Ainda que sem estoque ou reservas e com uma estrutura fixa pesada para sustentar, a indústria brasileira do turismo começa a se reerguer da retração de 80% devido à pandemia da Covid-19, redirecionando o fluxo de turistas para movimentação da rede local. Com esse resgate das viagens internas, espera-se que seja possível reverter a balança comercial turística. E essa perspectiva não é diferente para o Ceará.
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Com um cenário mais controlado da pandemia e um plano de retomada baseado e estruturado em fases, o Estado pode se manter na rota de viagens para os turistas brasileiros. De acordo com o secretário de Turismo do Ceará (Setur), Arialdo Pinho, apesar do momento de indefinições em relação à pandemia do coronavírus, a expectativa ainda é otimista.
“Estamos com uma boa expectativa para essa alta estação. Mas tudo com muita cautela, porque precisamos evitar aglomerações. Os hotéis ainda não estão operando com a capacidade total e os voos também não retornaram em sua totalidade. Por isso os números não devem ser altos como nos anos anteriores. Mas o importante é cumprirmos os protocolos e mantermos o controle da pandemia no Ceará. Estamos vivendo um momento novo e tenho certeza que iremos nos recuperar com o tempo”
Arialdo Pinho, titular da Setur
De acordo com Régis Medeiros, presidente da ABIH Ceará, a força do turismo regional aliada à vontade da retomada das atividades para as pessoas confinadas desde março destravaram o setor. De portas abertas e seguindo os protocolos de segurança sanitária estabelecidos, os hotéis caminham para uma maior ocupação, segundo ele. Nos limites definidos, a rede hoteleira, especialmente do litoral e balneários turísticos, está se mantendo com lotação esgotada nos finais de semana e feriados.
“Fortaleza está aberta ao turismo, exceto para grandes eventos. E mesmo que pesquisas já apontem ser o destino preferido dos turistas em 2021, a retomada do setor na capital cearense só não está maior porque o público-alvo vem, predominantemente, do Sudeste. Isso requer transporte aéreo, ainda em operação limitada”
Régis Medeiros, presidente da ABIH Ceará
Segundo Manoel Linhares, presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), entidade representada nos 26 Estados e no Distrito Federal, a ocupação hoteleira nacional se manteve entre 5% a 8% no auge da pandemia graças à movimentação de profissionais da saúde e de outros setores de suporte no combate à doença. Esse percentual já subiu para 30% e com o período de férias, datas comemorativas e verão tende a alcançar o ponto de equilíbrio que é de 50%. Estima-se que a retomada da movimentação alcance um raio de até 300 km dos pontos turísticos regionais, o que sinaliza uma oportunidade aos gestores de cada região.
“É hora de aprendermos com a Europa e com os demais continentes a valorizar o produto nacional. Não é por outra razão que Cancun, por exemplo, com apenas 34 km de praias e única opção de lazer, recebe 24 milhões de turistas por ano. O Brasil, reconhecido como primeiro do mundo em belezas naturais, recebe apenas 6 milhões”
Manoel Linhares, presidente nacional da ABIH e vice-presidente da FBHA
Também vice-presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Linhares ressalta que a cada emprego no Brasil, um está de alguma forma ligado ao turismo, que impacta diretamente 54 outros setores de atividade. Ele inclui neste cálculo, além do turismo de lazer, o turismo de negócios, que gera três a quatro vezes mais receita. Sua expectativa é de que a indústria de turismo se recomponha, efetivamente, somente em 2023, após todo o processo de reinvenção e adaptação.
Enquanto isso, como representante de classe, o presidente diz que, unidas, as entidades continuarão buscando a redução da elevada carga tributária e da burocracia que engessa a economia e, por decorrência, a atividade turística. E elogia alguns avanços como a abertura para a operação de companhias aéreas internacionais e para vistos, inclusive eletrônico, oferecidos a Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão. “Se o Brasil tivesse uma visão menos míope e rasa do turismo, veria a força desta indústria e seu impacto nos demais setores”, diz o presidente da ABIH.
Oportunidades de investimento
O Ceará conta com enormes possibilidades de investimentos, conforme aponta Régis Medeiros, presidente da ABIH Ceará. Ele destaca ainda os avanços em obras estruturantes privadas e públicas, com as obras de reparação, repaginação urbana e pavimentação de estradas. Cita, por exemplo, a duplicação da estrada de Fortaleza a Canoa Quebrada e novas áreas de lazer.
Mas também diz que é preciso sensibilizar as autoridades para o real potencial turístico do País. Para isto, elogia o esforço da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), através da Câmara Setorial de Turismo e Eventos, que em parceria com o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) busca mapear a cadeia produtiva numa completa radiografia. “Assim teremos dados concretos para convencer os poderes constituídos e decisórios a enxergarem a atividade turística com o real peso que ela tem”, observa.
De acordo com Pedro Carlos da Fonseca, coordenador do Fórum de Turismo do Ceará (Fortur) – organização tripartite integrada por 132 entidades – o potencial do turismo ainda é incompreendido pelos que fazem as leis e definem políticas públicas por ser uma atividade transversal, integrada por mais de 50 outros setores. Ele afirma que o setor é uma poderosa engrenagem neste momento de pandemia para a recuperação de muitas atividades. Com a crise sanitária da Covid-19 administrável – mas não debelada – é possível retomar a atividade com relevantes ganhos para os destinos internos, o que beneficia cada região brasileira e sua enorme diversidade.
“O turismo no Ceará pode atrair investimentos porque o Estado está na esquina do Brasil e conta com hubs aéreo, portuário e tecnológico”
Pedro Carlos da Fonseca, coordenador do Fortur