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Biocombustíveis do Brasil despontam no cenário mundial

Segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, com uma produção anual de 32 milhões de toneladas, atrás somente dos Estados Unidos, o Brasil já conta com uma matriz energética altamente sustentável, condição que tem muito a ver com o estágio avançado de desenvolvimento do agronegócio nacional. Dados do Balanço Energético Nacional 2020 mostram que o incremento das fontes eólica e solar na geração de energia elétrica e o avanço da oferta de biomassa da cana e biodiesel contribuíram para que a matriz energética brasileira se mantivesse em um patamar renovável muito superior ao observado no resto do mundo.


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No Ceará, entretanto, a produção de combustíveis de origem renovável é incipiente e 90% da frota circulante ainda consome gasolina, mas o grande potencial do Estado está no hidrogênio verde que o credencia a integrar o seleto clube dos grandes produtores globais. Antonio José Costa, assessor de economia do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos/CE),  entidade que congrega 1.650 postos de abastecimento, comenta que o etanol seria a melhor alternativa à impureza do biodiesel que causa danos aos motores dos veículos.

A barreira, entretanto, é o seu preço superior de 30 a 40 centavos, em função do frete do produto vindo do Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Ele defende a necessidade de incentivar a produção local e a promoção de uma campanha sobre a qualidade superior do etanol para os consumidores finais.

Já o professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Lauro Chaves Neto, contrapõe dizendo que a esperança para o Estado vem do hidrogênio verde. O mercado de combustíveis e, de maneira geral, o de energia no mundo, passa por um processo gigantesco de transformação. Cada vez mais haverá menos combustíveis fósseis e mais fontes de energia de combustíveis limpos e renováveis. Dentro desta linha, o biocombustível tem um potencial grande porque já é um passo à frente na questão ambiental, das emissões e da produção limpa.

“O mercado tende a se expandir para fontes como eólica, solar e a nova fronteira é o hidrogênio verde, onde o Ceará desponta como um dos principais candidatos a importante player no mercado internacional neste segmento”

Lauro Chaves Neto, professor da Uece e assessor econômico da Fiec

Para o chefe geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso Alves, o fato ainda mais animador é que 46% do total da energia gerada no Brasil já é de origem renovável, bem acima, portanto, da média mundial de 13% a 15%. E a biomassa responde por 18% dos 46%.  

“O Brasil conta com uma interessante diversificação energética e tende a crescer ainda mais do que os 30% registrados em 2019”

Alexandre Alonso Alves, chefe geral da Embrapa Agroenergia

Ele atribui boa performance à entrada em vigor, em 2020, da política nacional de biocombustíveis e de créditos de descarbonização. A propósito, lembrou que a Embrapa Meio Ambiente desenvolveu a RenovaCalc, uma calculadora específica para medir a eficiência energética ambiental nas reduções de emissão de CO². O chefe geral da Embrapa Agroenergia cita, ainda, o RenovaBio como um grande estímulo à inovação repercutindo em maior produtividade e menor impacto na natureza.

Títulos verdes na B3

Exemplo positivo de política ambiental, o programa RenovaBio, criado em 2017, já colhe seus frutos: somente em 2020 a atmosfera deixou de receber mais de 10 milhões de toneladas de gás carbônico, o que foi comprovado pelos créditos de descarbonização (CBIO) emitidos e comercializados em bolsa de valores, a B3, justamente como resultados da produção sustentável de matérias-primas dos biocombustíveis.

Para se ter uma noção de grandeza, basta saber que cada título verde CBIO representa uma tonelada de CO² não emitida no meio ambiente. Para ter os créditos aprovados, é preciso antes comprovar a eficiência energética na cadeia produtiva pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). De acordo com o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), há 4,87 milhões destas operações de CBios disponíveis para negociação e a meta para este ano é de alcançar 24,86 milhões.

Agricultura multifuncional

Outra vertente fértil para um avanço ainda maior no uso de biocombustíveis é o Programa Nacional de Bioinsumos, um robusto “pacote” tecnológico que dá suporte ao desenvolvimento de várias culturas. “A tendência é dos insumos biológicos (biofertilizantes, biodefensiovos) e tecnologias que permitem mudanças do DNA das plantas gerando culturas tolerantes à seca, ao alumínio e às pragas estejam cada vez mais presente na agriculura”, afirma Alexandre Alonso Alves, chefe geral da Embrapa Agroenergia.

A agricultura que, cada vez mais, se torna multifuncional passa a produzir ao mesmo tempo novos produtos na mesma área já plantada, com os mesmos insumos.  “É a otimização da terra dentro do conceito da agricultura multifuncional e de maneira sustentável”, ilustra Alves. Embora os biocombustíveis possam ser originados do milho, soja, babaçu, cânhamo, canola e mamona, a cana-de-açúcar é a primeira fonte de energia renovável, respondendo por 38,3% de toda oferta desse setor. Trata-se de culturas transformadas em etanol, biogás, bioetanol, bioéter, biodiesel para movimentar automóveis, caminhões e tratores. 

Quem garante volume significativo deste insumo básico para o biocombustível brasileiro é a UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), que representa 360 unidades produtoras e gera mais de 747 mil empregos diretos formais. Com 70 mil produtores rurais de cana-de-açúcar independentes, em 2019 gerou US$ 6,1 bilhões em divisas externas a partir da exportação de açúcar e etanol, sendo o quarto segmento na pauta exportadora do agronegócio nacional.

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