De inovação e empreendedorismo o Ceará entende. Afinal, a soma de esforços dos atores do ecossistema cearense de inovação com as ações empreendidas pelo governo estadual tem proporcionado o seu avanço. Cenário onde a interiorização do desenvolvimento é um dos reflexos importantes desse processo. É sob essa perspectiva que a professora do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e diretora do Polo de Inovação Fortaleza, Cristiane Borges, analisa a inovação no Estado e o papel dos investimentos públicos na área.
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“Quando falamos em inovação, é interessante falar sobre as ações governamentais e como elas têm se refletido em todo o Ceará. É todo um conglomerado de atores que juntos têm proporcionado o avanço da inovação, interiorizando o desenvolvimento”
Cristiane Borges, diretora do Polo de Inovação Fortaleza
Para ela, o papel dos editais de fomento de parceiros como a Empresa Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a atuação das instituições de ciência e tecnologia, dos grandes players do mercado, o número de startups e empresas inovadoras do Ceará, assim como os talentos locais desenham um quadro promissor para o Estado.
“Temos a Finep e seus programas para empresas e startups, fomentando o investimento e, assim, proporcionando a ampliação da inovação. Temos também a implementação dos Clusters de Inovação pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet); os corredores digitais; as Instituições de Ciência e Tecnologia públicas e privadas, que têm feito a diferença e trazido inovação, proporcionando o desenvolvimento com pesquisas de ponta, entre outras iniciativas como o Iracema Digital, que tem conseguido juntar empresas, academia e setor público. São ações, entre muitas outras, que repercutem nas mais diversas esferas públicas e privadas no Estado”, destaca.
Foi mediante esse contexto que a professora abriu a mesa redonda “Investimentos públicos em Inovação”, parte da programação da segunda edição da “Escola de Verão”, evento voltado para a troca de conhecimento e experiências em Inteligência Artificial, em uma promoção do Instituto Iracema Digital em parceria com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitece) e da Sedet, assim como da Fecomércio e do Hub Cumbuco. O evento ocorreu nos dias 29 e 30 de janeiro de 2021, transmitido pelo YouTube em quatro salas localizadas virtualmente no litoral do Estado.
De acordo com Cristiane Borges, o Polo de Inovação Fortaleza faz parte dos 13 polos de inovação dos Institutos Federais em âmbito nacional. No caso da unidade cearense, as principais competências estão ligadas a Sistemas Embarcados e à Mobilidade Digital, tendo como subáreas a Inteligência Artificial, Ciência de Dados, Software e Protocolos para Aplicações Móveis e Sistemas Embarcados, assim como Computação em Nuvem e Virtualização e Internet das Coisas (IOTs).
Segundo ela, as ações do Polo Fortaleza têm estendido sua atuação nos Campi do IFCE em Aracati, Morada Nova, Sobral, dentre outros no Interior do Estado, proporcionando desenvolvimento local com ações e empresas de cada região. “No entanto, a intenção, agora, é expandir o nosso Polo de Inovação criando braços nos demais Campi do IFCE que ainda não possuem ações vinculadas a ele. Ao todo são 33 Campi espalhados no Ceará”, fala.
Ligado à EMBRAPII (Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), organização social qualificada pelo Poder Público Federal que apoia instituições de pesquisa tecnológica fomentando a inovação na indústria nacional, o Polo do IFCE no Ceará, tem desenvolvido projetos em várias áreas. A saber, saúde, agricultura, tecnologia da informação, alimentos, energia, aquicultura, transportes, segurança, entre outros. “Com efeito, fazendo um balanço de dezembro de 2015, quando fomos credenciados junto à EMBRAPII, a janeiro de 2021, já estamos chegando a quase R$ 32 milhões aplicados em projetos de inovação no Ceará”, expõe Cristiane Borges.
Conforme a professora, o modelo de financiamento EMBRAPII funciona da seguinte forma: as empresas procuram o Polo de Inovação. Em seguida, é construído um plano de ação, onde parte do recurso vem da EMBRAPII e parte da empresa. Na proporção de 50% do valor do projeto para cada uma das partes.
