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Transformação digital no comércio exterior: oportunidades para o Ceará

Com um mercado cada vez mais competitivo e conectado, empresas e governos rendem-se às novas tecnologias nas operações que intermediam o comércio internacional.

Atualmente, muito se fala sobre os movimentos de inovação e, quando eles se voltam para o comércio exterior, a transformação digital tem resultado em uma revolução no desempenho e alcance das organizações. Com um mercado cada vez mais competitivo e conectado, não é à toa que empresas e governos estejam se rendendo às novas tecnologias nas operações que intermediam o comércio internacional. Inteligência artificial, computação em nuvem, Big Data, entre outros serviços de automação digital, tendem a se reverterem em um leque de oportunidades na atração de investimentos e novas possibilidades de mercado externo para o Brasil e o Ceará.


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“A transformação digital, que passa pela reestruturação de processos usando a tecnologia, além de ser vital para as empresas alcançarem bons resultados no comércio exterior, é uma realidade cada vez mais presente em todas as etapas, desde a identificação de oportunidades até o fluxo de logística e comércio exterior”, aponta Adalberto Netto, gerente comercial da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

Na sua avaliação, a automação, ampliada por novas tecnologias e rotinas de inteligência artificial, é uma tendência a se destacar e que traz uma série de benefícios, “desde a otimização do uso de recursos, agilidade na execução de rotinas e integração com agentes externos, como fornecedores, clientes, instituições financeiras, desembaraço aduaneiro e muitos outros. Todos esses benefícios, refletem em maior competitividade dos produtos e serviços das empresas nos mercados alvo escolhidos”, fala. Além disso, há uma série de outras tecnologias e métodos que podem ampliar o impacto da transformação digital no comércio exterior.

“A tomada de decisão baseada em dados, usando técnicas de Big Data, por exemplo, permite a otimização de processos (produção, tributário, câmbio, etc.), a identificação de novas oportunidades de negócios e de novos mercados, a análise de concorrência, dentre outros tantos exemplos”

Adalberto Netto, gerente comercial da Apex-Brasil

Ao lado da inteligência artificial e do Big Data, acrescenta José Macêdo, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e cientista-chefe de Dados e Transformação Digital do Governo do Ceará, outro aliado importante nesse processo é a computação em nuvem

“A inteligência artificial veio para dar mais acurácia aos resultados obtidos. Ela substitui a mão de obra que faz tarefas repetitivas por tarefas automatizadas, dando suporte à tomada de decisão mais assertiva, baseada em dados e evidências, ajudando tanto os gestores, como os funcionários das empresas a serem mais eficientes. Na verdade, ela amplifica a capacidade do trabalhador e libera pessoal para o que mais importa. Já com o Big Data, temos um aumento da capacidade de coletar, extrair e trabalhar um grande volume de dados. Enquanto com a computação em nuvem, as infraestruturas de tratamento de informação e processamento não precisam mais estar dentro das empresas. Isso muda totalmente a maneira como elas estavam trabalhando”, detalha.

Indo além, emenda Macêdo, a transformação digital não se restringe apenas à esfera tecnológica. O impacto positivo sobre as pessoas também deve ser contabilizado

“Normalmente, quando se fala na transformação digital, fala-se na digitalização de serviços, documentos e todos os ativos de uma empresa. Mas também temos que considerar essa mudança do ponto de vista de transformação de pessoas. Não basta trazer a tecnologia. A tecnologia tem que ser aliada a processos de trabalhos e ao treinamento de pessoal. Sem isso, não adianta, pois não se consegue atingir resultados. As pessoas precisam ser preparadas para trabalhar nesse novo mundo, onde o digital é preponderante”

José Macêdo, cientista-chefe de Dados e Transformação Digital do Governo do Ceará

Tendências tecnológicas para o comércio exterior

A adoção de plataformas de marketplace de alcance mundial (e-commerce mediado por uma empresa, em que vários lojistas se inscrevem) e a adoção das novas tecnologias de promoção comercial, como as feiras e rodadas virtuais, são bons exemplos de como o comércio exterior pode se beneficiar ainda mais com a transformação digital.

“A grande tendência do momento é a ‘plataformização’ dos modelos de negócio. Nos próximos 20 anos, 50% das 500 maiores empresas do mundo irão migrar seus modelos de negócio para operar em plataformas. Isso se aplica também ao comércio exterior. É notório o crescimento da adoção de plataformas de e-commerce por exportadores, tais como Amazon e Alibaba, mas, também, de marketplaces especializados em determinados setores. Esse tipo de ferramenta encurta a distância entre as empresas, seus clientes e fornecedores, assim como simplifica a abertura de novos mercados internacionais”, justifica Adalberto Netto, da Apex-Brasil.

Ao mesmo tempo, segundo Netto, as ações de promoção comercial passam por significativas mudanças. Principalmente depois que foram diretamente afetadas pela pandemia do coronavírus. “Assistimos, durante os últimos meses, um volume histórico de cancelamento de grandes eventos, como as grandes feiras setoriais. Essa lacuna no setor de promoção, provocou a disseminação de ferramentas de eventos digitais e matchmaking (conexões on-line) para o atendimento à demanda de compradores e vendedores”, relata.

Vantagens para o setor

Os especialistas consultados pela Trends CE são unânimes em afirmar que o uso dessas novas tecnologias aumenta a competitividade das empresas brasileiras nos mercados internacionais. 

