Pagar impostos, fazer um cadastro, emitir documentos, agendar um atendimento médico ou simplesmente saber como está a sua situação fiscal. Já parou para pensar quantas vezes, nos últimos 12 meses, você fez isso sem sair de casa? O fato é que a oferta de serviços públicos ao cidadão por meio digital foi ampliada e, atualmente, ao menos uma centena de serviços para os quais você antes precisava se deslocar para ter acesso, agora, os tem na palma da mão. Para isso, basta pegar o celular. Isso se deve à transformação digital no Governo do Ceará que, paulatinamente, além de ganhar espaço na administração estadual, o mesmo ocorre nas administrações municipais.
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Segundo os especialistas no tema, temos aí uma via de mão dupla. De um lado, ganha o poder público, ao eliminar o papel, reduzir custos, otimizar recursos, gerenciar obras públicas, identificar mais rapidamente as demandas da sociedade e prestar um melhor serviço à população. Já na outra ponta, o cidadão, por sua vez, tem a sua vida facilitada e transformada gradativamente no dia a dia por meio da tecnologia. Para os estudiosos, a transformação digital no governo, assim como ocorre no setor privado, é um caminho sem volta. Vem com a missão de auxiliar na resolução de vários desafios, tornando a gestão pública ainda mais eficiente e as políticas em prol da população mais eficazes.
Nesse sentido, um leque de ferramentas como as tecnologias de informação e comunicação (TIC), a Inteligência Artificial, a computação em nuvem, Big Data e tantas outras se combinam para encontrar soluções inovadoras. Capazes de fazer com que o Governo do Ceará dê um salto qualitativo na sua atuação, proporcionando competitividade e produtividade para as empresas instaladas em seu território, assim como promovendo a capacitação e inclusão da sociedade, para que todos possam se desenvolver e prosperar.
“Para resolver os problemas complexos do Estado e apresentar soluções trabalhamos em três eixos: pessoas, processos e tecnologias. Estamos falando de pessoas treinadas, processos definidos e o uso das tecnologias certas para automatizar esses processos e acelerar o desenvolvimento do Estado”, expõe José Macêdo, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e cientista-chefe de dados da Transformação Digital do Governo do Ceará.
Segundo ele, o processo de transformação digital no governo cearense nasceu a partir da criação do Iris, um laboratório de Inovação e Dados. A iniciativa é do Governo do Estado, por meio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e da UFC. A saber, o equipamento trabalha em cooperação com as secretarias e demais órgãos do governo na identificação de oportunidades e soluções.
“Essa junção entre governo e academia foi o que viabilizou o Iris, que está junto ao poder central do Estado, de tal maneira que possa orientar as iniciativas e acelerar a transformação digital dentro do governo”
José Macêdo, cientista-chefe de dados da Transformação Digital do Governo do Ceará
De acordo com Macêdo, o laboratório se traduz em um espaço de cocriação e teste de novas ideias tendo como missão disseminar a cultura da inovação a fim de acelerar a transformação digital na gestão pública estadual. “A proposta é reunir em só local as várias secretarias do Estado de tal maneira que possamos estudar os problemas e propor soluções inovadoras”, explica.
Com pouco mais de um ano, completos em janeiro de 2021, o Iris já ganhou o Prêmio Espírito Público, de reconhecimento nacional, ao receber a Medalha Espírito Público 2020, pelos trabalhos que realizou principalmente junto às áreas de saúde e planejamento durante a pandemia do novo coronavírus ao criar soluções inovadoras. “Esse reconhecimento só demonstra que nós estamos no caminho certo”, comemora.
Segundo Macêdo, o laboratório de Inovação e Dados do governo cearense atua de acordo com três pilares: Cultura de Inovação, Ciência de Dados e Governo Digital, a fim de garantir a transformação digital. “Por meio da Cultura de inovação, procuramos desenvolver novas habilidades e formas de trabalho. Até porque, na verdade, a transformação digital passa pela transformação das pessoas, não é só tecnologia. Esta é um meio e não um fim. Então, a gente precisa mudar a cultura e o comportamento das pessoas para que a inovação se estabeleça. Fazemos isso com treinamento, oficinas, reuniões e materiais para desenvolver habilidades e novas formas de trabalho junto com todas as secretarias”, expõe.
