O ano de 2021 pode ser visto com otimismo pelo mercado de biológicos brasileiros. De acordo com dados recentes, apresentados na segunda-feira (19) pela CropLife Brasil, com pesquisa da Consultoria Blink Projetos Estratégicos, o setor deve crescer 33%, com faturamento estimado em R$ 1,7 bilhões.
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Atualmente, o Brasil conta com 433 produtos registrados, sendo que 35% são decorrentes dos últimos três anos, segundo Amália Borsari, diretora executiva de biológicos da CropLife Brasil. O mercado chegou a dobrar de tamanho na safra 2019/2020 em comparação com a safra de 2017/2018. Para o futuro, o cenário continua promissor, principalmente com o avanço da biotecnologia, que deverá ser cada vez mais empregada no segmento.
Amália ressalta que a justificativa para esse crescimento ocorre pelo aumento da demanda do produtor rural e o interesse cada vez mais nítido de discussões nas áreas, na busca de práticas cada vez mais sustentáveis no campo. “O uso de produto biológico não entra mais como alternativa no processo, mas sim como essencial no manejo”, ela afirma. Hoje, esse fortalecimento do mercado vai desde a cadeia de pesquisa até a indústria e a distribuição.
Projeções para o mercado
Para Lars Schobinger, sócio-diretor da Consultoria Blink, o que deve ser visto nos próximos anos é uma continuidade do que já é enxergado hoje. Segundo ele, quem adota o uso desses produtos de forma contínua está dentro de 20% da área agrícola hoje. “É uma tecnologia que ainda exige um espaço muito amplo para avançar”, completa. Entretanto, uma vez que o processo é experimentado, há uma percepção de satisfação dos produtos bastante elevada.
“Em torno de um terço da demanda de campo já é hoje, possivelmente, controlada totalmente ou parcialmente por produtos biológicos”
Lars Schobinger, sócio-diretor da Consultoria Blink
E esse rápido crescimento do setor traz projeções bastante otimistas para os próximos anos, mesmo porque a tecnologia dos produtos biodefensivos não é abraçada apenas por pequenos produtores, mas vem sendo abordada e utilizada por grandes produtoras do Brasil inteiro.
Exemplo disso é que as duas principais culturas dentro desse setor são a soja e a cana-de-açúcar. Em valor de mercado dos biodefensivos, há um avanço previsto para a soja de R$ 596 milhões em 2020 para R$ 829 milhões em 2021. Já a cana-de-açúcar tem previsões de passar de R$ 264 milhões do ano passado para R$ 353 milhões neste ano. O faturamento estimado para 2030 é de R$ 3,69 bilhões, o que indicaria um crescimento de mais de 107% nos próximos anos.
Produção de Biodefensivos
Os produtos biológicos para agricultura, chamados de biodefensivos, são insumos agrícolas desenvolvidos a partir de um ingrediente ativo que seja natural, sendo ainda, em sua grande maioria, de baixa toxicidade. Eles agem com o objetivo de eliminar uma praga alvo.
“Nós temos substâncias químicas naturais, que são representadas pelos semioquímicos. Eles têm uma ação tanto de monitoramento, quanto de controle”, elenca Amália Borsari. Na classificação de substâncias, existem também os produtos bioquímicos, representados pelos hormônios reguladores de crescimento e as enzimas.
Há ainda os agentes biológicos de controle, que são organismos vivos que controlam pragas e doenças, como os microbiológicos, que são representados por vírus, bactérias, protozoários e fungos, e os macrobiológicos, representados pelos insetos, ácaros e nematóides. De acordo com o tipo de praga, os defensivos podem se classificar em inseticidas (insetos), acaricidas (ácaros), fungicidas (fungos), nematicidas (nematóides) e herbicidas (plantas daninhas).
“Todos eles só se tornam produtos bioquímicos depois que passam por processos produtivos”, explica Amália Borsari. Essa transformação industrial, inclusive, é essencial para assegurar a efetividade do produto. Apenas após a seleção em campo é que o produto passa por processos de produção em escala altamente controlada. Depois disso, ele é formulado para garantir um tempo maior de prateleira, sendo esse seu grande diferencial.
“Dados de pesquisa mostram que um produto formulado tem efetividade próxima a 70% ou mais. O produto biológico é eficaz, é seguro, devido a todos esses processos regulatórios que ele passa”
Amália Borsari, diretora executiva de biológicos da CropLife Brasil
Biodefensivos no Ceará
De acordo com Natália Martins, doutora em Bioquímica e pesquisadora no Laboratório Multiusuário de Química e Produtos Naturais, da Embrapa Agroindústria Tropical, o impacto do uso de insumos biológicos que percebemos hoje vem do Programa Nacional de Bioinsumos, lançado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em maio de 2020. “Eu trabalho no desenvolvimento de nanoformulações que são bioestimulantes ou biopesticidas para a agricultura, em uma parte teórica que faz a simulação dessas nanoformulações e propõe testes aos laboratórios para ver o que funciona”, compartilha.
“Antes do agricultor ter o produto ou ficar testando coisas aleatórias, a gente vai ter essas simulações. A mesma lógica usada para a indústria farmacêutica também é aplicada para a produção de bioinsumos, nesse caso, os nanoformulados”, ela completa.
“Eu sou uma gotinha no oceano de bioinsumos, mas eu percebo o enorme potencial desses nossos produtos, chamados de ativos, porque eles atendem aos requisitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS. Por natureza, a característica deles já é vir de uma economia circular”
Natália Martins, pesquisadora doutora na Embrapa Agroindústria Tropical
As nanopartículas são matérias que vêm de restos químicos ou restos orgânicos. Essa matéria-prima é processada muito rapidamente e gera pouquíssimo resíduo, por ela própria já vir do aproveitamento de um resíduo. “A descoberta dessas partículas que trabalhamos foi feita em 2014. Em 2018, colegas da Universidade de Brasília começaram a trabalhar com isso. Em 2020, nós lançamos a patente de um produto bioestimulante chamado Arbolin. A enorme vantagem dele, em relação a outros fertilizantes, inseticidas e pesticidas, é a sustentabilidade e o menor impacto sobre o meio ambiente”, avalia Natália.
A linha de produtos Arbolin é baseada na tecnologia arbolina, desenvolvida na agtech brasileira Krill Tech, nascida da parceria entre a Universidade de Brasília e a Embrapa. Alguns resultados em campo do produto contemplam aumento de produtividade de até: 80% do morango, 33% do feijão, 25% do tomate, 21% da soja sob estresse hídrico, 7% do algodão e 12,5% do trigo. Novos produtos seguem em teste para avaliar a efetividade da arbolina. “Atualmente, aqui no Ceará, temos o melão sendo testado”, compartilha a pesquisadora.