“A otimização de processos, a tomada de decisões baseada em dados, a utilização de tecnologias de inteligência artificial, as novas plataformas de e-commerce, matchmaking e promoção comercial, dentre tantas outras, permitem a diminuição de custos, mais assertividade na definição de mercados e estratégia, diminuição de prazos de produção e entrega, aumento de canais de promoção e outros incontáveis benefícios que fazem com que o produto ou serviço brasileiro seja mais competitivo mundo afora”, afirma Netto, da Apex-Brasil.

Assim como, completa Macedo, essas novas tecnologias também auxiliam no cumprimento das exigências regulatórias nos trâmites do comércio internacional – regras governamentais e aduaneiras que regem esse setor -, minimizando, por sua vez, possíveis erros. Dessa maneira, as organizações conseguem ficar sempre dentro da lei, evitando multas e penalidades.

“Passamos a ter algoritmos e sistemas que controlam o atendimento das exigências legais no comércio exterior, reduzindo os riscos. Ao mesmo tempo, ganhamos uma maior integração de departamentos e a redução de retrabalho, resultando em um serviço de mais qualidade, eficiente e integrado”, fala.

Oportunidades para o Ceará

A agilidade na abertura de novos negócios e um maior potencial de concorrência das empresas locais surgem como grandes oportunidades para o comércio exterior do Ceará por meio da transformação digital. É o que aponta o cientista-chefe de Dados e Transformação Digital do Governo estadual, José Macedo.

“Do ponto de vista da transformação digital do Estado, hoje, abrir um negócio no Ceará é bem mais ágil e eficiente, o que facilita a atração de investimentos. Antes levava meses, o que se transformou em dias. Já do lado das empresas, aquelas que estão desenvolvendo a sua transformação digital terão mais potencial de concorrência no mercado e, consequentemente, também vão atrair mais investimentos. Com as novas tecnologias, elas vão conseguir ser mais produtivas, mais assertivas e estarão mais de acordo com as necessidades do mundo atual”, justifica.

Nessa direção, com as restrições impostas pela pandemia, muitas das etapas tradicionalmente percorridas no processo de atração de investimentos acabaram migrando para o ambiente virtual, o que também beneficiou o Ceará. Adalberto Netto, gerente comercial da Apex-Brasil, reforça a importância do cultivo da cultura digital no Estado.

“Hoje, já se percebe a realização, por exemplo, de site visits (visitas aos futuros locais de instalação) virtuais para que seja fechada a lista de potenciais lugares para instalação de um novo investimento. Além disso, várias oportunidades de novos investimentos têm surgido a partir dos processos de reavaliação de localização de cadeias globais de valor (denominados como reshoring e nearshoring). E, logicamente, as empresas e setores que estão se beneficiando da transformação digital são mais competitivas e saem na frente nessa lógica de atração de investimentos”, diz.

O que não é uma tarefa difícil, afirma Macedo. “O Ceará é um celeiro de cérebros, de pessoas que trabalham e têm capacidade intelectual reconhecida. Então, transformar esse conjunto de pessoas para que elas trabalhem dentro do meio digital é mais fácil. Além disso, o Estado tem muitas universidades na área de tecnologia, assim como possui um Centro de Inteligência Artificial e o Laboratório de Inovação e Dados da Casa Civil. Enfim, várias iniciativas que estão colaborando para a formação de um ecossistema importante, com mão de obra qualificada”, conta.

Ainda na avaliação do gerente comercial da Apex-Brasil, todo esse movimento pode afetar positivamente não só o Ceará, mas toda a região Nordeste do Brasil. “No Ceará, por exemplo, há oportunidades de investimentos em energia renovável, que é uma matriz energética em franca expansão no Brasil e no mundo, com bastante interesse por parte de investidores de várias partes do globo. Recentemente, inclusive, foi noticiada a realização de negociações de uma empresa chinesa com o Estado do Ceará para investimentos em energia eólica offshore, o que seria uma quebra de paradigma, uma vez que não temos investidores estrangeiros ainda atuando em eólica offshore no país”, diz.

Em tempo, vale lembrar a infraestrutura tecnológica que o Ceará disponibiliza, colocando em vantagem as empresas instaladas em seu território. A saber, o Estado tem atualmente um cinturão digital com 14 mil quilômetros de fibra ótica, possibilitando acesso à internet em todos os seus 184 municípios. Ao passo que Fortaleza é o segundo maior hub de cabos submarinos de fibra ótica do mundo.

Outro ponto a favor do Ceará é o recente acordo assinado entre o Governo Estadual e a Amazon Web Service, companhia da Amazon.com, para a criação do primeiro Centro de Competências para a Transformação Digital do país. A princípio serão mil vagas de ensino qualificado aos cearenses e o centro terá como pilares a empregabilidade, a transformação digital, o empreendedorismo e a pesquisa e desenvolvimento.

Comércio internacional em discussão

O tema transformação digital possibilita inúmeras reflexões. Razão pela qual fará parte do evento Diálogos de Comércio Exterior, primeira edição, voltada à Região Nordeste. Este seminário on-line inaugura uma série de encontros em que a Apex-Brasil trará participantes do setor público e privado para discutir o comércio internacional do Brasil em suas diversas regiões.

Nesta primeira edição, os desafios, oportunidades e perspectivas para a inserção da Região Nordeste no cenário internacional estarão no foco do debate, que passará por temas como comércio exterior, atração de investimentos estrangeiros diretos e inovação. O seminário ocorrerá nesta segunda-feira (30), das 8h30 às 12h45, e as inscrições podem ser feitas pelo link https://click.apexbrasil.us/mLMlb.

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