Mas o que é uma empresa familiar? Considera-se aquelas em que uma ou mais famílias detêm o controle de pelo menos 50% das ações com direito a voto em uma empresa de capital fechado e pelo menos 32% dos direitos de voto em uma empresa de capital aberto, conforme pesquisa realizada pelo The Family Capital, em 2020. Diante desse contexto, elas são consideradas o tipo mais predominante de organização no mundo, respondendo por uma grande quantidade de empregos e volumes de negócios, bem como contribuindo significativamente para o Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países no mundo de acordo com as pesquisas de empresas familiares.
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Com relação à pandemia da Covid-19, as pesquisas apontaram que cerca de 80% das empresas familiares têm sido negativamente impactadas. Seus executivos veem a atual crise sanitária como o segundo maior desafio nos próximos cinco anos, seguido da necessidade de inovar e reter pessoas. Além disso, 40% das empresas familiares apontam que o impacto financeiro se normalizará somente por volta de 12 meses, conforme a pesquisa do Credit Suisse Institute Research.
As consequências da pandemia colocaram uma pressão considerável no bem-estar físico e emocional de familiares e não familiares, trazendo tensões à superfície, gerando emoções negativas (como tristeza, frustração, ansiedade e medo), levando à oscilação entre emoções positivas e negativas e o risco de prejudicar a clareza de pensamento dos principais tomadores de decisão nas empresas familiares. Por outro lado, cerca de 80% dessas organizações forneceram suporte aos funcionários afetados pela crise e 46% delas recorreram a demissões dos seus funcionários, comparado a 55% das não familiares. Além disso, no âmbito dos seus objetivos estratégicos, as empresas familiares estavam mais preocupadas em manter o mínimo de impacto aos seus funcionários, mesmo que isso lhes custassem o uso de seus recursos financeiros.
Método BFB
Quando se fala em negócios familiares, de forma consciente ou inconsciente seus interesses e decisões estão voltados para o longo prazo, pois isso pode proporcionar uma maior estabilidade e lucratividade como também atender o retorno esperado por seus acionistas. Nesse contexto, pode-se perceber que as empresas familiares possuem características e respostas específicas em seus diversos contextos, como por exemplo a presença de objetivos que atendam as necessidades dos seus stakeholders, da família, do negócio e dos seus acionistas. Com isso, considera-se a relevância de abordar um framework que apresente os elementos pertinentes a uma empresa familiar, de forma que auxilie na orientação de suas estratégias, processos e pessoas, por exemplo, para que alcance a sua longevidade.
Assim o fundador e CEO do Instituto Empresariar, Cícero Rocha, desenvolveu um framework denominado Balanced Family Business (BFB), que considera as empresas familiares um sistema. A utilização de um pensamento sistêmico, proporciona considerar as partes e o todo na coordenação, elaboração das estratégias de empresas, governos e instituições para a permanência desses sistemas na sociedade. O framework identificou em mais de 800 projetos executados que as empresas familiares possuem quatro elementos: indivíduos-chave, família, negócios e sócios. E que esses elementos interagem entre si de forma a tornar o sistema como todo balanceado, proporcionando sua longevidade.
Inicialmente, aborda-se os indivíduos-chaves nas empresas familiares que são aqueles em que sofrem e/ou exercem alguma influência no sistema como um todo. Esse elemento é também considerado um subsistema que possui subelementos que são: corpo, mente e significado da vida; atuando de forma conjunta, propiciam um bem-estar. O outro elemento na empresa familiar está relacionado à família, que são um conjunto de pessoas que podem ter laços consanguíneos ou não. Essa família possui aspectos que precisam ser levados em conta como a sua resiliência, o seu ciclo de vida e aspectos que envolvem as três leis sistêmicas da família de Hellinger: pertencimento, ordem e equilíbrio. Com isso esses aspectos impactam a harmonia de uma família dentro do contexto empresa familiar.
O terceiro elemento se refere ao negócio, em que se tratam aspectos relacionados a estratégia, processos, inovação, pessoas, cultura e relações de poder que, conectadas as dimensões indivíduos-chave e família, podem afetar a efetividade dos negócios. Por fim, o último elemento do BFB denomina-se sócios que são aqueles que possuem quotas sobre aquela empresa. Nessa perspectiva o BFB aponta os processos societários, as estratégias de patrimônio dos sócios, o desenvolvimento dos conhecimentos, habilidades e atitudes desses sócios e a governança jurídica. Essa dimensão tem como objetivo a elevação do patrimônio. No contexto desses elementos o BFB, traz a integração dessas partes no processo de desenvolvimento da longevidade de uma empresa familiar de forma que se considera a sua integração.
O modelo é representado é a integração das dimensões que o BFB deseja propor. Com isso, inicia-se pela dimensão Indivíduo-Chave que está representada por uma triângulo, pois contempla três aspectos mente, corpo e espírito. Já a dimensão família está representada por um círculo que considera o ciclo de vida da família, resiliência familiar, as três leis sistêmicas de Bert Hellinger e a SEW. O negócio foi retratado com um hexágono pois, contempla os seis aspectos da empresa: estratégia, cultura, inovação, pessoas, hierarquia e relações de poder. Por fim, a dimensão sócios é um quadrado, pois contempla quatro pontos da dimensão societária na empresa familiar: processos societários, as estratégias de patrimônio dos sócios, o desenvolvimento dos conhecimentos, habilidades e atitudes desses sócios e a governança jurídica.
Esse framework foi validado cientificamente no Brasil pelo Seminário de Administração da Universidade de São Paulo- USP em 2019, como também sendo foco de uma Tese de Doutorado. No âmbito Internacional, em 2020, o trabalho foi o único do Brasil a ser apresentado na linha de pesquisa em empresas familiares, no principal Congresso de Administração da Europa o European Management Academy (EURAM), que une anualmente doutores, pós-doutores e executivos de empresas familiares. Sendo o BFB avaliado por professores como Rodrigo Basco, professor associado da University of Sharjah, e Giovanna Campopiano, professora Senior da Lancaster University Management School, que falaram sobre a importância de ter uma visão sistêmica nos estudos de empresa familiares.
Doutora em Empresas Familiares e Head de Conhecimento do Instituto Empresariar*