No que tange à Ciência de Dados, o professor ressalta que o trabalho do governo passou a se basear no uso de dados para a tomada de decisão. “Desenvolvemos o projeto Big Data Ceará, que é a integração entre dados e sistemas de todas as secretarias de Estado, a fim de apoiar os gestores e servidores a tomarem decisões com base em evidências”, afirma. Por fim, com o pilar Governo Digital, traduz Macêdo, fala-se da experimentação e aceleração de soluções, onde a tecnologia é o foco. “Ou seja, como levar as novas tecnologias para melhorar os serviços, criar canais mais dinâmicos entre o cidadão e o governo, como acelerar o desenvolvimento, como tornar esse processo mais barato entre outras questões”, explica.
Nesse pilar, ele chama a atenção que, além das ferramentas digitais, entram outras iniciativas, a exemplo de mudanças nos processos de trabalho e realocação das equipes. “Uma novidade é que neste momento estamos criando um laboratório dentro do Iris, ou seja, um laboratório dentro do laboratório, que é a experimentação com o cidadão. Breve, teremos nas ruas essa experimentação feita direto na ponta”, adianta. Conforme o cientista-chefe, o foco da transformação digital no Governo do Ceará é torná-lo acessível, inclusivo, centrado no cidadão. E assim, personalizar os serviços para a população e entender cada cidadão como único.
Levando-se em consideração que o Iris se comporta como um acelerador da transformação digital no governo, Macêdo aponta que ações viabilizam esse papel. Primeiramente, existem as experiências educacionais, a mentoria de inovação e o benchmarking, trazendo experiências de fora para dentro do Ceará. Em seguida, vem o design thinking, o design de serviços focados na experiência do usuário, a aceleração de projetos, os protótipos de soluções, construção de redes e networking. “Criamos um ambiente onde a inovação possa existir e se proliferar”, afirma.
Segundo o cientista-chefe José Macêdo, existem muitos exemplos de como a transformação digital no Governo do Ceará está mudando a vida da população. Principalmente em meio à pandemia da Covid-19. “Nesse sentido, citamos a implementação do Plantão Coronavírus, o atendimento virtual de saúde, solução que começou a funcionar, desde a sua concepção, em menos de duas semanas. Com ela, criamos um chatbot na ponta e, em seguida, o atendimento humanizado por meio de enfermeiros e médicos”, relata.
Para chegar à aplicação, ele conta que a Inteligência Artificial foi utilizada, criando uma rede neural para detecção de sintomas a partir das conversas dos cidadãos com robôs e os profissionais de saúde. “Isto ajudou a equipe de epidemiologia da Secretaria de Saúde a identificar possíveis novos sintomas e a descobrir o que a população estava sentindo para poder agir”, explica. Juntamente com a Inteligência Artificial, foi utilizada a Ciência de Dados para rastrear e analisar como a doença estava se espalhando no Ceará. “Na verdade, reaproveitamos na Saúde uma solução desenvolvida para a Secretaria da Segurança Pública, que permite a análise de manchas criminais”, expõe.
Ainda de acordo com ele, esta mesma solução será adaptada para programas de proteção social mapeando famílias abaixo da linha da pobreza no Ceará, dentro do Programa Mais Infância, com o objetivo de acompanhar a efetividade das políticas públicas nessa área e dar mais transparência para a população do que está sendo feito. Simultaneamente ao Plantão Coronavírus, Macêdo destaca a implantação da Plataforma de Atendimento da Secretaria da Fazenda, o Portal Único de Serviços do Estado, quando surgiu, então, o Ceará App, integrando mais de 40 serviços digitais em um único aplicativo.
Ao mesmo tempo em que novas soluções vão sendo implementadas para digitalizar os serviços públicos já existentes e criar outras aplicações dentro do processo de transformação digital no governo, a transferência dessas tecnologias para os municípios do Ceará também está em pauta.
“Já estamos fazendo uma colaboração com algumas prefeituras, a exemplo de Sobral e Fortaleza. A proposta é criar laboratórios de inovação com o mesmo perfil do Estado nas prefeituras, reaproveitando as soluções que desenvolvemos, deixando-as disponíveis para as os governos de cada município. Portanto, a ideia agora é fortalecer essas redes. Até porque, a inovação só vai acontecer se criarmos uma grande rede no Ceará, onde prefeituras e governo estadual estejam interligados”
A explanação e as considerações de como está acontecendo a transformação digital no governo foram feitas durante o painel “Transformação Digital no Governo do Ceará, parte da programação da segunda edição da “Escola de Verão”, evento voltado para a troca de conhecimento e experiências em Inteligência Artificial. Em uma promoção do Instituto Iracema Digital em parceria com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitece) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), assim como da Fecomércio e do Hub Cumbuco, o evento ocorreu nos dias 29 e 30 de janeiro de 2021, transmitido pelo YouTube em quatro salas localizadas virtualmente no litoral do Estado.
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