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Hub aéreo do Ceará é diferencial do Estado na atração de investimentos

O Aeroporto Internacional de Fortaleza tem o diferencial complementar à cadeia logística não só do Ceará como das regiões Norte e Nordeste. FOTO: Fraport/Divulgação

Quando o Aeroporto Internacional de Fortaleza passou a ser operado pela iniciativa privada, em janeiro de 2018, e, menos de cinco meses depois, foi implementado o hub aéreo capitaneado pela GOL, Air France e KLM, os holofotes do mercado se acenderam sobre o turismo. Afinal, só a Fraport Brasil, responsável pelo terminal aeroportuário, injetou R$ 1 bilhão na economia cearense. Quantia aplicada nas obras de modernização e ampliação do aeroporto. Ao mesmo tempo, essas três companhias áreas renderam mais de 17 mil voos para o Estado apenas no primeiro ano. Consolidava-se, dessa forma, um novo vetor econômico capaz de atrair mais investimentos e colocar o Ceará em um patamar diferenciado no Norte e Nordeste do país.

E nem poderia ser diferente. O transporte aéreo gera inúmeros benefícios aos consumidores e à economia em geral. Vai além de conexões rápidas entre cidades e países. Estabelece pontes que permitem o fluxo econômico de bens, serviços, pessoas e ideias. Principais fatores impulsionadores do crescimento econômico.

“Tomando como exemplo os 20 anos de operação da companhia aérea TAP no Ceará, cerca de 1.980 empresas foram abertas por portugueses no Estado, como consequência da ligação entre Lisboa e Fortaleza. Esse é o maior demonstrativo do que o transporte aéreo faz e pode fazer. Atrai empresas de pequeno a grande porte e nos mais variados setores”, corrobora o secretário de Turismo do Ceará, Arialdo Pinho.

Impactos vão além do turismo

Na sua avaliação, com o desenvolvimento da operação da Air France, KLM e GOL, responsáveis diretas pela implementação do hub aéreo do Ceará, e ainda com a chegada posterior da Air Europa e demais companhias aéreas que estão por vir, setores como o agronegócio, a indústria da aviação, energias renováveis, comércio e serviços em geral devem atrair, a reboque do turismo, cada vez mais investimentos estrangeiros diretos para o Estado.

“Com mais voos, as pessoas passam a conhecer o Ceará e, consequentemente, descobrem as oportunidades de negócios que temos”, enfatiza Pinho.

Nesse contexto, dados da Secretaria de Turismo do Ceará (Setur CE) apontam que, em 2019, a movimentação de passageiros nacionais e internacionais chegou a aproximadamente 5,89 milhões de pessoas. Ou seja, 20% a mais se comparado ao registrado em 2017, ano anterior à criação do Hub Aéreo do Ceará. Olhando mais especificamente para a movimentação internacional de passageiros, o acréscimo foi de 125%, totalizando 467 mil pessoas.

Em contrapartida, em termos financeiros, o Ceará fechou 2019 com uma receita turística direta de R$ 11,74 milhões e renda gerada de mais de R$ 20,54 milhões, volumes 30% superiores aos registrados ao fim de 2017, ano imediatamente anterior à implementação do hub aéreo do Ceará.

Números que saltam aos olhos e fazem o doutor em economia e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jair do Amaral, chamar a atenção para os impactos e oportunidades diretos, indiretos e induzidos ou catalizadores oriundos do modal aéreo. 

Até porque, afirma, deve-se levar em conta que o hub aéreo do Ceará irá funcionar como um novo polo de serviços, de porte internacional, nacional e regional, dentro do espaço geográfico de Fortaleza.

“Os impactos diretos, poderão ser observados por meio dos empregos e salários a serem gerados diretamente pelos serviços oferecidos pelo empreendimento. Já indiretamente, os impactos ocorrerão, em primeiro lugar, sobre o ambiente de negócios de Fortaleza tendo em vista que a Fraport se coloca entre as empresas líderes mundiais em matéria de administração aeroportuária”, avalia.

Sendo assim, emenda Amaral, “ela produzirá externalidades positivas sobre empresas de serviços locais, no que se refere à qualidade e profissionalização dos serviços prestados. Para as empresas locais do setor serviços, sobretudo no turismo, ela servirá como um benchmark de padrão internacional”.

