Investir em inovação é uma das maneiras mais eficazes de manter um negócio competitivo e até mesmo fazê-lo se destacar em períodos de crises. Porém, para que isso aconteça, além de desenvolver essa cultura internamente nas organizações, é importante estabelecer uma relação entre empresas e academia. Afinal, as universidades possuem a pesquisa no seu DNA.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
Dentro do ambiente acadêmico nascem projetos inovadores que podem revolucionar os diversos setores da economia, melhorar a vida das pessoas e fazer um país ou região se desenvolver de maneira mais sustentável. Nesse sentido é que a relação entre empresas e academia precisa de atenção. Frequentemente, os dois lados têm interesses complementares, pois um tem como objetivo gerar conhecimento e o outro precisa de apoio para desenvolver novas tecnologias. Em outras palavras, soluções para manter a roda da economia girando.
Desse modo, quanto mais intensa for essa aproximação, maior será o número de recursos colocados à disposição da sociedade. “A integração entre a academia e as empresas é crucial para o desenvolvimento dos ecossistemas de inovação. Em se tratando de Inteligência Artificial (IA) a premissa também é verdadeira”, defende Marcos Hirano, cofundador da B2INN, empresa que tem como propósito a difusão da cultura de inovação e empreendedorismo.
“Aliás, um ecossistema de inovação só se desenvolve se houver a integração de todos os seus atores, no caso a indústria, a academia e ainda o governo, o que se traduz no próprio conceito da Hélice Tríplice, modelo que se alicerça nessa conexão”, emenda Thiago Fernandes, também cofundador, junto com Hirano, da B2INN.
Ambos mediaram a mesa redonda “Academia e Empresas”, durante a segunda edição da “Escola de Verão”, evento voltado para a troca de conhecimento e experiências em Inteligência Artificial, realizado nos dias 29 e 30 de janeiro último em quatro salas virtuais no litoral do Ceará.
Além de Fernandes e Hirano, o professor Wally Menezes, atual reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e o empreendedor Mario Macêdo, CEO da Sobralnet, empresa pioneira no acesso a redes de telecomunicações no interior do Estado, se juntaram ao debate sobre a relação entre empresas e academia.
“Precisamos um do outro. A contribuição entre o setor produtivo e as universidades deve ser mútua. Existem muitas iniciativas na sociedade que buscam essa integração”
Mario Macêdo, CEO da Sobralnet
De acordo com Menezes, quando o assunto é a relação entre empresas e academia, a primeira linha de ação deve ser perder o medo de dialogar. “Tanto as empresas como a academia precisam apresentar seus desafios. A academia deve ir para dentro das empresas, ao passo que as empresas precisam interagir mais com professores e estudantes, a fim de incentivar a aprendizagem baseada nos desafios que o mercado impõe”, afirma. Uma vez essa relação estabelecida, expõe, gera-se um alinhamento mediante uma maior visão de mundo.
“Não se faz mais tecnologia e produtos se baseando apenas no habitat de cada um. Essa visão de mundo é necessária para que se possa ter uma internacionalização dos processos. Além disso, outro ponto estratégico é o empreendedorismo, que precisa ser incentivado, diferentemente do que se via nas gerações anteriores, que estudavam mais focadas em conseguir um emprego”
Wally Menezes, reitor do IFCE
Conforme disse, o empreendedorismo deve ser incentivado tanto em nível de legislação, “pois não adianta ser empreendedor se as leis travam o desenvolvimento”, como também mediante o estabelecimento de níveis de oportunidades e conectividade com o mundo.
Tomando como exemplo o IFCE, comunidade acadêmica com 33 campi e um Polo de Inovação, Menezes relata como se desenvolve a relação entre empresas e academia no Ceará. Na sua avaliação, embora em cidades como Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte, que ostentam o status de regiões metropolitanas e apresentam uma estrutura industrial maior do que outros municípios cearenses, seja mais fácil estabelecer essa integração, ainda assim é possível fazer o mesmo nas cidades menores do Estado.
“Em Umirim, por exemplo, que é um município pequeno e que não tem uma estrutura industrial expressiva como outros municípios, essa integração se dá com a academia saindo de seu domínio, buscando uma aproximação com as indústrias que estão ali no seu entorno ou até mesmo com aquelas que estão fora do seu habitat, cuja distância as ações institucionais conseguem resolver”, explica.
De acordo com ele, o campus do IFCE em Umirim desenvolve uma série de projetos nas áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Inteligência Artificial em parceria, inclusive, com empresas internacionais. “Essas parcerias permitem que os estudantes não só dos cursos de graduação e pós-graduação, mas também de nível técnico, tenham uma proximidade com a pesquisa, com o mundo dos negócios e do empreendedorismo”, conta.
A Cidade de Morada Nova, acrescenta Menezes, é outro exemplo a ser destacado. “O IFCE de Morada Nova criou uma aproximação com a empresa japonesa Furukawa, uma das maiores fabricantes de cabos de fibra do mundo, por meio de uma parceria com a Sobralnet”, fala.
“Ao mesmo tempo, vemos esse tipo de aproximação entre o IFCE e as empresas em Guaramiranga, Boa viagem, Tauá e outros municípios cearenses onde atuamos. E o segredo para gerar essa conexão é sentir a realidade, a necessidade das empresas, para que possamos fazer e atender aquilo que possa gerar recursos para ambos”, revela.
No sentido inverso, Macêdo, da Sobralnet, relata como ele vem promovendo a relação entre empresas e academia sob a ótica do mercado. Por 19 anos professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e, paralelamente, gestor da Sobralnet, há sete anos ele passou a se dedicar exclusivamente à sua empresa. De acordo com ele, o seu trânsito com a indústria e academia na região possibilitou montar um time múltiplo.
O que resultou, segundo ele, na criação do Instituto Cearense em Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo (Icetel). Hoje, uma referência nessas áreas na Região Norte do Ceará. Juntamente com empresas e organizações, o Icetel promove e realiza pesquisas, o ensino e o desenvolvimento institucional das organizações, bem como o aperfeiçoamento da utilização das tecnologias da informação e comunicações.
“Esse trabalho passa pela incubação de startups, por treinamentos em tecnologia, desenvolvimento de softwares, aplicação de Inteligência Artificial entre outras iniciativas”, explica. Ao mesmo tempo, Macêdo chama a atenção para a implementação de uma área de Tecnologia Assistiva. Conforme disse, apesar de o termo ainda ser novo, ele é utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão.
“Em linhas gerais, vejo que as universidades evoluíram muito nos últimos anos, o que acabou gerando mais aproximação entre empresas e a academia. Estamos fazendo isso em Sobral, uma cidade que tomou um viés universitário muito grande, com a presença do IFCE, da UVA, da Universidade Federal do Ceará (UFC)”, avalia.
“Muita coisa já está sendo feita na relação entre empresas e academia no Ceará. Mas sempre há desafios e oportunidades. Porém, o Estado reúne várias condições favoráveis em termos de logística, conectividade, número de instituições e iniciativas”, conclui Menezes, do IFCE.
A segunda edição da “Escola de Verão” foi uma promoção do Instituto Iracema Digital em parceria com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitece) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), assim como da Fecomércio e do Hub Cumbuco.
Investimentos privados em inovação: o exemplo do Ceará
Papel da inovação no investimento público do Ceará
Futuro da inteligência artificial: para onde caminhamos?
Cidades inteligentes: tecnologias a favor da qualidade de vida
Projeto Bora pra China visa fortalecer cooperação entre Ceará e país asiático