Aproximadamente 765 mil Km² de área alcançada, um contingente populacional superior a 20 milhões de pessoas e 630 cidades, incluindo aí duas capitais estaduais (São Luís e Teresina) e cinco classificadas como regionais, nos estados do Ceará, Piauí e Maranhão, chegando à parte do oeste de Pernambuco, Tocantins e Pará. Este é o poder de influência de Fortaleza. O que lhe confere o título de metrópole mais influente do Norte e Nordeste do Brasil, segundo a pesquisa Regiões de Influência das Cidades (REGIC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A edição mais recente, na verdade a quinta, com dados de 2018, define a hierarquia dos centros urbanos brasileiros e delimita as regiões de influência a eles associados. É nessa pesquisa em que se identificam, por exemplo, as metrópoles e capitais regionais do País e qual o alcance espacial da influência delas.
Na prática, o resultado serve de subsídio para a implementação de novos negócios, em especial para decisões de localização, seja de serviços públicos, de distribuição de empresas ou de investimentos no território, levando em consideração as relações espaciais entre os centros urbanos e a atração diferenciada que metrópoles, a exemplo de Fortaleza, possuem para o acesso da população a bens e serviços.
E mesmo considerando apenas o Nordeste, apesar de Recife ser a maior metrópole em influência em número de cidades (720 ao todo), Fortaleza sai na frente em área subordinada, registrando quase o dobro do território influenciado pela capital pernambucana – 765 mil Km² ante 345 mil Km².
Do Ceará para o mundo
“Estamos falando de uma influência que compreende mais de duas vezes a população do Ceará e praticamente cinco vezes o território do Estado”, chama a atenção o vice-presidente Nordeste da Federação Brasileira de Câmaras de Comércio Exterior, Rômulo Alexandre Soares, ao falar sobre a ascendência da capital cearense no âmbito das regiões Norte e Nordeste do País.
Conforme disse, uma influência que ganha ainda mais força tendo em vista o fato de Fortaleza se colocar, atualmente, como o ponto principal de ligação dessas duas regiões com o mundo. “A cidade se apresenta como um grande hub aéreo, marítimo e digital, o que aumenta o efeito multiplicador da sua força regional”, complementa.
As vantagens competitivas de Fortaleza
Mas o que coloca Fortaleza em posição tão privilegiada em relação às regiões Norte e Nordeste do País?
A resposta para esta questão, expõe Paulo Barbosa, coordenador de Projetos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, ultrapassam os dados da pesquisa do IBGE. Na verdade, repousa sobre importantes indicadores e diferenciais apresentados pela cidade.
“Em primeiro lugar, Fortaleza detém a menor distância do país entre os continentes norte-americano, europeu e africano. Tanto que somos, hoje, o principal hub digital do Brasil com o mundo. São 15 pontos de conexão submarina, sendo 12 de fibra ótica”, destaca. O que justifica, explica ele, o programa de atração de empresas de tecnologia para Fortaleza, com foco nos data centers.
“Criamos especificamente na Praia do Futuro o nosso hub internacional de comunicação. Temos ali instalada a Angola Cables, empresa de telecomunicação que implantou na capital do Ceará o seu Data Center, assim como uma base de desenvolvimento e colocou em operação três sistemas submarinos de fibra ótica que circulam no Oceano Atlântico. Um deles ligando os Estados Unidos, mais especificamente a cidade de Boca Raton, no sudoeste da Flórida, a Fortaleza, em parceria com o Google”, fala.
Além do hub digital, emenda Barbosa, a capital cearense abriga o maior hub aéreo do Norte e Nordeste, em um aeroporto internacional ampliado e com capacidade de recepção de passageiros dobrada.
Ao mesmo tempo, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) se configura como um hub marítimo, por abrigar dois importantes portos brasileiros. A saber o Porto do Mucuripe e o Porto do Pecém.
“Além da grande movimentação de cargas nos dois portos, distribuídas por todo o Norte e Nordeste, temos no Porto do Mucuripe um terminal de passageiros moderno, capaz de receber grandes navios de cruzeiro, incrementando o turismo. Ao passo que a mão de obra com maior qualificação que trabalha no Pecém mora em Fortaleza, o que faz com que essas pessoas gastem sua renda na cidade. Assim como os escritórios de negócios das empresas do entorno acabam se localizando na capital”, explica Barbosa.
Polo de serviços
Na avaliação do coordenador de projetos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, esses diferenciais fazem da capital cearense um polo de serviços regional. “Cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade são oriundos do comércio e dos serviços e esta participação tende a aumentar cada vez mais”, afirma.
