O Ceará é o principal produtor de flores e plantas ornamentais do Nordeste e sempre ocupou papel de destaque no mercado nacional, hoje entre os cinco maiores. No apogeu que o setor viveu no Estado, entre os anos de 2010 e 2015, também obteve notoriedade no mercado externo. À época, com uma média de US$ 5 milhões exportados ao ano, chegou a ostentar a segunda posição nas vendas externas brasileiras desses produtos.
Hoje, com foco majoritário no mercado interno, o setor é um dos que foi mais negativamente impactado pela pandemia da Covid-19. Amargou retração da ordem de 60% na produção e venda de flores de corte em 2020, seu principal produto. Contudo, daqui para frente, as conjeturas são as mais animadoras possíveis. Além das condições naturais – solo e clima favoráveis -, em 2021, o setor no Ceará conta com a implementação de dois projetos capazes de promover a sua retomada: a introdução de novas variedades e o cultivo em ambientes protegidos.
As informações são do empresário e produtor Gilson Gondim, presidente da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais do Ceará. Como resultado desses esforços, espera-se que, em um horizonte de até cinco anos, o Estado possa voltar à posição de outrora, quando viveu seus dias de glória.
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“O setor de flores e plantas ornamentais é um dos mais promissores no Ceará. Temos solo, clima favorável, poucas chuvas e a luminosidade necessária para obter excelentes produtos. Para se ter uma ideia, diferentemente de outras regiões do Brasil, temos uma média de apenas quatro meses de chuvas por ano, restando oito meses para se dedicar à atividade. Além do que, conseguimos cerca de 3.200 horas de sol anualmente, garantindo a luz mais do que necessária para o cultivo. Sem contar que a rentabilidade é altíssima, pois obtemos uma receita de mais de R$ 100 mil por hectare/ano, muito acima de outras culturas, gastando o mesmo volume de água. É uma cultura com valor agregado muito maior”, justifica Gondim.
Na sua avaliação, com o projeto de introdução de novas variedades, o Ceará obterá um grande diferencial a fim de consolidar o cultivo de flores e plantas ornamentais. “Esse é um mercado que gosta de novidades. Dessa forma, esse projeto de introdução de novas variedades aqui no Estado tende a ser transformador”, estima.
Conforme disse, a implementação dessa iniciativa era para ter ocorrido ainda em 2020, o que acabou adiada para 2021, por conta da pandemia. O projeto de introdução de novas variedades conta com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), do Sebrae, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“Por meio desse projeto, pretendemos testar novos produtos e ver o que pode funcionar aqui no Ceará, de acordo com nossos microclimas, aumentando a variedade oferecida pelo Estado e, consequentemente, a produção e as vendas”.
Gilson Gondim, presidente da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais do Ceará
Ainda de acordo com ele, não se pode esquecer a abertura do Mercado das Flores, no Parque Rio Branco, em Fortaleza. “Esse mercado aproximou os produtores do consumidor final e se configura, ainda, como um grande showroom do que o Ceará tem a oferecer. Depois de alguns meses fechados, devido ao isolamento social, o Mercado das Flores reabriu e já registra uma demanda muito forte. Até o fim do ano devemos duplicar as vendas em relação ao ano passado. Os produtores estão animados”, comenta.
De acordo com Gondim, os ânimos também estão relacionados à retomada do setor da construção civil no pós-pandemia, que vem demandando mais flores e plantas ornamentais para o paisagismo.
Cultivo em ambientes protegidos
Outra aposta para a retomada do setor de flores e plantas ornamentais no Ceará é o projeto de um centro de cultivo em ambientes protegidos, capitaneado pela Sedet. Segundo o secretário executivo do Agronegócio da pasta, Sílvio Carlos Ribeiro, a proposta já está em análise e deve começar a ser implementada já em 2021.
“O cultivo em ambientes protegidos é capaz de promover a produção com o menor uso de água e defensivos agrícolas, aumentando a produtividade e minimizando ainda a ocorrência de pragas”.
Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Sedet
Essa tecnologia, aponta Ribeiro, tem como principais expoentes países como a Holanda, Espanha, Israel e México. “Países que têm dado consultoria na área, inclusive com alguns produtores cearenses já estabelecendo parcerias com eles”, afirma.
Ao mesmo tempo, emenda o secretário executivo do Agronegócio da Sedet, o cultivo de flores em ambientes protegidos permitirá a expansão da produção para outras áreas do Ceará, além do ambiente de serra e da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Interiorização dos empregos
Por sua elevada intensidade no uso de mão de obra, a expansão da produção de flores e plantas ornamentais tende a contribuir para a manutenção das populações rurais no campo. Portanto, configura-se como uma atividade de grande importância social.
