Isolamento, distanciamento social, lockdown. Muitos foram os motivos que fizeram de 2020 um ano nada favorável aos encontros e comemorações presenciais. Com a restrição de eventos, uma das saídas estratégicas encontradas pelo setor no Ceará foi apostar no digital. Marcella Matos, sócia-diretora da empresa de eventos Promove, foi uma das pessoas que tomaram a decisão de partir para o universo online.
“Tivemos que nos reinventar na questão do evento digital, através de eventos híbridos e onlines. Porque não teria como trabalharmos de outra forma. Estamos tentando fazer congressos e feiras através de uma plataforma digital”
Marcella Matos, sócia-diretora da empresa de eventos Promove
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“Nós estávamos com expectativas muito boas para 2020, com confirmações contratuais recordes em 20 anos de empresa. Mas tivemos que cancelar muitos eventos”, conta Carla Regina Oliveira Silva, diretora da Result Soluções Empresariais e Eventos. Carla Regina é também especialista em marketing e analista de mercado e estudou o cenário cearense no mês de setembro. Foi quando percebeu que boa parte dos próprios clientes precisavam de ferramentas para manter relacionamento online e tinham bastante dificuldade de encontrar estúdios profissionais que oferecessem esse serviço.
“Então procurei algo diferenciado. Locamos uma loja no shopping e adaptamos para estúdio. Hoje nós temos equipamentos necessários para fazer transmissão para qualquer lugar do mundo. Chamei dois outros parceiros da área de eventos e juntos montamos esse espaço para atender a demanda que encontramos analisando o mercado”
Carla Regiona Oliveira Silva, diretora da Result Soluções Empresariais e Eventos
Impactos econômicos
Segundo informações do Sindieventos-CE, em 2020, o impacto econômico negativo chegou a somar mais de R$ 245,4 milhões. Historicamente, 40% dos eventos do Estado ocorrem no primeiro semestre do ano e 60% no segundo. Considerando essa proporção, no ano passado, o Ceará realizaria 32 eventos no primeiro semestre, o que equivaleria a um total de 80 eventos, já representando uma retração sobre 2019. Considerando esses 80 eventos previstos e a realização de apenas 18, a retração, de fato, seria de 77,50%.
De acordo com dados do Observatório da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e da Receita Federal, o número de empresas no Estado inseridas dentro da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) relativas a eventos é alto. São 4.497 empresas de organização e de casas de festas e eventos, 260 empresas de aluguel de palcos, coberturas e outras estruturas de uso temporário (exceto andaimes), 403 empresas de produção e promoção de eventos esportivos) e 862 empresas de artes cênicas, produção de espetáculos, sonorização e iluminação.
Em 2020, o Sindieventos-CE aponta que pelo menos 3.484 empregos diretos não foram gerados no setor e 10.462 empregos indiretos também não. O percentual de empregos perdidos também é alto: chega a 52,7%. Cerca de 42,35% das empresas pesquisadas pelo sindicato tiveram que demitir de 51 a 70% dos seus funcionários. Circe Jane revela que muitos estão indo para outro nicho de mercado por conta da falta de eventos. “Esse é um cenário difícil e super frágil, já que não temos uma definição de quando a pandemia vai nos deixar trabalhar presencialmente”, aponta.
Perspectivas para 2021
Circe Jane contou que o setor teve uma reunião com o grupo de retomada do Governo no dia 11 de Janeiro, onde apresentaram dados do setor, com sondagem do cenário atual e uma lista de propostas que envolvem todos os tipos da cadeia produtiva de eventos. Entre essas propostas, estão a redução ou isenção do Imposto Sobre Serviços (ISS) e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); a redução ou isenção das tarifas de consumo de energia, água e telefonia; a criação de um apoio financeiro para empresas e autônomos do setor e a abertura de editais de chamamento de empresas do setor de eventos no Ceará. Ela ressaltou ainda que o Governo já confirmou que vai anunciar um pacote de medidas para socorrer o setor, incluindo as de fomento e isenção de taxas e tarifas.
Para a presidente do Sindieventos-CE, o formato digital é uma tendência que o segmento deve continuar aderindo, mesmo depois da retomada de todas as atividades de modo presencial.
“Essa construção em formato digital e híbrido é uma inovação que vamos ter que nos adaptar a elas. Entendemos que a era tecnológica, somada a nossa expertise em eventos, tornarão ainda melhores o segmento. Aqueles que forem capazes de se adaptar vão conseguir sair mais fortes dessas situações. Esses protocolos vieram para ficar”
Circe Jane, presidente do Sindieventos-CE
Carla Regina Oliveira compartilha que há três meses o estúdio tem trazido bons resultados. “Já fizemos uma quantidade de eventos muito além do que esperávamos. Estamos fazendo relançamento de produtos, desfiles e até casamentos”, comenta. Para ela, no momento, o principal objetivo é permanecer no mercado. Apesar de apostar no potencial da modalidade online, Carla Regina acredita que essa tendência não substituirá os eventos presenciais. “A presença ainda é fundamental para vários tipos de networking. Acredito que o online é mais uma modalidade que tem crescido no mundo, mas a presencial sempre vai ser necessária e sempre vai ter demanda para isso”, ressalta. O primeiro evento presencial da Result em 2021 está previsto para o início de dezembro e será voltado para médicos, que já devem estar vacinados nesse período.
Enquanto as perspectivas para o segmento são incertas, Marcella Matos continua assegurando o formato digital para prosseguir com as atividades da empresa. “Abraçamos a questão da reinvenção. Inclusive, abrimos até um estúdio para fazer as transmissões dos eventos. Temos a expectativa de que o segundo semestre, com essa vacina, traga mais esperança. Até lá, é cumprir todos os protocolos e aguardar os decretos. Estamos aguardando até depois do dia 17, que é quando encerra esse novo decreto, para ver o que vem de novo. Espero que haja melhorias para o nosso setor”, fala confiante a empresária.