O quarto trimestre de 2020 trouxe resultados animadores para os números do PIB trimestral cearense. Foi o que mostrou a divulgação realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) nesta terça-feira (23). Apresentando a tendência do desempenho da economia do Estado no curto prazo, o PIB do Ceará em 2020 apontou melhor resultado que o brasileiro, com redução de 3,56% em relação a 2019, enquanto o País chegou a uma queda de 4,1%. O cálculo é composto pelos números dos setores da agropecuária, da indústria e de serviços. Atualmente, outros sete estados também calculam a sua economia trimestralmente: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo.
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Em relação ao trimestre anterior, o quarto trimestre do PIB cearense teve crescimento de 1,37%. De acordo com Nicolino Trompieri Neto, analista de Políticas Públicas do Ipece, esse resultado pode ser considerado positivo, pois vem mostrando a recuperação da economia do Estado durante o segundo semestre.
“O segundo semestre teve um processo de reaquecimento da economia. E esse processo foi beneficiado pelos investimentos públicos. 2020 foi o ano em que o Ceará obteve maior nível percentual de investimento público. Ainda assim, a retomada não conseguiu reduzir todos os efeitos negativos da pandemia”
Nicolino Trompieri Neto, analista de Políticas Públicas do Ipece
Esses efeitos, inclusive, foram sentidos nos setores da indústria e de serviços, que apresentaram queda de 7,11% e 3,60%, respectivamente, em relação a 2019, enquanto a agropecuária cresceu 10,31%.
O crescimento da agropecuária pode ser explicado pela atividade ser considerada um setor essencial e não ter paralisado durante a pandemia. Além disso, de acordo com Cristina Lima, assessora técnica do Ipece, as condições climáticas foram bastante favoráveis para o Ceará, com chuva acima da média. “Estamos no quarto ano consecutivo de crescimento da agropecuária. O crescimento do milho foi de 50% em 2020, se comparado a 2019, e o de feijão foi de 13%. Nas hortaliças, se destacam a produção do tomate, com crescimento de 9%”, ela lista.
Além disso, a fruticultura também teve um bom desempenho em 2020, com destaque para o crescimento do maracujá (38%), coco-da-baía (34%) e mamão (29%). Outras frutas que também cresceram, e se destacam principalmente no mercado de exportações, foram a melancia (17%), o melão (7%) e a banana (6%). As atividades pecuárias também foram favoráveis, com aumento principalmente do consumo da carne de ave e ovos. Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), ressalta que os números do setor são excelentes para atração de investimentos para o Ceará.
“A partir deles, nós podemos ter outros olhares, de outros estados e países, que querem investir na região, tendo em vista a questão da infraestrutura logística, principalmente, de escoamento da produção, até focado em exportação. A nossa estrutura governamental e a possibilidade de ampliação de novas áreas também chamam atenção. Novos investimentos já estão sendo vislumbrados e esse número de resultado positivo anima o setor”
Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Sedet
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Rodrigo Diógenes, também vê os números do PIB estadual com empolgação. Ele aponta a agropecuária como atividade muito relevante para os municípios cearenses. “Estima-se que o Estado tenha 1,4 milhão de agricultores familiares e cerca de 499 mil pequenos e médios produtores. Ano passado, mesmo com a pandemia, conseguimos levar capacitação para cerca de 60 mil produtores de forma híbrida (on-line e presencial) e ampliamos o programa de Assistência Técnica e Gerencial para cerca de 2 mil produtores em seis cadeias produtivas”, compartilha.
De acordo com Witalo Paiva, analista do Ipece, os números do setor industrial podem ser analisados em dois períodos: durante a fase mais aguda da pandemia, na primeira onda, e durante todo o segundo semestre, apontado como o momento de recuperação da economia. Ele comenta que, apesar da indústria ter fechado 2020 negativo, o recuo veio abaixo do que era esperado. A indústria cearense cresceu 1,60%, enquanto a brasileira cresceu 1,2%. Já o PIB do quarto trimestre, comparado com o trimestre anterior, obteve 3,47% para o setor.
Paiva demonstra que o único número positivo em crescimento da indústria, em 2020, foi o de atividades da construção civil, que merece ser bem destacado no atual cenário de queda. Esse resultado é atribuído às reformas feitas nos lares, por conta das mudanças de hábito provocadas pela pandemia. Já a queda nas atividades de transformação de quase 7%, que representam o principal segmento da indústria cearense, é explicada principalmente pelas medidas de restrição. Segundo o analista, o cenário é de recuperação, mas ainda não o suficiente para compensar as perdas até junho do ano passado.
O setor de serviços, considerado o mais representativo da economia cearense, também apresentou queda na comparação anual, mas teve crescimento de 1,48% na comparação trimestral em relação ao trimestre anterior. Alexsandre Lira, analista do Ipece, também pontua que a previsão era de uma queda maior do segmento e que os números mostram um comportamento de recuperação da economia.
De acordo com o Ipece, a perspectiva projetada para 2021 para o crescimento da economia cearense é de 3,55%. Esse crescimento esperado para o PIB estadual é, atualmente, levemente menor do que a expectativa divulgada em dezembro de 2020. Apesar disso, o número é superior ao projetado pelo Relatório Focus do Banco Central do Brasil para a economia brasileira: 3,23%. Para os especialistas do instituto, 2021 pode ser apontado como um ano de recuperação econômica para o estado do Ceará.