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Ecossistemas de inovação: cooperação do âmbito local para o internacional

Ecossistemas de inovação nada mais são do que um conjunto de fatores que estimulam a interação e a cooperação. Eles se formam internamente nas empresas e por meio da sua conexão com os demais atores desse processo. Por exemplo, instituições de ensino, governos, parques tecnológicos, startups, incubadoras e associações. Como resultado, tais ambientes acabam se tornando polos criativos, impulsionando o resultado do setor produtivo, promovendo novos talentos e desenvolvendo a economia. O que também acaba se refletindo territorialmente, com vários ecossistemas de inovação interagindo a nível de cidades, estados, regiões e países. Mas e quando essa interação vai além das fronteiras, acontecendo internacionalmente?


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“Temos um desafio muito grande que é aprender com as experiências internacionais. Elas podem fortalecer ainda mais o ecossistema de inovação do Ceará. Para isso, conhecer outras realidades, atores e como eles se conectam ajuda a desenvolver economicamente o Estado e, principalmente, a trazer oportunidades para população. Tanto por meio da educação e da infraestrutura de tecnologia, assim como da conectividade já criada”, expõe Júlio Cavalcante, secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet).

Ao lado da infraestrutura tecnológica e educação implementada para estimular a inovação, emenda o gestor, o Governo do Ceará também tem focado em uma política de clusters econômicos. O programa busca incluir os ecossistemas de inovação do Estado nesse processo, atuando na integração entre iniciativa privada, academia e instituições de fomento.

E no bojo da iniciativa, reforça, organização e articulação são fundamentais para continuar desenvolvendo tecnologicamente o Estado. “Por isso, trazer experiências de fora, conhecer realidades diferentes, outros ecossistemas de inovação e como suas conexões acontecem certamente ajudará nessa articulação”, afirma.

Com essa premissa, Cavalcante conduziu o painel “Ecossistemas de inovação ao redor do mundo”, onde as experiências de países como Portugal, França, Holanda, China e Colômbia foram apresentadas com o intuito de contribuir com a inovação no Ceará.

Experiência de Portugal

Segundo Augustin Olivier, chefe de Desenvolvimento de Negócios do INESC TEC, instituição privada sem fins lucrativos centrada na investigação científica e desenvolvimento e transferência de tecnologia, Portugal passou nos últimos 30 anos por três etapas importantes até chegar ao estágio atual. Hoje, os Laboratórios Colaborativos e duas Agências Nacionais, estas responsáveis pela gestão dos financiamentos, se articulam com o mercado para a promoção da inovação em seu país.

“Os ecossistemas de inovação em Portugal vêm se modificando ao longo dos anos, por meio de erros e acertos. Começamos, há 30 anos, com os institutos de interface entre o mundo acadêmico e o mundo empresarial. Depois vieram os centros de competência, que são institutos muito próximos aos seus setores de atuação. Em seguida, há cerca de dez anos, começaram a surgir os clusters, agrupando empresas e pesquisadores dentro de um mesmo grupo associativo para poder discutir, preparar e alavancar a inovação. Nesse processo, algumas instituições prosperaram convivendo hoje com os laboratórios colaborativos e a as agências nacionais”, recorda.

O fato, afirma, é que todo esse processo possibilitou uma revolução na economia de Portugal. E a identificação e o apoio aos ecossistemas de inovação tiveram um papel fundamental. “Como exemplo, temos que entre os anos de 1995 a 2016, a taxa de produtividade da indústria de transformação foi multiplicada em 170% aplicando a inovação a nível de produto e melhoria de processos. Portanto, isto revela como a inovação permite o crescimento e o avanço tecnológico e econômico”, justifica Augustin.

França: atração de talentos

Para Anderson Chaves, mestre em Ciência e Engenharia de Dados pela Universidade de Paris-Saclay e pela escola de engenheiros Télécom, também na capital francesa, cidade onde vive há cinco anos atuando no ecossistema de inovação do país, o que têm diferenciado a França perante a comunidade internacional de inovação é a criação da La French Tech.

“La French Tech é um movimento construído a várias mãos, incluindo startups, investidores e legisladores do poder público aberto a toda à comunidade interessada. O objetivo desse movimento é centralizar esforços a fim de melhorar o ambiente de negócios inovadores no país”, conta.

Anderson Chaves, mestre em Ciência e Engenharia de Dados pela Universidade de Paris-Saclay

De acordo com ele, esta tem sido a bandeira comum e a força de coordenação e conexão de todos os atores envolvidos. “É interessante ver que esse movimento traz uma amplitude para o processo de inovação na França tanto em redes internas como também em redes externas”, fala.

Porém, pontua Chaves, o que chama a atenção nesse contexto é a implementação de uma nova modalidade de visto para quem deseja viver e trabalhar na França: o La French Tech Visa. Esse tipo de visto é destinado a estrangeiros interessados em contribuir para os ecossistemas de inovação na França, seja investindo diretamente, abrindo um negócio inovador, ou trabalhando para uma startup em território francês.

“O La French Tech Visa pretende reduzir a burocracia de acesso à França e se estende à família direta do interessado, um grande diferencial entre as alternativas propostas por outros países na Europa”, acrescenta.

Além disso, Chaves relembra que o presidente francês Manoel Macron constantemente fala que, nos próximos anos, quer transformar a França em uma “Nação de Startups”. Para isso, incentivos como a redução de impostos e um fundo de investimentos estão contribuindo para fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de soluções inovadoras no país.

“Hoje, a França é um dos poucos países no mundo que possuem uma estratégia de Inteligência Artificial. Isso mostra que o país está comprometido em não ficar para trás em termos de inovação, sinalizando a todos os atores sobre o que esperar em ações nos próximos anos”, afirma.

