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Relações entre Ceará e Argentina são intensificadas com retomada de atividades

Em 2020, o país vizinho teve participação de quase 10% das importações feitas pelo Ceará nos oito primeiros meses do ano FOTOS: Adobe Stock

As relações entre Ceará e Argentina já possuem uma base das mais fortes e a intenção de ambas as partes é vê-las ampliadas o quanto antes. E um sinal preponderante dessa tendência está na chegada da Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Brasil Argentina no Ceará, que está completando um ano de sua criação oficial, e conta com o esforço de seus impulsionadores no objetivo de potencializar as interações entre os parceiros comerciais já de longa data.

“Atualmente a Argentina está entre os dez maiores parceiros comerciais do Ceará, com predomínio na exportação de produtos da indústria calçadista, frutas, produtos farmacêuticos, ferro fundido e importação de cereais, no caso o trigo, que é beneficiado pelos moinhos que atuam no Estado”, expõe Cesar Ribeiro, secretário para Assuntos Internacionais do Governo do Estado do Ceará. 


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Para ajudar a confirmar a argumentação do dirigente, em 2020, o país vizinho teve participação em quase 10% das importações feitas pelo Ceará nos oito primeiros meses do ano, ocupando o terceiro lugar nesta classificação de nações. Dos produtos que saem de lá destinados ao nosso mercado, de acordo com dados do Ceará em Comex, estudo periódico realizado pelo Centro Internacional de Negócios do Ceará (CIN), na edição de agosto deste ano, o maior representante é o trigo, responsável por boa parte dos US$ 138 milhões comprados pelo Estado oriundos daquele país e insumo vital para as indústrias locais de panificação, confeitaria e massas. Outro artigo que desembarca bastante por aqui é o milho, voltado para o abastecimento do setor avícola.

Na mão oposta, o setor de calçados mantém seu destaque entre os que mais vendem para os argentinos. Em 2019, deteve cerca de 51% de participação nos US$ 59 milhões arrecadados com exportações para aquela nação. Em 2020, manteve representatividade semelhante, de acordo com o Observatório da Indústria, da Federação das Indústrias do Estado (Fiec). Uma aposta que também começa a se avolumar está no setor de confecções, tendo o algodão como carro-chefe (alta de 38% de 2019 em relação a 2018). 

Mas a aproximação institucional entre o Estado e o país integrante do Mercosul se intensificou nos últimos dois anos, após a iniciativa de criação da Câmara, cuja ideia começou a ser gestada pelo Sistema Fecomércio, em parceria com a Fiec. O passo inicial foi a assinatura do termo de instalação, em dezembro de 2018. A iniciativa prosseguiu com a recepção de uma missão com empresários argentinos para uma rodada inaugural de negócios, realizada em julho de 2019. No evento, nove empresas argentinas com atuação nos mercados de vinhos, azeites e alimentos orgânicos se apresentaram a 14 empresários regionais.

De acordo com Marcos Pompeu, que atua como secretário executivo de instalação da Câmara, em dezembro de 2019, depois de algumas visitas técnicas, já estava agendada para meados de março de 2020 uma segunda rodada de negócios. Junto com ela, haveria uma semana de gastronomia argentina, com palestras, cursos, workshops, entre outras atrações, além da intenção de formar uma primeira missão de negócios do Ceará ao país parceiro. “Foi quando veio a Covid e tivemos o ano interrompido. Ainda estávamos nos reconectando, muita coisa já voltou, mas aí veio uma segunda onda na Europa e o Brasil ainda não saiu da primeira”, lamenta Pompeu, também secretário executivo das Câmaras dos Conselhos Empresariais do Sistema Fecomércio. 

À espera do retorno a pleno vapor dos trabalhos, quem vai presidir a Câmara é o empresário do setor alimentício César Roma. Ele demonstra entusiasmo com o que está por vir. “Tenho visto que o cônsul geral do Nordeste (Alejandro Funes Lastra) vem buscando fazer a maior parte das negociações com a Fecomércio. A coisa está se encaminhando, embora não em uma melhor situação por conta do momento. Mas as perspectivas para o futuro são muito interessantes. Até porque a Argentina tem muita coisa para comprar da gente e para vender também, principalmente frutas e vinhos”, destaca Roma, enfatizando que sua liderança se dará com enfoque no varejo cearense em busca de parcerias com indústrias argentinas.

“A partir dos acordos comerciais já estabelecidos no âmbito do Mercosul, Ceará e Argentina possuem uma série de oportunidades de interação que podem ser exploradas para ampliar ainda mais essas relações para outras áreas estratégicas. Um exemplo disso está no agronegócio, que pode ser potencializado numa via de mão dupla, gerando oportunidades tanto de exportações dos nossos produtos cearenses como de importação dos de origem argentina”, complementa o secretário Cesar Ribeiro.

Intercâmbios

César Roma elenca algumas das conquistas recentes obtidas pelo canal estabelecido com o vizinho sul-americano, tais como um acerto entre uma rede de supermercados local para a aquisição de frutas; a conclusão de uma primeira negociação por parte de uma distribuidora de vinhos cearense e conversações de mais oito empresas argentinas para oferecer, além da bebida, doces ao mercado cearense. No setor de laticínios, Girão cita a iniciativa da empresa Betânia, que foi à Argentina em busca de nova tecnologia para desenvolver produtos com maior qualidade no Ceará. “Só não está acontecendo ainda porque o governo argentino proibiu que os técnicos viessem ao Brasil por conta da pandemia. Então, algumas coisas estão suspensas e outras estão na agulha para acontecer, mas sem uma definição de datas”, contextualiza.

Para o empresário, entretanto, a facilitação de acordos comerciais não deve ser limitada às divisas cearenses, citando como exemplo positivo uma situação em que a nova câmara ajudou a viabilizar negócios entre uma indústria farmacêutica de São Paulo e os vizinhos.

 “As coisas vão crescendo, gerando novas situações e quando se tem bom conhecimento em sua área, a gente não se limita em fazer coisas só com o Ceará. O que a Argentina e o Brasil podem fazer juntos como um todo, não só com o Ceará, para que possamos melhorar esse relacionamento com essas câmaras? A tendência é só melhorar, e é para todos”, comenta Roma. 

Câmaras estrangeiras 

A proposta de instalar, sob os auspícios do setor produtivo cearense, câmaras de comércio, indústria e turismo pode, de fato, ser ampliada. Marcos Pompeu lembra que, por ocasião do evento Ceará Global de 2019, representantes do Sistema Fecomércio, Fiec e Sebrae/CE assinaram um termo de parceria em apoio à criação de um fórum de câmaras estrangeiras no Estado. Seriam dez entidades dessa natureza no Estado para os seguintes países: Argentina, Portugal, Estados Unidos, Holanda, Uruguai, Paraguai, Itália, Espanha, China (com negociações ainda em andamento) e França.   

Na Argentina, outro braço desse intercâmbio pode ser concretizado tendo como ponto de partida a qualificação humana e profissional. “Na área institucional, ações temáticas de educação, encaminhadas juntamente com a Secretaria da Educação (Seduc) no Consulado Geral da Argentina em Recife, podem evoluir futuramente para parcerias como estágios e intercâmbios”, informa o secretário Cesar Ribeiro.

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