Em 2020, o Brasil tornou-se o maior produtor de soja do mundo. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2019/20, o País produziu aproximadamente 125 milhões de toneladas de soja, ocupando cerca de 37 milhões de hectares de área plantada. Dentro desse mercado, o Ceará ainda ocupa pouco espaço. As primeiras tentativas de produção de soja no Estado ocorreram em meados de 2002, visando atender principalmente a demanda de grãos da avicultura cearense. De lá para cá, o grão tem sido cultivado com o mesmo objetivo de suprir essa demanda da pecuária.
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“A produção de grãos, a produção da alimentação animal, é muito carente, muito suscetível a commodities. No caso da soja, por exemplo, as maiores produções estão no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul. Então, ficamos muito suscetíveis à variação e à produção de lá, porque aqui se produz pouco. Por isso, cultivar soja pode ser estratégico”, avalia Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet).
Na Chapada do Apodi, no Leste do Ceará, o Projeto Irrigação Jaguaribe-Apodi (Dija) tem acolhido produtores interessados no cultivo da soja. Dagoberto Faeda é produtor de soja e tem áreas plantadas dentro do projeto. “Lá tem mais ou menos três mil hectares irrigados, uns 300, 400 hectares para fins comerciais, que seria a produção para a indústria produzir a ração animal. No Ceará, o período chuvoso no inverno é muito curto. Se fôssemos plantar contando só com o inverno, seria difícil essa produção. Mas como é uma região que usa também a irrigação, já é mais propícia para essa produção de soja. O que a chuva não complementa, a irrigação complementa”, pontua.
Vantagens de produção
De acordo com informações da Sedet, em 2020, o Brasil teve uma grande exportação de grãos de milho e soja, principalmente para países asiáticos, a Europa e os Estados Unidos. Isso, por sua vez, acabou elevando o preço do produto.
“Para você ter uma ideia, no final de fevereiro de 2020, a soja estava R$ 87, 61. Agora, no final do mês, chegou a R$ 166,38. quase o dobro. Isso são números do Centro de Estudo Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Então, subiu muito o preço e o pessoal está percebendo esse ano que pode ser uma boa ideia produzir soja. Tenho uma área para produzir, tenho um recurso para produzir, mas o que eu vou produzir? O que me dá maior retorno econômico. E, no caso, em 2021 está bem latente a questão da soja. No Ceará, a expectativa é de aproximadamente 600 hectares de soja na Chapada do Apodi. Talvez possa vir até a ser mais”
Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Sedet
Dagoberto Faeda, inclusive, ressalta a importância da produção do Jaguaribe Apodi para outros setores da economia.
“Basicamente, o que alimenta a cadeia de toda a produção de carne são dois produtos: a soja e o milho. E a soja é muito importante nessa cadeia. Sem ela, não se faria ração para alimentar frangos, suínos, caprinos, o gado leiteiro, de corte. Então ela é um produto essencial para a produção de carne, impactando outros mercados além da agricultura”
Dagoberto Faeda, produtor de soja
Perspectivas
Segundo Sílvio Carlos, a alimentação animal ainda é o principal foco de produção, principalmente pelo tipo de agricultura que é desenvolvido no Estado. “95% da área que o Ceará produz é de agricultura de sequeiro e apenas 5% é irrigável. Esses 5%, no final das contas, equivalem a um valor da produção quase igual aos 95%. O que estamos incentivando com os agricultores é: se vai produzir alguma coisa, produza culturas mais do que milho e feijão, produza primeiro culturas de alto valor agregado, que vão para alimentação animal. Porque, ao invés de comprarmos de fora, produzimos aqui mesmo. Esse é um foco”, afirma.
Como a agricultura de sequeiro depende muito da chuva, é preciso ter bons invernos e acompanhar as previsões da Funceme para começar o plantio. Conforme o secretário executivo da Sedet, o Ceará ainda não possui uma produtividade muito elevada como a dos outros Estados, seria necessário o uso da irrigação. “Aí sim teríamos condições boas de produzir. Mas, às vezes, dependendo da cultura, o preço da energia de irrigação não compensa, sendo melhor apostar na agricultura de sequeiro”, avalia.
Segundo Silvio Carlos, o Brasil está em um momento favorável ao crescimento, com o agronegócio aquecido, principalmente devido à demanda de exportação.
“Nesse ano, o País deve bater R$ 1 trilhão em PIB agropecuário. E isso tudo é motivo para o setor produzir ainda mais, envolvendo a tecnologia e a busca de novos investimentos. O Estado do Ceará não fica atrás, ele está nessa linha. Agora, temos focado muito na questão de produtos estratégicos, com o menor consumo de água, aproveitando as condições climáticas que nós temos para produzir cultura com alto valor agregado”
Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Sedet