O Brasil está na moda. Pelo menos é o que aponta o IEMI, em estudo realizado em 2019 com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit): o setor têxtil e de confecção do País ocupa o 4º lugar no ranking mundial, implicando em um faturamento de R$ 176,8 bilhões. Dentro do cenário nacional, o Ceará é considerado um dos maiores produtores do segmento. E, assim como todo o mercado mundial, sofreu os impactos da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Principalmente logo nos primeiros meses, quando foi decretado o período de lockdown no Estado.
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“Algumas empresas conseguiram superar a dificuldade desse primeiro momento. No entanto, outras empresas que não conseguiram se ajustar foram penalizadas e tiveram que demitir, reduzir o quadro de funcionários. Outras até fecharam, mas o fato é que não foi a grande maioria”, aponta Lélio Matias, presidente do Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas e Vestuário do Ceará (Sindroupas). “Hoje vemos que o setor já está se reequilibrando, apesar de ainda registrar queda. Mas a expectativa é positiva. Acreditamos que logo isso será superado”, compartilha.
“No começo, tinha muita gente perdida, sem saber o que ia acontecer. Mas eu percebi que, de 10 a 15 dias depois, notamos que quem já tinha um relacionamento online, vendia pela internet, teve um sucesso bem considerável”, observa Paulo Rabelo, presidente da Câmara Setorial de Moda do Ceará, ligada à Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece). De acordo com Iorrana Aguiar, profissional de moda com foco no digital e coolhunter, o mercado não estava totalmente preparado e adaptado para vivenciar o universo online.
“Todo mundo foi pego de surpresa, porque estar conectado era o único caminho viável. Algumas empresas tiveram mais dificuldades do que outras para se adaptar. O próprio marketing digital não era muito popular no mercado, mesmo que já existisse um movimento ascendente razoável. Para que houvesse essa adaptação ao digital, foi necessária uma verdadeira força-tarefa por não ser algo esperado ou programado”, conta.
“Quem se adaptou bem ao digital conseguiu chegar a picos de vendas e nunca mais vai deixar de ser assim. É um caminho sem volta. Não quero dizer que o físico vai acabar, mas tem mais a ver com a transformação para uma coisa híbrida”.
Iorrana Aguiar, profissional de moda com foco no digital e coolhunter
Tendências do mercado
Iorrana Aguiar acredita que a pandemia fortaleceu também uma corrente de valorização do produto local. “O Ceará, por exemplo, está aprendendo cada vez mais a valorizar sua cultura, seu artesanato, suas raízes. A gente sente que as pessoas realmente deram as mãos para que o mínimo delas caísse com a pandemia. A moda é um dos segmentos que está passando por maiores mudanças no mundo. Hoje, a gente sabe que uma empresa precisa ter uma postura sustentável. Você não pode mais entregar só produto. O produto é informação, é emoção, é tudo que cria um elo entre você e o seu consumidor”, afirma a profissional de moda.
“Existe uma preocupação muito grande também com a sustentabilidade. Tem todo esse movimento das fábricas têxteis em busca de uma produção mais sustentável e sem haver qualquer aumento de preço para o consumidor. Até porque a gente acha que isso é algo que tem que acontecer: por ser sustentável, os custos diminuem e os preços se tornam mais acessíveis a todas as classes sociais”.
Paulo Rabelo, presidente da CS de Moda do Ceará
Futuro da moda cearense
O Ceará já possui eventos de moda consagrados internacionalmente como o DFB Festival, o maior encontro de moda autoral da América Latina. Com realização em formato digital no ano de 2020, o encontro já colecionava número robustos em 2019 com a geração de 3.655 postos de trabalho diretos e indiretos, além de contar com a participação voluntária de 132 alunos de 11 instituições de ensino do Ceará e do Rio Grande do Norte.
“Além do DFB, temos outros eventos importantes, como o Ceará Fashion Trade, que é uma feira essencialmente de negócios, pensada com o propósito de resgatar o que o Estado tem de melhor na criação de moda. Temos também o Concurso Ceará Moda Contemporânea, que é realizado há 20 anos, e nasceu no Sinditêxtil em conjunto com o Sindroupas para fortalecer o profissional de moda, com todas as categorias premiadas e reconhecidas”, pontua Lélio Matias, presidente do Sindroupas. Para ele, a união dessas iniciativas traz o setor para o mercado, promovendo produtos de alto valor agregado e profissionais extremamente competentes na moda do Ceará.
Uma das novidades para 2021 é o lançamento do projeto 100% CE, criado com o propósito de resgatar, fortalecer, desenvolver e promover a moda no Estado.
“Entendemos que nosso setor é extremamente forte e contribui muito com a economia cearense. No entanto, a moda do Ceará passou por alguns processos onde perdeu sua característica essencial: a criatividade. Temos nos cenários internacional e nacional vários estilistas e designers que nasceram aqui, no contexto da moda, e esse pessoal fez nome. Levou a moda do Ceará para o topo do ranking”.
Lélio Matias, presidente do Sindroupas
Nas décadas de 80 e 90, o Estado já chegou a ocupar o 2º lugar no ranking brasileiro. “A gente espera resgatar e fazer um novo posicionamento no mercado através dessa vocação que nós, cearenses, temos: de criar e se reinventar”, ressalta. O projeto deve impactar o setor pelos próximos 20 anos, com olhar especial para a moda íntima, atualmente considerada como o 2º maior polo de fabricação de lingeries do Brasil.
Para Lélio Matias, o Ceará tem agora uma grande oportunidade de rever o setor de moda do Estado, inclusive apostando em parcerias com o poder público para desenvolver ações que fortaleçam esse mercado. “Temos um novo momento e nós queremos abraçar isso, para que se torne realidade no menor espaço de tempo. Acreditamos que, assim, faremos uma virada de chave no setor de moda do Ceará”, avalia.