A busca por produtos orgânicos tem aumentado nos últimos anos no Brasil. E o número de produtores também. É comum, inclusive, além da grande divulgação de expressões como produção orgânica, também escutar a palavra agroecologia. Mas engana-se quem pensa que esses termos são sinônimos. Sidônio Vieira, agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) e especialista em agroecologia explica a diferença entre ambos.
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“Todo produto agroecológico é orgânico, porém, nem todo produto orgânico é agroecológico. Os produtos agroecológicos têm uma amplitude maior. Eles levam em consideração as questões sociais que o produtor tem em relação à comunidade em que vive. Quem trabalha com agricultura familiar é protagonista da agricultura agroecológica, porque nesta não pode existir a monocultura. E o agricultor familiar trabalha com mandioca, milho, feijão, batata doce, jerimum, entre outros produtos”, afirma. Ele ainda destaca que, hoje, a agricultura familiar é responsável por 70% do que os brasileiros consomem.
Adriano Custódio, auditor fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), comenta que, atualmente, o Mapa tem o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, onde é possível quantificar os produtores regulares, mas que o segmento carece ainda de outros dados primários oficiais, como a estimativa de produção, por exemplo.
“No Ceará, hoje, temos cerca de 1.350 produtores. Esse mercado, com base em dados de consultorias, cresceu 20% por ano, de acordo com o valor da produção, nos últimos 10 anos. Em 2019, o valor da produção no Brasil foi de, aproximadamente, U$$ 1 bilhão, o que representa 1% da produção mundial”
Adriano Custódio, auditor fiscal do Mapa
Antônio Elismar, agricultor do Sítio da Boa Vista, em São Benedito, faz parte da Rede Ecoceara e é também secretário de Finanças da Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar e Biocombustíveis do Estado do Ceará (Cooperbio). Ele comenta que o contexto da pandemia não tem sido favorável à produção de orgânicos. “Hoje, basicamente, é muito difícil a comercialização para feira. E o mercado não absorve tanto quando não se tem feira. Além disso, todo mundo tem buscado economizar. Ano passado, passamos cinco meses sem fornecer. Voltamos em dezembro. A nossa perspectiva para 2021 era de uma melhora bem significativa, mas a pandemia mudou os planos. Então, o que a gente vem mantendo de 2020 já é o lucro”, compartilha.
Adriano Custódio comenta que, por conta da pandemia, houve realmente uma queda na produção, mas que outros canais foram encontrados pelos produtores para continuar no mercado. Um exemplo disso é citado por Antônio Zilval, engenheiro da Ematerce e especialista em agroecologia. “O Crato tem uma feira agroecológica, que era muito frequentada em dia de domingo, na famosa Praça do Bicentenário. Com a questão do lockdown, os próprios agricultores criaram um grupo de WhatsApp e ficaram atendendo por delivery. As pessoas faziam o pedido e eles faziam um roteiro de entrega”, conta.
“Existe uma questão cultural muito forte de dizer que a produção só aumenta com uso de agroquímicos. Mas, com essas técnicas que estamos mostrando para os agricultores, a gente está conseguindo uma produção praticamente igual. Além disso, a produção orgânica tem mais sabor, teor de açúcar menor, os produtos são mais bem apresentados, sem manchas de agrotóxicos. Então, a gente acha que é um caminho sem volta, que só tem a crescer”
Sidônio Vieira, agrônomo da Ematerce e especialista em agroecologia
Antônio Zilval Teles também acredita que o cenário da produção orgânica do Ceará é de crescimento.
“Esse mercado está se desenvolvendo não só partindo dos agricultores familiares, como também dos consumidores. Muitas pessoas estão consumindo produtos orgânicos, observando a importância e o valor desses produtos. Se você entra no supermercado, os produtos orgânicos estão em um lugar diferente dos convencionais, justamente por serem diferenciados, com uma melhor qualidade. E é por isso que tem aumentado a sua procura”, avalia o engenheiro agrônomo da Ematerce.
Antônio Zilval Teles, engenheiro agrônomo da Ematerce