Neste momento, dois eventos podem ter um grande impacto no mundo globalizado. De um lado a pandemia do coronavírus. Do outro, embora geograficamente mais localizado, as eleições presidenciais nos Estados Unidos (EUA). Notadamente pelo peso da sua economia e a forte inter-relação comercial e de cooperação com muitos países, entre eles o Brasil. Nesse contexto, o […]

Eleições nos Estados Unidos e reflexos nas relações com Ceará

Por: Anchieta Dantas Jr. | Em:
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Neste momento, dois eventos podem ter um grande impacto no mundo globalizado. De um lado a pandemia do coronavírus. Do outro, embora geograficamente mais localizado, as eleições presidenciais nos Estados Unidos (EUA). Notadamente pelo peso da sua economia e a forte inter-relação comercial e de cooperação com muitos países, entre eles o Brasil. Nesse contexto, o Ceará não está de fora e segue diretamente ligado ao resultado da disputa. Afinal, os Estados Unidos são o principal parceiro comercial do Estado, representando, em termos de valor, 36% de suas exportações no acumulado de 2020. Ao mesmo tempo, além das relações comerciais, outros projetos de investimentos estão na agenda do governo cearense, que recentemente vem estreitando contatos com a Embaixada norte-americana no Brasil e o seu Consulado Geral no Nordeste. 


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Dessa forma, a TrendsCE ouviu o secretário para Assuntos Internacionais do Estado do Ceará, Cesar Ribeiro, assim como especialistas em comércio exterior, a fim de mostrar os possíveis reflexos do resultado das eleições nos Estados Unidos sobre a economia cearense. Em linhas gerais, todos são taxativos ao afirmar que mais do que uma questão política, as relações entre o Estado e o país são estratégicas, onde o fator econômico, certamente, levará vantagem.

“Independentemente de ser eleito Joe Biden ou Donald Trump, acredito que as relações entre o Brasil e os EUA são institucionais, são estratégicas. A partir do momento que o Brasil se mostre um bom parceiro para determinado assunto com os EUA, ele vai ser avaliado e vai ser contatado. Isso sempre aconteceu. E no que diz respeito ao Ceará, pelo grande poder de articulação que o governador Camilo Santana tem, nós não vemos nenhum tipo de problema nas relações comerciais e de cooperação, independentemente do resultado das eleições naquele país. Até porque, os contatos via Embaixada norte-americana e Consulado são muito bons”, avalia Ribeiro.

Conforme disse, “o Ceará poderá continuar trabalhando e seguindo com boas oportunidades com os EUA. Mas, obviamente, olhando o cenário a nível de governo federal. De como as tratativas vão ser feitas, ou seja, como as relações e os acordos vão ser trabalhados pelo governo brasileiro a partir do resultado das eleições naquele país”. 

“Trump tem um canal mais próximo com o presidente brasileiro. Por outro lado, Biden tem na pauta as questões ambientais, que tem alguns conflitos com o pensamento que o Brasil tem. Porém, acredito que, independentemente disso, onde houver bons projetos e oportunidades os dois países vão sentar-se à mesa e vão discutir visando oportunidades de negócios para ambos”, pontua o secretário.

Segundo Ribeiro, o objetivo do governo estadual é cada vez mais fomentar as boas relações internacionais, “questão em que o Ceará vem trabalhando com muita propriedade nos últimos anos, haja visto as parcerias que já foram efetivadas”. “Nesse sentido, os EUA são um grande parceiro. Focamos em uma aproximação cada vez maior com eles, tendo em vista acordos de cooperação e oportunidades de investimento”, afirma.

Recentemente, mais precisamente em agosto deste ano, ele e o governador Camilo Santana estiveram reunidos, virtualmente, com o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, e a cônsul para Assuntos Políticos e Econômicos do Consulado Geral dos Estados Unidos em Recife, Catherine Griffith.

“No primeiro contato com o embaixador dos EUA, o governador colocou o Estado à disposição e este se mostrou muito interessado. Obviamente, já houve desdobramentos. Há duas semanas, fizemos uma nova reunião com o Consulado Geral, com a sua equipe técnica, e envolvemos, nesse primeiro momento, as secretarias estaduais de Turismo e Desenvolvimento Econômico, para que trabalhemos oportunidades de parcerias e acordos de cooperação e investimentos. Em um segundo momento, vamos envolver também a secretaria de Saúde, assim como todas aquelas que tiverem interesse em acordos de cooperação com os EUA, agregando valor a projetos para o Estado do Ceará”, revela.

A importância do mercado brasileiro e do Ceará

Na geopolítica regional, o Brasil é a maior economia latino-americana. Razão pela qual, frisa o economista e consultor na atração de investimentos internacionais, Alcântara Macêdo, o país detém o maior mercado consumidor do continente. 

“A geopolítica brasileira coloca o país em posição de destaque na América Latina. Temos a maior reserva cambial do continente, assim como um mercado gigantesco para os EUA”, expõe o especialista.

