Quantas são as ideias que nascem boas, mas por não encontrarem o suporte e os canais necessários, acabam sendo deixadas pelo caminho? Os dados provavelmente ainda são impossíveis de mensurar, mas o que se sabe é que, com o contínuo avanço tecnológico, as formas de oferecer um fluxo positivo à inovação ganharam opções. Uma delas é a Plataforma Revive Negócios, ferramenta que, ao auxiliar na tarefa de transformar ideias em negócios, estimula o empreendedorismo e a inovação, gerando desenvolvimento social e econômico para os cearenses de forma sustentável.
Viabilizada por uma parceria entre o Instituto Iracema Digital e as Secretarias do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet) e da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece) do Governo do Ceará, a plataforma tem a proposta de impulsionar soluções voltadas para negócios por intermédio da integração entre academia, governo e sociedade. Ela está contida no modelo de negócio desenhado pela Sedet e com mentoria, consultoria e laboratórios oferecidos pela Secitece.
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A iniciativa tomou forma a partir do aperfeiçoamento do Revive Covid, da gestão estadual, uma espécie de cadastro de ideias, surgido no contexto da pandemia, com foco no combate ao coronavírus. “Percebemos que havia várias pessoas de posse de ideias, e muitas vezes entre a concepção e o uso da inovação, o apoio era muito informal”, relembra Mauro Oliveira, professor do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e colaborador do Instituto Iracema Digital (responsável pela plataforma), além de participante do Aracati Digital (que responde pela implementação do Revive Negócios).
A partir dali, foi criada uma versão acadêmica pelos alunos do departamento de Computação do IFCE. “Essa plataforma tinha um potencial muito grande para a demanda da Sedet com relação à retomada da economia. Então, eles (gestores das secretarias executivas do Trabalho e Empreendedorismo e Comércio Serviços e Inovação, lotadas na pasta) nos procuraram dizendo que gostariam muito de contar com uma versão que permitisse a conexão entre produtores de ideias, pessoas muitas vezes sem acesso às instituições, e possíveis consumidores daquela proposta”, continua Oliveira.
Articulação
São ideias nos mais diversos formatos, desde protótipos, passando por processos metodológicos e produtos nas mais diversas áreas, tais como saúde, economia, educação, comunicação e tecnologia. Como explica a gestora de Tecnologia Sedet, Cairamir Arruda, a proposta se baseia em ter o governo como um facilitador do tráfego seguro e eficiente das ideias para o mercado.
“A gente concebeu a plataforma de modo que facilite uma integração entre o Governo, com a visão do desenvolvimento econômico, ajudando na articulação entre empresas, universidades e startups e sendo esse intermediador para impulsionar ideias boas que possam ser transformadas em negócio. A plataforma conta com esse impulso, não tendo o poder público como uma mãe, ali bancando, mas articulando e fazendo com que a própria sociedade e as empresas ponham valor e assumam aquilo como possibilidade de investimento”, explica, reforçando a união entre investidores, empresários, universidades, laboratórios e centros de desenvolvimento, dentre outros, que pode auxiliar não só a parte técnica do projeto como a financeira.
Para que a ideia possa ser introduzida na plataforma, demonstra Oliveira, são necessários dois passos:
1. O usuário se cadastra na plataforma e sua ideia passa a ficar visível para o público;
2. Informações ficam disponíveis para a apreciação da Sedet, que faz uma espécie de triagem dessas ideias, para, em seguida, entrar em contato com os idealizadores no sentido de tentar transformar a ideia em negócio.
O professor do IFCE opina que a ferramenta passará a ser uma boa alternativa para licitações públicas. “Nem todo mundo tem conhecimento ou paciência para observar os detalhes dos editais. E a plataforma oferece a opção de, em vez deles, contarmos com um mecanismo mais fácil, que é um cadastro”, acrescenta. A partir desse momento, o usuário pode entrar em contato com interessados ou ter a chance de contar com representantes governamentais para aconselhamentos, sejam tecnológicos ou de ordem comercial, de empreendedorismo. “Às vezes, o cara tem uma ideia e está precisando de um apoio. Então a Sedet surge para fazer esse link, coisa que ele jamais saberia se não fosse pela plataforma”, detalha.
Caminho inverso
Joaquim Caracas é dono de uma empresa de engenharia chamada Impacto Protensão. O empresário fundou sua empresa de engenharia em 1996 e no ano seguinte foi aos Estados Unidos para trazer uma tecnologia chamada cordoalha engraxada. É nada mais que um cabo de aço plastificado, como um fio elétrico, que é utilizado em estruturas de concreto. Foi o pioneiro no Brasil a usar essa tecnologia. “A partir dali, resolvemos focar em inovação nas estruturas de concreto. E começamos a desenvolver processos para dar agilidade e maior produtividade nas obras”, conta ao descrever como criou na empresa um departamento, há cerca de 15 anos, específico para pensar inovações, ajudado por estudantes e jovens profissionais. Caracas afirma que das 42 patentes registradas até 2018 no Ceará, nove eram de sua empresa, que tem mais 23 em andamento.
Com a Impacto Protensão atuando nessa linha, e tendo ciência do Renove Negócios, Caracas se cadastrou na plataforma, onde já se encontram disponíveis os detalhes de um aperfeiçoamento para sua criação, o PavPlus. Consiste em um novo sistema de laje nervurada, um conjunto de peças moduladas, com vários tamanhos, que promete uma economia em torno de 30% na utilização de concreto, aliviando o peso próprio da estrutura. Tudo com direito a um aplicativo de celular para conferência da instalação.
Com a invenção patenteada, Caracas partiu para os Estados Unidos novamente, desta vez para vender a ideia no mercado americano, fazendo o caminho inverso. “Em 1997, fomos para lá trazer uma tecnologia e agora estamos voltando para melhorar todo o processo que aprendi com eles, que ainda era feito de forma bastante artesanal. Transformamos essa montagem em uma coisa simples, não é preciso alguém especializado para montar esses cabos, basta um servente”, exalta.
O sistema, informa, já está sendo largamente utilizado em todos os estados do Nordeste, em São Paulo, Rio e Brasília. “Todo esse material é produzido no Ceará, no Distrito Industrial, um estado ainda com poucos recursos, e estamos levando nossa tecnologia para o Brasil e para fora dele”.
Dinâmica ideal
Cairamir Arruda diz ter a expectativa de, em breve, mudar esse quadro: “Temos alguns cearenses que estão se destacando, mas suas ideias acabam desenvolvidas lá no Vale do Silício. E essa plataforma serve para que a gente conheça nosso potencial para passar a investir nele, com os próprios investidores conhecendo o potencial do Estado e começarmos a criar negócios para o mundo. É inverter esse mecanismo com uma visão nova, que antes não existia: uma visão colaborativa”, sugere.
De acordo com o professor Mauro Oliveira, o ideal seria que a plataforma pudesse ser usada por todas as entidades governamentais e que nos editais constasse a obrigatoriedade de a proposta em questão passar pelo Revive. “Se isso acontecesse, já teríamos diminuído esse gap. Aqui no Ceará, tem muito disso, de um laboratório não conhecer nem saber o que outro ao lado está fazendo. Muitas vezes um projeto entra em vários editais, quando seria muito melhor ter isso tudo otimizado em uma ferramenta para dar visibilidade universal”, conclui.