A tecnologia se credenciou como uma das maiores aliadas do mercado da saúde. E a telemedicina, ao ganhar reconhecimento oficial, tornou a medicina ainda mais moderna e ágil. Multiplicaram-se as healthtechs, startups focadas no desenvolvimento de soluções até então só vistas na ficção, o que inclui desde os já incorporados agendamentos virtuais à análise de exames. Tudo remotamente, tornando ainda mais atrativo o mercado da saúde. Apesar disto, no entanto, o Brasil, com boas escolas e profissionais, carece de uma estrutura tecnológica e recursos básicos para uma resposta mais eficaz, gerando um fosso entre o que é e o que poderia ser. O Ceará seguiu a mesma linha avançando na prestação de serviços numa forte parceria entre os vários agentes envolvidos.
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Com o envelhecimento da população brasileira – e agora com a pandemia da Covid-19 – o segmento da saúde conquistou o topo no mundo corporativo e também na prioridade das pessoas, ao oferecer alternativas inovadoras para pacientes, médicos, hospitais e clínicas. Ataca-se, assim, duas frentes, a da saúde propriamente dita e a da economia com o surgimento de novas clínicas, novos serviços e novos produtos que fazem girar a engrenagem dessa cadeia de negócios.
A própria chegada da vacina expôs uma realidade e levantou o potencial de mais um negócio: a produção local da vacina a partir do Insumo Farmacêutico Ativo, o IFA, que entrou para o vocabulário dos brasileiros. É só uma mostra da fragilidade da estrutura de saúde do Brasil, totalmente dependente de importação. Outros exemplos apresentados diariamente ao vivo e a cores são falta de respiradores, de luvas, de máscaras, de álcool em gel, de seringas e, mais recentemente, de oxigênio. São itens que podem motivar novos e estratégicos negócios, além de gerarem emprego e renda no País.
A realidade que se traduz em números. O Brasil fabrica menos da metade (40%) da demanda de respiradores. A cadeia da saúde – que responde por 9% do Produto Interno Bruto (PIB) e emprega 15 milhões de pessoas direta e indiretamente – está entre os setores capazes de alavancar a economia, juntamente com outros segmentos como o saneamento básico, bioeconomia e a mobilidade que muda hábitos e reduz o estresse. Todos, de alguma forma, ligados ao bem-estar e à saúde. De fato, apesar do momento crítico vivido pelo mundo, são inúmeros os anúncios de empreendimentos voltados à área médica. A estrutura hospitalar existente foi obrigada a se reestruturar, o que sinaliza um legado promissor, desde que vencida a pandemia.
Planos de saúde
Na contramão da crise ocasionada pela pandemia, os planos de saúde se mantiveram estáveis em 2020 no Brasil, que depois dos Estados Unidos ocupa o segundo lugar no mundo em movimento financeiro (R$ 240 bilhões). Em números de beneficiários, o País está na terceira posição (47,5 milhões), depois de Estados Unidos e China, números levemente superiores aos de 2019. O superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Marcos Paulo Novais, atribui este desempenho ao fato do desemprego não ter atingido diretamente o trabalho formal, com carteira assinada. Houve até um saldo positivo com a criação de 140 mil novos postos. Novais também acredita que houve uma valorização da saúde pela população.
“Pelo lado das operadoras, vivenciamos uma excepcional capacidade de organização para garantir o atendimento”
Marcos Paulo Novais, superintendente executivo da Abramge
Levantamento feito pela Abramge junto a 6 milhões de beneficiários das 134 operadoras de todo o Brasil apontou que houve quase dois milhões de atendimentos pelos diferentes canais de telessaúde em setembro/2020. Destes, 80% foram prontamente resolvidos, 15% foram ao médico para verificação (que poderiam ter sido resolvidos via telessaúde) e somente 5% efetivamente precisavam de atendimento presencial, de uma análise mais aprofundada. “Sem esse serviço, essa massa de pessoas teria ido para as emergências dos hospitais correndo risco de contaminação própria e de terceiros”, comenta. No ranking dos planos de saúde nos Estados, o Ceará está entre os 10 maiores.
Tecnologia a serviço dos cearenses
No Ceará, assim como no Brasil, surgiram e se fortaleceram ferramentas e plataformas tecnológicas de apoio ao atendimento médico, fruto da conjugação de esforços e inciativas de agentes públicos e privados, unindo ações do Estado e dos municípios. Veja algumas:
Aplicativo Mais Saúde – Entre as principais funcionalidades do app estão a verificação e confirmação de consultas agendadas e o histórico dos atendimentos, com lembretes via notificações na véspera das consultas. É possível também obter informações em tempo real sobre os atendimentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Agendamento online da vacinação contra coronavírus – Criação de um canal para o cadastro e agendamento para vacinação pelo Vacine Já. O cadastro disponibiliza vacinação domiciliar e drive thru para idosos acima de 75 e permitiu o agendamento para profissionais de saúde no Centro de Eventos.
Doutor Saúde – A ferramenta disponibiliza à população informações personalizadas, baseadas em inteligência artificial, e utilizando as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O serviço oferece um bate-papo ao usuário, pelo qual é possível saber sobre como proceder diante de sintomas gripais e quais unidades de saúde mais próximas, além de esclarecer dúvidas, dar recomendações e fazer triagem com base no recolhimento de dados. Doutor Saúde foi desenvolvido em parceria com os profissionais do Núcleo de Aplicação em Tecnologia da Informação (NATI), da Universidade de Fortaleza (Unifor), e o Programa Cientista Chefe, da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (Funcap).