No que tange ao Ceará, ele aponta para o potencial de ampliação da balança comercial (exportações mais importações) do Estado com os norte-americanos, onde o principal produto exportado para os EUA é o aço. “O setor siderúrgico é um dos nossos diferenciais para aumentar e tornar o resultado da balança comercial com os EUA superavitário (exportações maiores do que as importações)”, pontua.

Macêdo também destaca o papel da Zona de Processamento de Exportações do Estado, a ZPE Ceará, nas relações comerciais e de investimentos com os EUA. “Nós temos a única ZPE em funcionamento no Brasil. Isso é outro diferencial do Estado no comércio exterior do Brasil com os norte-americanos, que podem se beneficiar com as vantagens aduaneiras oferecidas pelo empreendimento, desburocratizando o comércio exterior”, afirma.

Nesse contexto, emenda o consultor, vale destacar o porto, localizado junto à ZPE, formando o Complexo Industrial e Portuário do Pecém. “O Ceará está na esquina do mundo. A localização estratégica do Porto do Pecém estreitou a distância do Brasil com os Estados Unidos, assim como com a Europa, Norte da África e até com a Ásia, via o Canal do Panamá, na América Central. Esta é outra vantagem que coloca o Ceará em posição de destaque nas relações comerciais com os EUA, devendo manter o seu interesse em continuar fazendo negócios com o Estado”, destaca.

Para Macêdo, independentemente do resultado das eleições norte-americanas, seja o vencedor o candidato democrata ou o republicano, a questão econômica prevalecerá. “As vantagens comparativas nas relações comerciais é que dão o tom. Estão acima do aspecto político. Claro, que a política pode pesar, via medidas protecionistas. Entretanto, não importa se Biden ou Trump, ambos lutam pela economia do seu país. Nada está acima do que o mercado considera um bom produto em termos competitivos. O Brasil sempre estará no jogo, em posição de destaque. E o Ceará tem o seu aço, os seus calçados e a confecção”, expõe.

Principal parceiro comercial do Estado

Os EUA são o principal parceiro comercial do Ceará no comércio exterior. Segundo levantamento do Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), a corrente de comércio (exportações mais importações) entre o Estado e os EUA, apesar da pandemia do coronavírus, já soma US$ 1,06 bilhão no acumulado de 2020 (janeiro a setembro).

Nos nove primeiros meses deste ano, o Ceará exportou para os EUA US$ 512 milhões. Embora, o valor represente uma redução de quase 31% em relação a igual período do ano passado, o país ainda possui a maior representatividade no que se refere aos países de destino das exportações cearenses, sendo responsável por comprar cerca de 36% do total vendido pelo Ceará para o exterior. Os principais produtos de interesse dos norte-americanos foram: aço, equipamentos para geração de energia eólica, castanha de caju e água de coco.

Já do lado das importações, as compras nos Estados Unidos somaram US$ 547 milhões, o que corresponde a um aumento de 3,6% no acumulado de 2020, se comparado com 2019. O país foi responsável por fornecer 30,6% do valor total comprado no exterior pelo Ceará. Parceiro de longa data, os EUA são o principal fornecedor de combustíveis minerais e vegetais e fibras de carbono.

Atualmente, o Ceará está entre os dez principais estados brasileiros exportadores para os EUA, na 9ª posição, ocupando a mesma colocação nas importações. No Nordeste, o Estado está na segunda posição nas exportações para os norte-americanos, perdendo apenas para a Bahia. Nas importações, o Ceará é o terceiro da região, atrás do Maranhão e de Pernambuco. Para a gerente do CIN, Karina Frota, o cenário positivo nas relações comerciais entre o Ceará e os EUA, independentemente de quem vencer as eleições presidenciais naquele país, é irreversível. 

“Embora, hoje, estarmos diante de um cenário político com possibilidade de  mudança do chefe de Estado dos EUA, o Ceará tem todo um histórico de aproximação com os norte-americanos e acredito que a agenda econômica é suprapartidária, devendo ficar de fora  da questão política e da relação entre o chefe de estado brasileiro e o próximo presidente dos EUA. Apesar de o governo brasileiro seguir a presente política internacional norte-americana, devido à ideologia de direita compartilhada com o presidente Trump. Acredito, inclusive, em uma evolução nas relações comerciais, visto que os EUA são e sempre foram um grande parceiro comercial do Ceará”, fala.

Nesse sentido, a gerente do CIN destaca o recente grande acordo comercial celebrado entre o Brasil e os EUA, depois de dois anos de negociação. De acordo com ela, pode ser dividido em três pontos. Mas o principal deles tem foco na simplificação do comércio entre os dois países, reduzindo barreiras alfandegárias e simplificando procedimentos burocráticos.

“Isto tende a reduzir os custos de importação e exportação, na adoção de boas práticas comerciais, tornando nossos produtos mais competitivos. Este acordo é um desejo antigo do setor produtivo brasileiro e, por isso, me faz pensar que só temos a evoluir nas relações comerciais com os EUA”, conclui Karina.

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