Sonho de consumo de muitos brasileiros, sair de uma concessionária com um carro 0 Km está cada vez mais fácil. Inclusive, sem grandes investimentos e preocupações. Seguindo os passos de outros setores que passaram a focar no compartilhamento de bens, locadoras, mais recentemente fabricantes de veículos vêm apostando no mercado de carro por assinatura, uma modalidade de aluguel com prazos mais longos e condições diferenciadas. Tudo de olho nas mudanças de comportamento do consumidor.
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Segundo os especialistas, se antes vivíamos na era da posse, onde havia, por exemplo, o sonho de ter uma casa na praia ou o carro do ano, hoje, o consumidor quer acesso. No caso de veículos, acesso ao conforto que um carro do ano pode proporcionar, mas sem precisar pagar IPVA, revisão, DPVAT, licenciamento, seguro e arcar com a depreciação do bem.
Por isso, o carro por assinatura nunca esteve tão em alta no Brasil como nos últimos dois anos, despertando o interesse de muitos consumidores que se perguntam se vale mais a pena fazer a assinatura de um carro ou comprá-lo.
Mercado aquecido
Para se ter uma ideia, a força desse mercado mercado é tão grande que no país como um todo, apesar da pandemia ter impactado o segmento, em 2020, o setor de locação de veículos como um todo ultrapassou a marca de um milhão de automóveis, segundo o Anuário Brasileiro do Setor de Locação de Veículos, com dados do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). A publicação é organizada pela Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla).
Ainda de acordo com o Anuário, no Ceará, as 559 empresas de locação de veículos que atuam no Estado emplacaram, no decorrer do ano passado, exatos 3.282 automóveis e comerciais leves. Como resultado, a frota total do setor, que soma as unidades compradas com veículos seminovos já disponíveis, chegou em 12.256, um aumento de 16,3% em relação a 2019.
“Esse recorde foi atingido mesmo diante da dificuldade de comprar e receber carros novos, na medida em que as montadoras sofreram e ainda sofrem com a falta de insumos para retomar seu ritmo normal de produção”, explica o presidente da Abla, Paulo Miguel Junior. De acordo com ele, um dos fatores que impulsionou o aumento da frota de veículos das locadoras em todo o país é o aquecimento do mercado de carro por assinatura.
“O consumidor vem buscando uma forma mais barata de substituir o carro que possui sem os altos custos da aquisição e as preocupações que a posse do bem pode trazer. Além disso, a pessoa escolhe a marca, o modelo exatamente como ela quer”,
Paulo Miguel Junior, presidente da Abla
Por enquanto, a Abla ainda não tem especificada fatia que o carro por assinatura representa sobre a frota das locadoras em cada unidade da federação. Contudo, Miguel Junior estima que cerca de 8% da quantidade de carros alugados que circula nas ruas do Brasil seja por meio de assinatura e aponta que, com a procura aquecida, a expectativa é de que o mercado de carro por assinatura dobre de tamanho nos próximos dois anos.
“As pessoas estão seguindo o caminho de pagar pelo uso do carro e não mais pela posse. Comparado a uma locação tradicional de veículo, a maioria dos serviços de assinatura de carros tem mais flexibilidade. Nela, o consumidor tem mais opções quanto ao modelo do seu veículo e, com frequência, pode trocá-lo por outro automóvel durante a vigência do plano. É possível assinar pelo tempo necessário e, quando não houver mais a necessidade do veículo, cancelar o plano, como se fosse qualquer outro serviço. Daí a nossa projeção em relação ao mercado de carro por assinatura. É um mercado crescente e acreditamos muito nele”, avalia Miguel Júnior.
A modalidade vem dando tão certo que assinatura de carros é a mais nova alternativa da indústria automobilística. Alguns fabricantes de veículos no Brasil passaram a ofertar o serviço como mais uma opção para consumidor. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ainda não se tem os números consolidados sobre o serviço de assinatura por parte das montadoras. O que se observa é que apesar de algumas já disponibilizarem esse modelo de contrato, elas se encontram em fase de prospecção desse nicho de mercado.
