Uma relação que cresce “forjada no aço”. Assim podem ser qualificadas as transações comerciais entre Ceará e Canadá nos últimos anos. Esse insumo não é o único a se destacar no vai e vem de mercadorias entre ambos, mas os números apontados pelo Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) a partir de 2016 indicam […]

Mercado Ceará – Canadá: meta é diversificar após consolidação do aço

Por: Pery Negreiros | Em:
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Uma relação que cresce “forjada no aço”. Assim podem ser qualificadas as transações comerciais entre Ceará e Canadá nos últimos anos. Esse insumo não é o único a se destacar no vai e vem de mercadorias entre ambos, mas os números apontados pelo Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) a partir de 2016 indicam a consolidação desse trânsito.

Entre algumas oscilações, a média de exportações que saíram do Estado para aquele país foi de US$ 41 milhões no período de 2015 a 2019, de acordo com a Câmara de Comércio Brasil – Canadá (CCBC). Em 2020, esses números atingiram seu ápice, com crescimento de 293,8% nas aquisições de produtos do Ceará. Isso refere-se à soma de US$ 101,9 milhões apenas de janeiro a julho deste ano, conforme o levantamento do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).


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As importações por sua vez tiveram uma média de US$ 42 milhões de 2015 a 2019. Destaque para os produtos hulha betuminosa, não aglomerada e outros desperdícios e resíduos de ferro ou aço. Com relação à ascensão das placas de aço que saíram das águas quentes do Oceano Atlântico rumo à parte mais extrema da América do Norte, a virada ocorreu precisamente a partir de agosto de 2016, quando a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) começou a enviar sua produção para outros países, nos navios que atracavam no Terminal de Múltiplas Utilidades (TMUT) do equipamento.

No acumulado de agosto/2016 a setembro/2020, o Canadá representou 4,04% de toda a movimentação do segmento, o equivalente a 440.214 toneladas, segundo informa o CIPP. Se o recorte for apenas de janeiro a setembro deste ano, o volume foi de 9,53%, com 182.075 toneladas.

“Certamente, o incremento significativo deve-se ao início da produção de placas pela CSP. A logística é relativamente simples, visto que os navios que fazem tal transporte são os chamados ‘tramps’ ou avulsos, sem rotas fixas, e que vão aonde a carga está e se destina. Antes do aço, as exportações cearenses para o Canadá somavam apenas cerca de 1,5%”.

Heverson Souza, especialista em Comércio Exterior e Logística Internacional, citando dado do CIN

Importador voraz

O caminho para os portos e aeroportos canadenses não está aberto apenas para os produtos siderúrgicos. De fato, parte majoritária do incremento de 264% nas aquisições de produtos oriundos do Ceará – e seus US$ 103,9 milhões – nos primeiros oito meses de 2020 se devem ao aço. Os dados são do último estudo do Ceará em Comex, divulgado mensalmente pelo CIN. E a novidade pode estar na ampliação da diversificação da pauta de exportações.

“A grande notícia é não só o aumento das coisas que a gente já exportava, mas principalmente, quando a gente observa mais de perto, poder perceber essa ampliação da variedade de produtos que estamos exportando para o Canadá. Principalmente na parte de alimentos e bebidas”.

Paulo de Castro Reis, diretor de relações institucionais da CCBC

Castro Reis ressalta que produtores de frutas – em especial o melão -, verduras, legumes e alimentos em geral têm bons motivos para crer em aumentos significativos na procura de um mercado que sempre está disposto a estabelecer novas e duradouras parcerias. “Acho importante, e é um trabalho que a Câmara tem feito também, procurar um mix de produtos, porque o Canadá é um dos maiores importadores do mundo todo. E a gente tem que aproveitar mais isso e tem trabalhado justamente para encontrar novas oportunidades de negócios para outros produtos brasileiros”.

A questão da sazonalidade é fator de fundamental importância para oferecer uma certa perenidade aos negócios entre o Estado e o segundo maior país em extensão territorial do mundo, característica que, a propósito, faz com que possua uma economia bem segmentada e muito relacionada às estações climáticas.

“Por exemplo, no agronegócio, eles sabem que a produção deve ocorrer na primavera e no verão, pois quando chega o inverno, é tudo neve. Têm que importar de algum lugar nessa época, até mesmo aquilo que produzem. Há pautas que se abrem no inverno de lá. E há também o caso de produtos que eles não produzem de forma alguma, como é a castanha, que o Ceará pode vender o ano inteiro”, detalha Castro Reis, citando ainda o melão, a água de coco, pescados e outras frutas frescas, bem como produtos do artesanato, como mercadorias cearenses com portas abertas o ano inteiro no Canadá.

Questionado a respeito da possível perenidade das boas relações entre o Estado e o país norte-americano, ou seja, se há boas perspectivas acerca do futuro, especialmente envolvendo as exportações que partem daqui para lá, o professor Heverson Souza é taxativo: “não tenho dúvida que sim. Além da demanda por aço, o Canadá busca sempre alimentos, principalmente os ditos orgânicos, couro, granito, móveis rústicos e tem muito a oferecer em TI, trigo, cevada e energia renovável. É uma nação multicultural e com excelente ambiente bancário e empresarial; (a relação) tem tudo para dar certo e prosperar”. 

Setores em ascensão

Dois outros setores que merecem atenção para as oportunidades, conforme Castro Reis, são o de infraestrutura e inovação tecnológica. No primeiro, embora ainda não haja uma parceria sacramentada entre a Câmara e o Estado, “as portas estão abertas”. “A gente tem, por exemplo, uma comissão de investimentos e já fizemos eventos com os estados de São Paulo e Paraná. Este mês vamos fazer com a Bahia, falando das oportunidades de para os estados no sentido de poder apresentar isso aos canadenses. Investimentos nas áreas de infraestrutura, de energia, mobilidade urbana e saneamento básico”, diz, revelando que há uma atenção especial de empresas canadenses para estados do Nordeste. 

Com relação aos negócios de base tecnológica, o dirigente da CCBC cita o empreendedorismo e o fomento às startups como áreas promissoras na nova fase do relacionamento entre Brasil e Canadá, o que naturalmente pode ir se aplicando ao Ceará. “Inclusive, no mês de dezembro, a gente vai ter umas sessões específicas durante a São Paulo Techweek, que está organizando um evento que se chama Canada House, com vários seminários e centros de inovação do Canadá e do Brasil trocando experiências. Haverá também um concurso de startups brasileiras, no qual a ganhadora vai levar como prêmio uma internacionalização no Canadá”, informa.

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