“Em um segundo momento, os efeitos indiretos recairão em todos aqueles segmentos que manterão relações comerciais e contratuais com o universo de atividades diretas do aeroporto, mas também sobre as cadeias de serviços de fornecimento e de manutenção. Neste caso, as oportunidades estarão abertas às empresas fornecedoras de alimentos e bebidas prontos, assim como de manutenção técnica das aeronaves e veículos de apoio”, fala.


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Dentre os segmentos a serem beneficiados, o economista destaca o abastecimento de combustível, inclusive, podendo repercutir positivamente sobre a refinaria local da Lubnor.

Ao mesmo tempo, conclui Amaral, o hub aéreo do Ceará terá impactos induzidos ou catalizadores sobre os segmentos ligados ao turismo e ao entretenimento locais. “Para estes, o Ceará conta com muitas praias e equipamentos hoteleiros, mas também com o Beach Park e o Centro de Eventos, o qual poderá impulsionar o turismo de negócios”, explica.

“Para todos esses impactos e oportunidades há efeitos multiplicadores positivos em termos de negócios e lucros, como também de emprego, renda e impostos estaduais e municipais; com grandes potenciais para alavancar o desenvolvimento local”, completa o economista.

Trocas comerciais tendem a aumentar

Mais voos para o Ceará significam também um aumento significativo nas trocas comerciais do Estado, tanto em termos domésticos como internacionais. De acordo com levantamento feito pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), a partir dos dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a movimentação de cargas na primeira metade de 2020 já coloca o Aeroporto Internacional de Fortaleza na 7ª posição no ranking nacional. 

Ao mesmo tempo, em que o terminal aeroportuário ocupa a segunda posição no Nordeste (perdendo apenas para Recife), subindo ao pódio na primeira colocação quando nos referimos apenas à movimentação de cargas internacionais no Nordeste. 

“O que evidencia os impactos positivos do hub aéreo do Ceará na ampliação de conexões internacionais”, justifica Júlio Cavalcante, secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Sedet.

De acordo com ele, analisando o período de 2015 a 2019, segundo os dados da Anac, a taxa de crescimento acumulada dessa movimentação no Aeroporto Internacional de Fortaleza foi igual a 109%.

Somente em 2019, comparado ao ano anterior, Fortaleza sobressai-se com um crescimento de 44,9% da movimentação de cargas internacionais, o que corresponde a cerca de 11 mil toneladas. 

Enquanto isso, no Brasil, o que se viu foi uma queda de 10,3%. “Isto revela que, frente a situação do País, o Aeroporto de Fortaleza se mostra com dinamismo mais significativo, com perspectivas bem positivas”, destaca Cavalcante.

Atrelado a esse dinamismo, ele chama a atenção para os dados da Anac que apontam ainda para um crescimento expressivo da quantidade de pousos e decolagens internacionais no aeroporto de Fortaleza – 33,9% a mais em 2019 ante 2018. Em 2018, primeiro ano do hub aéreo do Ceará, comparado a 2017, esse incremento foi maior ainda, igual a 62,9%.

“Dessa forma, além da expansão da movimentação em quilos de carga, há evidências do crescimento do fluxo aéreo relacionado ao mercado internacional”, pontua.

Além disso, emenda o secretário executivo da Sedet, observa-se também que Fortaleza foi a cidade com maior crescimento (68%) de ofertas de voos domésticos e internacionais no Brasil em 2019.

Diferencial logístico para o Ceará

“Juntamente com o hub aéreo do Ceará, o posicionamento geográfico de Fortaleza em relação à Europa, América do Norte e África, reforça a cadeia logística estadual”, afirma Cavalcante.

Para ele, o Aeroporto Internacional de Fortaleza tem, hoje, um papel importante, diferencial e complementar à cadeia logística não só do Ceará como das regiões Norte e Nordeste, no que tange à importação e exportação de mercadorias. “O aeroporto de Fortaleza gera conectividade com o Porto do Pecém e do Mucuripe, com as estradas estaduais e federais e ao modal ferroviário mais a frente”, justifica.

Conforme disse, o desenvolvimento do modal aéreo no Ceará gera novas oportunidades para a importação e exportação de bens de maior valor agregado. Estes podem ser recebidos e distribuídos por meio dos demais equipamentos logísticos estaduais. “Especialmente se falarmos em termos do agronegócio, com frutas e legumes com alto valor agregado”, destaca.

