Enquanto os principais setores das exportações cearenses amargaram saldo negativo em 2020, o agronegócio, que representa aproximadamente 20% do total comercializado pelo Estado no mercado internacional, é o único setor que tem o que comemorar. Frutas (com 12%), mel de abelhas (84,6%), hortaliças (94,5%), flores (19,9%) e camarão (107%) obtiveram crescimento significativo nas vendas externas. […]

Agronegócio desponta nas exportações cearenses em 2020

Por: Anchieta Dantas Jr. | Em:
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Enquanto os principais setores das exportações cearenses amargaram saldo negativo em 2020, o agronegócio, que representa aproximadamente 20% do total comercializado pelo Estado no mercado internacional, é o único setor que tem o que comemorar. Frutas (com 12%), mel de abelhas (84,6%), hortaliças (94,5%), flores (19,9%) e camarão (107%) obtiveram crescimento significativo nas vendas externas. Na contramão, a castanha de caju, principal produto vendido no exterior pelo agronegócio do Ceará, recuou 15,3%. No acumulado do ano passado, o setor exportou cerca de US$ 369,6 milhões, dos US$ 1,4 bilhão contabilizados pelo Estado.


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Os número fazem parte do estudo “Exportações do Ceará com Foco no Agronegócio”, elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), com base em dados do Comex Stat, plataforma do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que traz as estatísticas das exportações e importações brasileiras por unidade da federação. Na avaliação de Erildo Pontes, coordenador de Recursos Hídricos para o Agronegócio da Secretaria Executiva do Agronegócio, subordinada à Sedet, a principal explicação para o desempenho positivo do setor na pauta de exportações do Ceará foram as boas precipitações das chuvas em 2020.

“De 2012 a 2018, o Ceará enfrentou uma situação de seca. Porém, em 2019 isto começou a se reverter, já que as chuvas foram boas, sendo melhores ainda em 2020, propiciando um aumento da produção e consequentemente das exportações”

Erildo Pontes, coordenador de Recursos Hídricos da Sedet

Além das condições naturais favoráveis, o Ceará lida com produtos de primeira necessidade, no caso alimentos, de acordo com Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec). “Então é esperado esse crescimento”, avalia. Segundo ela, também deve-se levar em conta um patamar de câmbio favorável para as exportações. Com o dólar valorizado em relação ao real os produtos cearenses tornam-se mais competitivos em termos de preços no mercado internacional. Diferente de outros setores da pauta de exportações do Estado, o agronegócio tem o seu público definido.

Principais exportações cearenses

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“Para se ter uma ideia, enquanto outros setores tiveram pedidos cancelados por conta da pandemia, ao contrário, os produtos do agronegócio não registraram casos. No máximo, os pedidos podem ter sido adiados. Daí não ter impactado negativamente nas vendas”, ressalta a gerente do CIN. Ela afirma que há o que comemorar, embora em valores absolutos os produtos que apresentaram crescimento nas exportações no ano que passou possam ter sido inferiores a outros anos da série histórica.

“Em um ano adverso como 2020, marcado por uma crise sanitária, qualquer avanço em relação ao ano imediatamente anterior é sempre positivo. Ao mesmo tempo, ainda temos o fato de o agronegócio cearense vir investindo em tecnologia, em inovação, se preparando para atender mais e melhor as demandas e exigências do mercado externo. Um exemplo é o investimento em tecnologia para dar condições de o produto enfrentar o tempo de deslocamento até chegar ao destino”

Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios da Fiec


Produtos em destaque nas exportações

No caso da exportação de frutas, os destaques ficaram com o melão, a manga e o mamão, com 21,8%, 14,9% e 131,7% de crescimento, respectivamente. Com relação ao mel de abelhas, cujas vendas externas somaram aproximadamente US$ 9,93 milhões em 2020, ou seja, 84,6% a mais na comparação com o ano anterior, Erildo Pontes, da Sedet, aponta que além de floradas melhores, consequência da quadra chuvosa, a pandemia da Covid-19 resultou em uma excelente oportunidade para o setor. “Isto porque, como o mel de abelhas é um remédio natural para o combate aos sintomas associados a gripes e ao coronavírus, a demanda externa pelo produto aumentou, assim como se abriu novos mercados para o mesmo lá fora”, avalia.

