhada para subir a serra, daria para explorar bastante economicamente”. Maciel ressalta que, em 2016, o CDL recebeu 14 caravanas de todo o Estado e duas, inclusive, de fora, uma de MG e outra do RS, para conhecer ações exitosas do município, do carneiro ao queijo, da energia solar ao ecoturismo.   

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