Centros de distribuição e montagem na mira do Estado

Segundo Júlio Cavalcante, o crescimento do e-commerce em todo o Norte e Nordeste, a instalação do hub aéreo do Ceará e a posição geográfica do Estado fizeram com que grandes players logísticos procurassem a Sedet, interessados em abrir centros de distribuição de mercadorias no Ceará.

“Estamos em negociação com essas empresas. Dessa forma, as mercadorias chegariam ao Ceará e rapidamente poderiam ser distribuídas para as regiões Norte e Nordeste por meio do casamento dos modais aéreo, marítimo e terrestre existentes no Estado. Isso é um grande diferencial”, reforça.

Nesse sentido, Cavalcante estima que, caso esses centros de distribuição saiam do papel, estaríamos falando em investimentos diretos, no curto prazo, de cerca de R$ 500 milhões na economia estadual.

Ainda de acordo com secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Sedet, outra oportunidade que surge para o Ceará com o hub aéreo é a possibilidade de instalação, nas dependências do Aeroporto Internacional de Fortaleza, de indústrias de montagem de equipamentos microeletrônicos. “A exemplo do que já ocorre em outros aeroportos mundo afora. Esse tipo de indústria não depende de muito espaço, não polui e é mais um caminho a fim de dinamizar a economia cearense”, projeta.

O papel dos aeroportos regionais

Estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), coordenado pelos economistas Witalo Paiva e Nicolino Trompieri, em 2018, logo após implementação do hub aéreo do Ceará, já o apontavam como uma das potencialidades e diferenciais do Estado para a atração de investimentos.

Segundo o documento, já era claro que os ganhos de conectividade poderiam favorecer a economia cearense em termos de turismo e no crescimento do comércio internacional, tanto em termos de exportação como importação. 

Entretanto, o estudo destaca a importância do hub aéreo do Ceará na viabilização dos aeroportos regionais e empreendimentos turísticos. Principalmente no que diz respeito aos aeroportos de Juazeiro do Norte e Jericoacoara.

“Quando falamos no aeroporto de Jericoacoara, certamente estamos nos referindo ao aumento da demanda turística na região. Entretanto, quando olhamos para o aeroporto de Juazeiro do Norte, além do turismo, fica clara a possibilidade de incrementar a movimentação de cargas na região sul do Ceará e nos estados vizinhos”, avalia o secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Sedet, Júlio Cavalcante.

Um fator que também contribui para isso, destaca, é a posição geográfica de Juazeiro do Norte em relação a outras capitais do Nordeste, como Recife e Maceió. São apenas 500 quilômetros por via terrestre até cada uma delas.

Hub aéreo do Ceará: perspectivas

Por enquanto, devido à pandemia da Covid-19, todos os atores envolvidos na implementação do hub aéreo do Ceará, evitam projeções quanto ao ritmo do seu desenvolvimento. Notadamente, aumento da malha aérea, movimentação de pessoas e cargas e investimentos em infraestrutura aeroportuária. 

“A malha aérea é ajustada mensalmente e a expectativa é encerrarmos o ano com pouco menos de 40% da movimentação que tínhamos antes da pandemia” detalha a Fraport Brasil.

Para a empresa, a recuperação do setor aéreo a patamares pré-coronavírus deverá acontecer somente em um horizonte de três a quatro anos.

“Nossa expectativa é retornar aos patamares pré-covid em 2025. A perspectiva é de uma retomada gradual e lenta, sendo que a quantidade de voos internacionais demore mais a aumentar, de acordo com as permissões para entrada de estrangeiros em cada país”, expõe a Fraport.

O fato é que explorar outros países é uma coisa que as pessoas não vão deixar de fazer. “Provavelmente, façam menos por um ano ou dois. Com a crise econômica que está ligada à pandemia, algumas pessoas não vão ter a mesma condição financeira para sair de férias, mas quando a economia voltar a se recuperar, esse segmento vai crescer como cresceu antes”, emenda.

Na avaliação do secretário de Turismo do Ceará, Arialdo Pinho, a meta de alcançar a casa de seis milhões de turistas nacionais e internacionais por ano no Ceará deve continuar. Assim como a atração de um novo voo internacional a cada ano. “Estávamos negociando um voo para a China com apenas uma escala, diminuindo o tempo de viagem, assim como para Londres. Mas isso, agora, deverá demorar um pouco mais”, afirma.

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