Holanda: o peso da iniciativa privada

Segundo Tiemo Arkesteijn, executivo do Porto de Roterdã, com forte atuação na promoção da inovação neste que é um dos maiores complexos portuários do mundo, a academia e o governo costumam apoiar os negócios inovadores nos estágios iniciais. Entretanto, são as empresas privadas que tendem a viabilizar estas iniciativas quando se fala em escala.

“A participação da inciativa privada é muito importante para os ecossistemas de inovação. Afinal, o investimento é o pilar mais importante. Nesse processo, criamos uma aceleradora a fim de aumentar e fortalecer a inovação no porto e complexo industrial de Roterdã, onde a logística tem um papel importante. Para reduzir a burocracia é preciso investir em inovação”

Tiemo Arkesteijn, executivo do Porto de Roterdã

Nessa direção, aponta, três fatores são fundamentais: foco na logística, aplicação de soluções inovadoras que sejam concretas e o envolvimento do setor privado. “Buscamos startups e empresas inovadoras para agregar valor ao complexo, aplicando soluções comprovadas para resolver os problemas efetivos. E o envolvimento do setor privado na validação dessas startups e das suas respectivas soluções e produtos é fundamental para avançar”, afirma.

China: valorização do aprendizado

“Na China existem ecossistemas de inovação dos mais variados portes e desafios diferentes. Clusters de inovação em diversos níveis de maturidade, o que confere um processo de desenvolvimento tecnológico muito abrangente”, expõe o cearense Alexandre Marques, atualmente professor da Universidade de St. Joseph, em Macau.  

De acordo com o professor, na região da grande baía chinesa, onde fica Macau e Hong Kong, há oportunidade de conhecer realidades completamente distintas. Em Macau, por exemplo, existe uma economia digital ainda em surgimento. Porém, nos últimos quatro anos, tem sido implementadas diferentes iniciativas de inovação. Para ele, o que chama atenção nos ecossistemas de inovação na China é o fato de que cada região, respeitando as suas particularidades, valoriza o aprendizado e o que deu certo nas regiões que estão mais avançadas.

“A realidade de Shenzhen, província de Guangdong, por exemplo, é bem diferente da de Macau, mas aqui seguimos os passos do que foi bem sucedido por lá. Uma grande lição que aprendemos com os chineses é que se deve aproveitar o aprendizado respeitando as diferenças, já que o país tem culturas internas bem diferentes. Aqui, as lições aprendidas são muito bem replicadas”

Alexandre Marques, atualmente professor da Universidade de St. Joseph, em Macau

Conforme disse, como resultado a região onde Macau está inserida caminha para ser o 12º PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, se a considerarmos separada da China. “Aliás, estima-se que a grande baía deva se tornar a zona de maior desenvolvimento tecnológico do mundo em 2030”, diz. Marques ressalta que os investimentos do Governo Central Chinês estão transformando a região em uma zona de extremo desenvolvimento tecnológico, incluindo diversos polos de Inteligência Artificial. O que abre várias possibilidades de integração com os países de língua portuguesa, dado Macau ter sido uma colônia de Portugal.

O caso de Medellín, na Colômbia

“Colaboração no lugar de competir, compartilhar para fortalecer”, assim pode ser definido o processo de transformação da cidade de Medellín no grande centro de inovação da Colômbia, segundo Jorge Santos Gutierrez, especialista em Estratégia e Inovação e líder do Grande Pacto pela Inovação da Corporação Ruta N Medellín. Para ele, a agência pública Ruta N é a maior aposta da cidade para consolidar o desenvolvimento de Medellín por meio da economia do conhecimento.

“Nesse processo de transformação de Medellín, que era negativamente impactada pelo narcotráfico, tivemos que começar pelo contexto da cidade. As primeiras soluções inovadoras surgiram em benefício de Medellín enquanto cidade. E foram as soluções inovadoras voltadas para o urbanismo, para fazer com que as pessoas se sentissem parte da cidade, os maiores exemplos”, destaca.

Conforme disse, antes Medellín era violenta, apresentava baixos índices de qualidade de vida e foi a economia do conhecimento que mudou essa realidade. “Para isso, em 2007, nossa primeira aposta foi lançar a Ruta N, com recursos públicos da cidade para poder inovar, conectando os principais atores de um ecossistema de inovação, que no nosso caso foram além da hélice tríplice – universidade, indústria e governo -, incluindo também a comunidade e os investidores. Desse modo, trabalhamos tanto as conexões internas quanto externas e a inteligência coletiva, para haver o interesse em comum em fazer algo novo em meio ao tradicional”, explica.

Santos Gutierrez aponta que a cidade teve um salto de 0,7% para 2,5% do seu PIB em investimentos em ciência, tecnologia e inovação. A meta é chegar ao fim de 2021 investindo 3% do nosso PIB nessas áreas.

“A inovação é vital para que um território cresça e se transforme. Nesse sentido, estabelecer uma conexão não só interna, mas também com todos os territórios do mundo é o caminho para crescermos juntos com a inovação”

Jorge Santos Gutierrez, líder do Grande Pacto pela Inovação da Corporação Ruta N Medellín

O painel “Ecossistemas de inovação ao redor do mundo”, fez parte da programação da segunda edição da “Escola de Verão”, evento voltado para a troca de conhecimento e experiências em Inteligência Artificial. Em uma promoção do Instituto Iracema Digital em parceria com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitece) e da Sedet, assim como da Fecomércio e do Hub Cumbuco, o evento ocorreu nos dias 29 e 30 de janeiro de 2021, transmitido pelo YouTube em quatro salas localizadas virtualmente no litoral do Ceará.

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