A expectativa é de que a produção de castanha, um dos mais tradicionais produtos do agronegócio cearense, tenha fechado 2020 com um crescimento de 10% na comparação com o ano anterior. A estimativa é do secretário executivo do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Sílvio Carlos Ribeiro. De acordo com ele, apesar dos impactos da pandemia da Covid-19 sobre o setor, as precipitações chuvosas garantiram o resultado. Porém, apesar desse aumento, 2021 chega trazendo desafios importantes a fim de assegurar a sustentabilidade da cajucultura no Estado, que, na avaliação dos especialistas, precisa se modernizar, tornando-se mais competitiva.
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Rodrigo Diógenes, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) e diretor do Instituto Caju Brasil (ICB)
“O agronegócio do caju está passando por transformações muito grandes, observadas nos últimos quatro anos, depois do período de estiagem que foi de 2012 a 2016. Os produtores viram que para se manterem competitivos no mercado teriam que adotar algumas ações, sustentadas em três pilares: na produção, com o cultivo de plantas melhoradas; na adoção de tecnologia, sobre o manejo; e no aproveitamento integral da fruta”
Neste cenário, importante considerar o tipo e a idade do cajueiro que existe hoje, plantado no Ceará. “Isto afeta diretamente na produção. A cada ano, o cajueiro vai produzindo menos e essa renovação do pomar de caju se faz necessária, o que exige uma atenção e um trabalho maior por parte do produtor”, destaca Sílvio Carlos. De acordo com o secretário executivo da Sedet, um dos principais desafios é fazer a renovação das áreas plantadas, substituindo o cajueiro nativo pelo cajueiro anão precoce, adotando, por sua vez, um novo sistema de produção.
“É preciso parar com o extrativismo. Temos que pensar em uma cajucultura moderna. Esse é o trabalho que a Sedet vem fazendo. Um trabalho pioneiro, começando pelo polo do Baixo Jaguaribe, onde já temos áreas plantadas com cajueiro irrigado, com maior adensamento e podas específicas. Dessa forma, estamos tendo excelentes resultados e a produção poderá subir até dez vezes mais do que a média atual. Portanto, é essa a cajucultura que nós queremos”
Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Sedet
Conforme Ribeiro, a maior concentração da cajucultura no Ceará é no litoral, onde as áreas plantadas são de sequeiro, o que as deixa dependentes das chuvas. “Por esse motivo é que precisamos fazer um trabalho muito forte de renovação dos cajueiros. Só assim a cajucultura no Estado vai voltar a ter os resultados que tinha no passado ou até melhores”, projeta.
Para o diretor do ICB, os produtores cearenses precisam investir em um pomar mais produtivo e comercial. “Estamos falando, nesse caso, do cajueiro de produção comprovada, que é o cajueiro anão. Cerca de 70% do plantio no Ceará ainda é oriundo de cajueiro nativo, de produtividade inferior e qualidade também. Então, concordamos que para a atividade se tornar lucrativa, a primeira ação é mudar o sistema de cultivo e trocar para o cajueiro anão”, fala Diógenes, que também é engenheiro agrônomo, especialista no agronegócio do caju. Segundo ele, a adoção de tecnologias no manejo é outro fator a ser considerado pelos produtores.
“Vimos que os cajucultores não adotavam por completo as tecnologias recomendadas, que são a poda, a adubação, a limpeza e controle fitossanitário. Sem isso, não adianta ter o cajueiro anão. Portanto, além da renovação do pomar, temos que aliar essas inovações”
Rodrigo Diógenes, vice-presidente da Faec e diretor ICB
Uma terceira vertente para a modernização e a competitividade da cajucultura no Ceará seria o aproveitamento integral da produção. “Não se pode pensar somente em vender castanha e sim aproveitar o pedúnculo na fabricação de sucos, doces, cajuínas e de melaço. Estes são produtos que agregam valor à produção e deixa a cajucultura auto sustentável”, argumenta Diógenes.
Zoneamento agrícola
Ao mesmo tempo um novo aliado chega com o intuito de ajudar o setor, não só no Ceará, mas em todo o país. A cajucultura passa a contar com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). Ao apagar das luzes de 2020, foram publicadas no Diário Oficial da União portarias com o zoneamento dessa cultura em vários estados brasileiros. Segundo as autoridades, a nova ferramenta permitirá a indicação de datas e períodos ideais para plantio por município. Isto levando em conta características do clima, tipo de solo e o ciclo de desenvolvimento da cajucultura em cada lugar.
O objetivo é evitar que adversidades climáticas coincidam com as fases mais sensíveis da produção, minimizando assim as perdas agrícolas. Além disso, os idealizadores do Zarc afirmam que os agricultores que seguirem as recomendações, além de estarem menos sujeitos aos riscos climáticos, poderão ser beneficiados pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e pelo Programa de Subvenção ao prêmio do Seguro Rural (PSR). De acordo com eles, muitos agentes financeiros só permitem o acesso ao crédito rural para o cultivo em áreas zoneadas e para o plantio de cultivares indicadas nas portarias de zoneamento.
“O Zarc é de grande importância para a cajucultura, porque ele será uma referência para que as instituições possam dar incentivos aos produtores de caju. As instituições financeiras poderão entender melhor quais são os riscos do financiamento e isso é importante para dar segurança tanto para elas como para o agricultor. Acredito ser um grande avanço para a cajucultura do Ceará e do Nordeste como um todo”
Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo de Agronegócio da Sedet
“No momento em que se tem informações seguras de condições climáticas, áreas propícias e do que seria ideal para a boa produção, utiliza-se isso de forma eficiente para tornar a atividade (cajucultura) cada vez mais competitiva”, acrescenta o engenheiro agrônomo Rodrigo Diógenes. Para ele, espera-se que 2021 seja o ano da profissionalização do produtor rural da cajucultura, criando-se unidades de processamento tanto da castanha como do pedúnculo, aproveitando-se, dessa forma, o fruto como um todo.
Cajucultura no agronegócio cearense
Além de ser uma cultura tradicional no Ceará, a cajucultura tem grande importância no agronegócio e por sua vez na economia estadual. “O Ceará detém o primeiro lugar na exportação de castanha no Brasil, tem também a tradição dessa cultura, possui uma agroindústria muito forte voltada para a cajucultura, seja a partir da castanha, ou ainda, embora em menor escala, do pedúnculo. Então, esta é uma cultura muito relevante para o Estado”, ressalta Silvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Sedet.
Estima-se que a cajucultura gere 25 mil empregos no campo, 16 mil postos de trabalho na agroindústria, além de 67 mil colocações sazonais diretas e indiretas em toda a cadeia produtiva. “Além disso, a castanha de caju é o terceiro produto na pauta de exportações do Ceará, fornecendo trabalho e renda para pequenos e médios produtores no segundo semestre do ano (2020). Dessa forma, a cajucultura tem sua importância e é de alto potencial para a economia do Ceará”, conclui Ribeiro.