Já no que diz respeito aos pescados, que no somatório dos produtos exportados contabilizou queda de 23,6% nas vendas externas em 2020 ante 2019, as exportações de camarões conseguiram registrar 107% de acréscimo no período. Mais uma vez, explica Pontes, o desempenho se deve à disponibilidade de água, devido a um aumento das chuvas. “Apesar desse crescimento, vale ressaltar que em números absolutos, o volume exportado de camarão em 2020 não se compara com o que se exportava antes do período da seca. Sem água a produção caiu muito, já que, atualmente, a produção do crustáceo no Ceará é basicamente em cativeiro. Porém, com as chuvas registradas em 2019 e 2020, o armazenamento dos açudes no Estado aumentou, o que propiciou a recuperação dos criatórios”, relata. Ao mesmo tempo, emenda, “durante a pandemia, com o fechamento dos restaurantes, principal mercado consumidor do camarão cearense, os produtores tiveram que buscar o mercado externo para escoar a sua produção. Daí também o aumento nas exportações”.

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Perspectivas para o setor

Há cinco anos, o agronegócio representava mais da metade (51,4%) do total exportado pelo Ceará. No entanto, essa participação veio caindo ao longo dos anos, atingindo 19,9% em 2020. Ao passo que, em 2015, o Estado ocupava a terceira colocação no Nordeste nas vendas de frutas no mercado internacional. Porém, de 2016 para cá, caiu para a quinta posição. Juntamente com o impacto direto da seca nesse processo, Karina Frota, do CIN, lembra que o agronegócio cearense já se beneficiou de mais políticas públicas para garantir o seu protagonismo nas exportações do Ceará e ainda em relação ao Nordeste.

“Há cinco anos, o Estado participava mais ativamente de grandes feiras internacionais, principalmente de flores e frutas, com bastante material de divulgação. Entretanto, como o foco das políticas públicas passou a ser dado a outros setores, igualmente importantes para a economia do Ceará, o agronegócio perdeu um pouco desse protagonismo”, afirma.

Porém, este é um cenário que pode ser revertido. Conforme Erildo Pontes, da Sedet, diversas ações estão em curso na pasta em prol do Agronegócio.
“Para começar, estamos trabalhando em cima do que chamamos de Índice de Resultado da Água, que ajudará na potencialização do uso do recurso em diversas regiões do Estado. Nesse sentido, tomando o metro cúbico de água utilizado, medimos quantos empregos são gerados, salários, entre outros fatores. Dessa forma, verificamos onde a sua aplicação está sendo mais rentável. Uma boa gestão dos recursos hídricos possibilitará, com a mesma quantidade de água, beneficiar mais hectares plantados. Esta é uma ação conjunta da Sedet com a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), contando ainda com o apoio da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme)”, fala.

Outra iniciativa importante, segundo o coordenador da Sedet, é o projeto de utilizar água dessalinizada nas áreas produtivas no litoral, evitando a dependência da água armazenada no Interior do Estado. “Esse trabalho ajudará a disponibilizar uma maior quantidade desse recurso para as regiões produtivas do Interior. Além disso, temos ainda que lembrar o fato de que a água da transposição do Rio São Francisco começou a chegar no Ceará, até o município de Jati, no Cariri, o que beneficiará os perímetros irrigados e o agronegócio nas demais regiões do Estado”, acrescenta.

Ainda em prol do agronegócio estadual, em um investimento que se reverte em mais tecnologia e inovação para o setor, Erildo Pontes destaca também o projeto do Centro de Tecnologia em Cultivo Protegido, em implantação no Cariri. “A produção em ambiente protegido, dependendo do produto e do tipo de estufa, pode garantir uma produtividade até 15 vezes superior àquela obtida nas plantações em campo aberto”, afirma.

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Destaca-se ainda a localização do Ceará, as mais de três mil horas de sol por ano, o que reduz o ciclo de produção, e a infraestrutura logística do Estado, com os hubs marítimo e aéreo. Esses fatores são importantes para o bom desempenho do agronegócio e das exportações. “Portanto, acredito que esses fatores, aliados com invernos melhores e uma boa gestão da água, dentro de mais dois ou três anos, o agronegócio cearense poderá recuperar a sua representatividade na pauta de exportações cearenses e ainda a sua posição nas vendas externas em relação ao Nordeste”, conclui Pontes.

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