Ainda de acordo com ele, a política de atração de investimentos para Fortaleza é fortemente voltada para os serviços e o capital intelectual. “Nossa política de incentivos fiscais para novos negócios tem apostado no setor de telecomunicações, aviação e empresas de teleatendimento, capazes de gerar muitos empregos. A gente trabalha para aproveitar esse potencial de Fortaleza”, conclui Paulo Barbosa.
Centro de distribuição regional
A posição privilegiada de Fortaleza no âmbito do espaço territorial do Norte e Nordeste do Brasil, sua influência como metrópole nessas regiões e a conexão internacional estabelecida por meio dos hubs aéreo, marítimo e digital, têm feito com que empresas de peso do segmento de distribuição de bens e serviços apostem suas fichas na capital do Ceará.
Segundo Júlio Cavalcante, secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedet), a pasta está em negociação para a concretização desses negócios o que resultará na instalação de centros de distribuição de mercadorias no Ceará. “Algumas das empresas interessadas em abrir centros de distribuição no Estado trabalham com a importação de mercadorias. Operações que seriam feitas via Fortaleza e distribuídas para todo o Norte e Nordeste”, conta.
Em cifras, Cavalcante estima que estaríamos falando em investimentos diretos, no curto prazo, de cerca de R$ 500 milhões na economia do Ceará.
Fato que, na sua avaliação, vai ao encontro da atual posição de Fortaleza como metrópole de maior influência do Norte e Nordeste do País, segundo a pesquisa do IBGE.
“Esse potencial da capital cearense como um ponto de atração de negócios, nacionais e internacionais, só reforça as estratégias do governo estadual a fim de fortalecer os hubs aéreo, marítimo e digital. Por meio de Fortaleza temos a capacidade de atender as duas regiões recebendo e distribuindo produtos, assim como os demais estados têm no Ceará um canal para escoar as suas mercadorias”, expõe.
Não foi por acaso, lembra Cavalcante, que “o Porto de Roterdã, na Holanda, estabeleceu uma parceria com o Porto do Pecém, na RMF; e a Fraport escolheu o Aeroporto de Fortaleza para atuar no Brasil”.
Ao lado da conexão física, firmada por meio dos hubs aéreo e marítimo, emenda o secretário executivo da Sedet, não se pode esquecer a importância e a abrangência da conexão digital, que coloca o Ceará como o estado com maior cobertura banda larga do país e ainda como a terceira localidade com a maior concentração de cabos submarinos do mundo.
“Todos os cabos de telecomunicações que vêm da América Latina, por exemplo, passam por Fortaleza. Daqui interligamos todo o Norte e o Nordeste”, comemora.
Ao mesmo tempo, o projeto do Cinturão Digital, que integra o Ceará por meio de oito mil quilômetros de cabos de fibra ótica, ainda beneficia mais três estados. “Na implantação do Cinturão Digital, parte foi concedida a três importantes provedores, os quais compartilham essa conexão banda larga além das divisas do Ceará, chegando ao Pará, na Região Norte, e ainda a estados do Centro-Oeste”, relata Cavalcante.
Ainda de acordo com ele, se levarmos em conta que a pesquisa se baseia em dados de 2018, primeiro ano de operação do hub aéreo do Ceará, “provavelmente, na próxima edição, Fortaleza apresente uma influência regional ainda maior”.
Articulação é fundamental
A posição de Fortaleza como a maior metrópole de influência regional para o Norte e Nordeste do País, reforça o vice-presidente Nordeste da Federação Brasileira de Câmaras de Comércio Exterior, Rômulo Alexandre Soares, o olhar que se deve ter sobre o contexto da sua região metropolitana.
“Estamos falando aí nas conexões políticas e econômicas estabelecidas entre Fortaleza e as cidades do entorno. É necessário que haja uma discussão dos desafios comuns. Não se pode olhar apenas para o município de Fortaleza se queremos tirar proveito de todo esse potencial”, afirma.
Segundo Soares, “a ausência de uma coordenação entre os municípios da grande Fortaleza é sem dúvida uma das mais visíveis ineficiências do nosso processo de desenvolvimento regional, qualquer que seja a perspectiva, visto que o corredor do desenvolvimento da grande Fortaleza passa pela vital necessidade de sinergias entre, pelo menos, os municípios vizinhos do Eusébio, Aquiraz, Maracanaú, São Gonçalo do Amarante e Caucaia. A Autarquia da Região Metropolitana de Fortaleza – AUMEF, criada em 1975 e extinta em 1992, faz falta”, conclui.