“A Anfavea, enquanto representante do setor, ainda não tem estatísticas sobre a atuação de seus associados no mercado de carro por assinatura. Mas, de fato, observa-se o movimento de alguns fabricantes de automóveis implementando projetos pilotos nesse segmento. O mercado de carro por assinatura é um segmento que veio para ficar. Ele é importante para o mercado e as montadoras estão de olho na expectativa de explorá-lo no âmbito de serviços, não focando apenas na venda”, explica o presidente da Associação, Luiz Carlos Moraes.
Segundo ele, a modalidade vem a suprir uma lacuna existente no mercado de veículos no Brasil, no caso o leasing.
“O leasing, por meio do qual o consumidor não detém a posse do bem, mas usufrui do mesmo, é muito utilizado em países mais desenvolvidos. Nesses países 80% a 90% dos veículos financiados incluem o leasing. Enquanto isso, aqui no Brasil, atingimos 50% das vendas via financiamento, sem incluir essa modalidade. Então o carro por assinatura vem a somar”
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea
Custo do carro por assinatura
O carro por assinatura é um modelo de consumo restrito a pessoas físicas. “Empresas e motoristas de aplicativo, devido ao uso intensivo dos veículos, se enquadram em outro tipo de contrato”, justifica o presidente da Abla. Com relação ao valor da assinatura, Miguel Junior diz que varia de acordo com o perfil do consumidor. A saber, a marca e o modelo desejado, que pode ir de um veículo básico a um de luxo, assim como o tempo de contratação e franquia de quilometragem, que varia de 500 a 3.500 quilômetros rodados por mês.
“Contudo, considerando a média nacional, uma assinatura pode custar a partir de R$ 1.000 mensais para contratos de 12 a 24 meses, incluindo IPVA, DPVAT, manutenção, seguro e a franquia de quilometragem”, conta.
Vale a pena assinar um carro?
A grande vantagem do carro por assinatura é que ele agrega tudo o que um motorista pode precisar em um único pagamento mensal, inclusive os impostos. A mensalidade, dependendo do contrato, pode incluir ainda o seguro, serviços de manutenção, assistência na estrada e até limpeza do carro. Porém, se você está pensando em aderir ao carro por assinatura, é importante deixar claro que cada caso exige alguns cálculos e considerações.
“Primeiramente, deve-se avaliar se você deseja ser proprietário ou não do veículo. Eu vou me sentir seguro em dirigir um carro que não é meu? Pergunte-se. Além disso, deve ter em mente o quanto você tem para investir em um veículo e a sua necessidade de uso. Estes são alguns itens que devem ser levados em conta”, avalia o pós-doutor em Educação Financeira, Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).
Ele orienta que primeiro passo é calcular o custo de propriedade, isto é, tudo o que envolve ter um carro em seu nome, para depois comparar com os planos oferecidos pelas locadoras.
“É colocar na ponta do lápis o valor do financiamento, os impostos de propriedade como o IPVA, o licenciamento e o DPVAT, assim como o valor do seguro, manutenções e desvalorização do veículo. Daí é só comparar com os planos oferecidos pelas locadoras. Muito provavelmente, dependendo do tempo de contrato, a assinatura acabará sendo mais viável do que financiar a compra. Muitas vezes com os juros que se paga ao financiar, dá para comprar até dois carros”
Reinaldo Domingos, presidente da Abefin
Entretanto, se achar vantajoso assinar um carro, Domingos alerta que é importante estar atento ao que específica o contrato. “Tempo de assinatura, franquia de quilometragem mensal, o que a mensalidade cobre e o mais importante: se existe multa caso haja desistência do serviço antes do fim do prazo. As regras de saída da assinatura, caso desista do serviço antes de terminar o contrato geralmente é a maior desvantagem da assinatura”, avalia.
Além disso, o usuário deve estar atento que apesar do seguro estar incluso na mensalidade da assinatura, em caso de sinistro, é o assinante que arca com o valor integral da franquia, da mesma forma que ocorreria em um carro próprio. Outro fator dos serviços de assinatura é que, dependendo do plano, o limite permitido de quilometragem é bem restrito. Caso o motorista ultrapasse o limite do contrato, avaliam ainda os especialistas, as taxas por quilômetro rodado podem causar um rombo no orçamento e fazer com que a assinatura seja bem mais cara do que a compra de um automóvel.