“Para se ter uma ideia, é um setor que chega a empregar oito pessoas por hectare cultivado, bem acima do registrado em outras culturas, a exemplo da fruticultura, que emprega apenas uma pessoa por hectare”, frisa Ribeiro. “É uma atividade capaz de ajudar a desconcentrar a geração de empregos da Região Metropolitana de Fortaleza”, completa.
Atualmente, segundo estimativas da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais do Estado, existem cerca de 200 produtores no Ceará. O setor gera aproximadamente dois mil empregos diretos, subindo para a casa dos cinco mil postos de trabalho, quando consideramos o que é gerado indiretamente.
Ainda de acordo com a entidade, as principais áreas produtoras são o Maciço de Baturité, a Região Metropolitana de Fortaleza e a Serra da Ibiapaba. Aproximadamente uma centena de espécies são cultivadas no Ceará, com destaque para as rosas, gérberas, gipsófilas, folhagens em geral como samambaias, lança de são Jorge e ainda a rosa do deserto e orquídeas de corte.
Logística e divulgação
Tanto Gondim, da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais, como Ribeiro, da Sedet, reforçam mais um diferencial do Ceará para escrever um novo capítulo na produção de flores e plantas ornamentais no Estado e a consequente retomada das exportações aos patamares do passado. A saber, a posição geográfica privilegiada em relação aos Estados Unidos e Europa, principais compradores externos para o produto cearense, e, sobretudo, a atual cadeia logística.
Ambos se referem ao Porto do Pecém e ao hub aéreo do Ceará, com um novo aeroporto ampliado e modernizado. “Principalmente o hub aéreo, que preencheu um hiato logístico muito grande que tínhamos no passado. Agora é diferente. A logística para o escoamento da produção do setor de flores está muito melhor”, afirma Ribeiro.
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“De fato, tínhamos expectativas muito positivas antes da pandemia, pois com a ampliação da malha aérea, devido ao hub, a tendência era de que as exportações de flores do Ceará pudessem ser tracionadas por meio de uma logística mais facilitada. Mas, infelizmente, com a Covid-19, os nossos voos internacionais foram praticamente todos suspensos. Então, essa expectativa fica para o ano que vem”.
Karina Frota, a gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec)
Neste momento, avalia Ribeiro, o que falta é a divulgação dos produtos, trabalhando os mesmos junto aos mercados já abertos para o agronegócio cearense. “Além dos Estados Unidos e Europa, temos, agora, a Ásia, principalmente a China, e os países árabes que já importam vários produtos do Estado e podem comprar também flores e plantas ornamentais”, conta. “O potencial é enorme e o mercado é bem favorável. Poderemos atrair muitos compradores e investidores”, emenda.
Mercado nacional versus exportações
Quando se fala em produção de flores e plantas ornamentais, os holofotes ainda se voltam para as exportações, mas é para o mercado nacional que o setor atualmente mais vende. Segundo Karina Frota, do CIN, um fator que contribuiu para as vendas se voltarem para o mercado doméstico, “é que com a crise mundial, no fim da década passada, houve uma desaceleração do próprio mercado internacional. Dessa forma, o Ceará, assim como os demais estados produtores, passou a escoar a sua produção de flores para o próprio país, já que o mercado externo estava extremamente desfavorável”.
Com relação ao mercado nacional, detalha Gilson Gondim, da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais, “estamos falando de uma receita de R$ 9,6 bilhões por ano na comercialização dos produtos no Brasil. O mercado brasileiro é muito grande. Enquanto isso, as exportações, no momento, representam apenas 0,25% desse valor”. Conforme disse, ainda assim o setor pretende retomar a receita das exportações registradas na década passada.
No que diz respeito ao Ceará, no acumulado de janeiro a outubro de 2020, o Estado já exportou US$ 102.253, cerca de 30% acima do registrado em igual período do ano passado. Os dados foram compilados pela Sedet, com base nas tabelas do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). “Os números estão melhorando”, aponta Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio na pasta.
Os principais mercados externos para os produtos da floricultura cearense, detalha Gondim, ainda são os Estados Unidos e a Europa, com destaque para a Holanda, que funciona como uma espécie de grande distribuidor no continente do que ali chega. Já no cenário nacional, o Ceará vende os produtos para as regiões Norte, Sul e Sudeste. Ressaltando que também há uma demanda muito grande no próprio Estado dado a força do setor de eventos.
“No momento de apogeu das exportações de flores no Ceará, nós recebemos profissionais estrangeiros aqui no Estado com o objetivo de qualificar a nossa produção, quando eles trataram sobre técnicas de cultivo mais adequadas. Foram muitas dicas, as quais foram fundamentais para a produção, contribuindo para um momento realmente áureo e que resultou no Ceará como o segundo maior exportador de flores do Brasil. Portanto, temos grandes possibilidades de retomar a exportação, até porque o Estado continua um dos principais polos produtores desse setor no Brasil”, conclui Karina Frota.