Covid Tracker – Monitoramento de pacientes com Covid e casos suspeitos de pessoas que tiveram contato com o caso confirmado, através de ligação telefônica e sistema online acessado pela equipe da SMS. Inicialmente, foram monitorados servidores da Prefeitura e em setembro foi ampliado para as escolas, através de ligações telefônicas para alunos e funcionários.
Boletim médico IJF2 – O Instituto Doutor José Frota (IJF) passa a disponibilizar informações online sobre o quadro clínico de seus pacientes por meio do Sistema Paciente IJF 2 Acompanhante. Familiares ou responsáveis legais acompanharão o boletim de saúde diário de seus parentes, com todos os critérios de segurança, privacidade e sigilo dos dados pessoais dos usuários. Disponível no canal Coronavírus Fortaleza e no aplicativo Mais Saúde Fortaleza.
Atende em Casa – A tecnologia permitiu que, por meio de vídeochamada, profissionais da saúde (médicos e enfermeiros) atendessem pacientes com síndromes gripais sugestivas da Covid-19, orientados de forma adequada sobre cuidados clínicos ou encaminhamento para uma unidade de saúde em caso de necessidade. O serviço foi disponibilizado no período de maior incidência do vírus em Fortaleza.
Projeto Sintonia – Serviço de atendimento psicológico on-line para os profissionais municipais das unidades de saúde. A iniciativa ofereceu um suporte psicológico aos profissionais municipais que estavam na linha de frente do combate ao novo coronavírus. O serviço foi disponibilizado no período de maior incidência do vírus em Fortaleza.
Realidade virtual – Enfermeiros, médicos, fisioterapeutas e engenheiros clínicos cearenses estão recebendo da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), capacitação para o uso do equipamento de respiração assistida, o capacete Elmo, em treinamento no Centro de Simulação Realística da ESP/CE.
Assistente virtual – Desde abril de 2020, o Governo do Ceará conta com o Plantão Coronavírus, assistente virtual que opera 24 horas por meio de atendimento robotizado para tirar dúvidas sobre imunização. Os questionamentos mais comuns são prontamente respondidos desafogando as prefeituras e municípios. Acesso pelo WhatApp (85) 98439-0647, pelo perfil da Sesa no Facebook, pelos sites institucionais da Sesa e do Governo do Ceará, pelo hotsite Coronavírus ou por meio do Ceará App, disponível nas plataformas Android e IOS.
Telessaúde – O telefone 0800.275.147 recebe 4.700 ligações/dia para esclarecer dúvidas sobre a Covid-19. São 150 canais de atendimento por atendentes treinados pela ESP/CE.
Ensino remoto
O ensino e a aprendizagem foram diretamente desafiados pela pandemia. Foi o caso da Escola de Saúde Pública. Apesar da trajetória de 28 anos e dos mais de 30 cursos existentes, teve que se adequar aos novos tempos, notadamente na área de educação à distância. O supervisor do Centro de Desenvolvimento Educacional em Saúde da ESP/CE, Batista Tomaz, diz que a plataforma ESP Virtual foi altamente demandada e que foram criados cursos emergenciais básicos como o de Ventilação Mecânica, oferecido de março a junho de 2020. “Formamos três turmas totalizando 1.500 profissionais preparados com conteúdos baseados em competência, ou seja, que trabalham as dimensões do conhecimento, das habilidades através de tutoriais e vídeos e de atitudes”, afirma.
Outro destaque foi o curso de saúde mental para dar sustentação aos profissionais da área. Doutor em educação e na Escola desde 1996, Batista Tomaz não tem dúvidas de que o trabalho remoto de formação e aperfeiçoamento profissional foi essencial e que tenderá a ser cada vez mais ampliado. Ele também destaca a integração das áreas para o desenvolvimento de soluções. Produzido no Ceará, o capacete Elmo é um equipamento de respiração artificial não invasivo que pode reduzir em 60% a necessidade de intubação e internação em leitos de UTI e foi fruto de uma força-tarefa público-privada (Sesa, ESP, Funcap, Fiec/Senai, UFC e Unifor com apoio do ISGH e Esmaltec). Três instrutoras cearenses estão em Manaus treinando 30 profissionais da saúde para o correto uso dos 65 dispositivos enviados pelo Estado.
Na área do aprendizado, a tecnologia foi essencial ao permitir o compartilhamento de informações importantes a cada passo do processo da pandemia, com vistas à preparação de médicos e residentes para o manejo adequado com o paciente nas UTIs.
“O sistema de saúde ficará melhor tanto em aparelhamento físico com avançados equipamentos como em conhecimento com o desenvolvimento de habilidades dos profissionais em plena crise”
Olívia Bessa, diretora de pós-graduação em saúde da ESP/CE
Healthtechs
Levantamento do Distrito, hub de inovação de startups, mostra que o número de healhtechs dobrou em dois anos: de 248 em 2018 para 542 em 2020. E a Gestão/Prontuário Eletrônico se manteve como a categoria com maior número de soluções com 25% do total, seguida de Acesso à Informação (17,3%), de Marketplace (13,7%) e Farmacêutica e Diagnóstico (10,5%). Mais de 90% contam com até 50 funcionários.
>>> Saúde e tecnologia: soluções inovadoras fortalecem healthtechs no Ceará