Também presente na mesa redonda “Investimentos públicos em Inovação”, o gerente do Departamento Regional Nordeste da Empresa Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Paulo Resende destacou que o comprometimento com a inovação deve ser algo permanente. “Até porque existem muitos estudos internacionais que comprovam que a inovação é um dos vetores que mais contribuem para a geração de riquezas”, conta. Desse modo, afirma, as empresas precisam se conscientizar cada vez mais da importância da inovação e dos benefícios conexos.
“Não é só o fato de investir e ter uma tecnologia que dê mais produtividade. Ao mesmo tempo, a tecnologia permite às empresas ganharem mercado mais rápido, ajuda a exportar a produção, a reter mais receita a ponto de adquirir concorrentes e ganhar posição no mercado”
Paulo Resende, gerente do Departamento Regional Nordeste da Finep
Ele ressalta a importância de os empreendedores e pesquisadores buscarem os recursos disponíveis, a exemplo dos que a Finep disponibiliza. “Localizado fisicamente em Fortaleza, o Departamento Regional Nordeste da Finep já tem quatro anos de atuação e atende, em termos de interlocução e fomento de operações, os nove estados do Nordeste. Não só ao Ceará. Nosso compromisso com o Estado e a Região é fazer com que as alternativas e opções de captação de recursos estejam claras e disponíveis”, diz.
Ao mesmo tempo, emenda Resende, a Finep passou por um processo de transformação, abrindo gradualmente um leque de opções. “Hoje, atendemos todos os portes de empresas e todos os setores da economia. Afinal, a inovação é um processo dinâmico e precisa encontrar apoio e as instituições financiadoras precisam estar abertas a receber os projetos. Ainda mais sob a ótica do que há de novo e diferenciado que esses projetos podem proporcionar”, afirma.
Na agenda da instituição, segundo o diretor, estão o apoio a empresas por meio de uma série de editais de fomento e chamadas públicas. “Nesse leque de opções, um grande sucesso nacional é o Programa Centelha, que aporta recursos para criação de startups inovadoras, assim como dá apoio àquelas recém-nascidas. Ou seja, cria-se oportunidades desde a origem dos negócios, fomentando permanentemente a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação”, explica.
Falando mais especificamente do Ceará, Paulo Resende destaca a influência, não só localmente como a nível regional e nacional, do ecossistema cearense de inovação. “Os impactos que o Ceará pode trazer em termos econômicos e tecnológicos, da forma como inova, é muito firme”, afirma.
Não é à toa, emenda o responsável pela captação de recursos financeiros para inovação da SDL Gestão, Analio Rodrigues, o destaque que se dá para o pioneirismo do Estado no Brasil quando o assunto é inovação.
“O Ceará foi um dos primeiros estados a criar uma Secretaria de Ciência e Tecnologia, a Secitece. Em seguida, veio a criação da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Depois, mais recentemente, na esfera municipal, a implementação da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação (Citinova) pela Prefeitura Municipal de Fortaleza continuou demonstrando o pioneirismo do Ceará, desta vez entre as prefeituras do país”, relata.
Rodrigues que também integrou a mesa redonda “Investimentos públicos em Inovação”, da segunda Escola de Verão, reforçou a importância dos recursos públicos para a inovação.
“O investimento público tem tido um papel fundamental para o modelo de inovação do Ceará. Seja por meio do aporte direto de recursos, por incentivos fiscais e das compras governamentais de inovação, o que chamamos de encomendas públicas. Não há saída sem esse esforço governamental”
Analio Rodrigues, responsável pela captação de recursos financeiros para inovação da SDL Gestão
Nesse sentido, ele também chamou a atenção para o fato de o Estado ter investido na infraestrutura de apoio à inovação, assim como para o papel das agências de financiamento, os fundos setoriais e a legislação a exemplo da Lei do Bem e da Lei de Informática. “Ou seja, com a força desse conjunto de atores e iniciativas, o Ceará tem condições de ser um estado diferenciado em inovação. Basta ver a sua aplicação em setores como o de energia eólica, flores, frutas e muitos outros. Em suma, a inovação está transformando o Ceará”, concluiu.
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