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Exportações crescem enquanto investimentos externos mantêm-se baixos

Os números das exportações brasileiras neste começo de ano parecem indicar um forte avanço do setor. A balança comercial do país de janeiro a abril deste ano apresentou um crescimento de 102,5% em relação ao mesmo período de 2020, com superávit de US$ 16,8 bilhões. Entre os principais produtos exportados, estão o minério de ferro, óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (exceto óleos brutos) e a soja.


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“O processo de vacinação em países como EUA e China acelera a retomada da economia nesses locais e é natural a maior demanda por commodities, principalmente ferro e produtos agrícolas”, diz Nicolino Trompieri Neto, coordenador de contas regionais do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) e professor do curso de Economia da Universidade de Fortaleza (Unifor).

“Para os próximos anos, não existe a possibilidade de criamos um novo produto tão rápido para entrar na lista dos mais exportados. Continuaremos com as commodities sendo os principais itens exportados, tanto minério de ferro quanto os produtos do agronegócio (soja, carne, milho)”, afirma Thiago Fujiwara, sócio da Verk Investimentos/ BTG Pactual.

De acordo com Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o mundo deverá aumentar a produção de alimentos para atender o crescimento da demanda até 2027 e o Brasil é o país que mais ampliará a produção, com previsão de aumento de 41% no período.

Segundo Fujiwara, a exportação de produtos agrícolas continuará crescendo devido a uma série de fatores, como o crescimento da população mundial e o aumento da tecnologia no setor agrícola brasileiro. A alta do dólar, que deverá permanecer elevado em 2022, e o clima diverso do país, que permite colher três culturas diferentes por ano, gerando uma alta produtividade, são outros elementos que também favorecem a subida das exportações no setor.

O coordenador do Ipece afirma que, apesar da pandemia estar descontrolada no Brasil, o setor agrícola conseguiu se proteger da crise, enquanto a indústria e os serviços apresentaram quedas significativas. “Isso faz com que o país consiga acompanhar o crescimento da demanda externa”.

Investimentos externos

Enquanto as exportações encontram-se em um cenário favorável, o mesmo não pode ser dito para os investimentos estrangeiros. A péssima administração da crise sanitária e a má imagem do Brasil no exterior devido aos recordes de desmatamento dos últimos anos devem frear um fluxo maior de investimentos por enquanto.

“Primeiro sofremos uma queda em decorrência da pandemia porque o investidor externo está receoso em relação aos efeitos da crise sanitária, segurando os investimentos de alto risco. Um segundo ponto é que a Covid-19 é um problema sério no Brasil, com vários estados limitando suas atividades econômicas, e isso influencia o setor externo que queira investir no país”.

Trompieri Neto, coordenador de contas regionais do Ipece

Para ele, a tendência é que a curto prazo os investimentos continuem baixos e migrem para países mais estabilizados como a China e os EUA em um primeiro momento. “Neste último, não apenas a vacinação em massa influencia como o investimento massivo do Estado incentivado pelo governo de Joe Biden”, afirma.

Fujiwara destaca também as taxas de juros brasileiras, que não são atrativas para o investidor externo. Porém, para o sócio da Verk Investimentos, após a subida dos investimentos nos países acima citados, os investidores deverão procurar outros locais com maior retorno e países em desenvolvimento como o Brasil serão uma opção. 

“Uma parte desse dinheiro tenderá a vir primeiro para a Bolsa de Valores brasileira e depois pelo crédito privado, por meio da compra de títulos de dívidas de empresas com governança corporativa e amigas do meio ambiente, já que esse é o perfil das companhias que os estrangeiros gostam de investir”.

Thiago Fujiwara, sócio da Verk Investimentos/ BTG Pactual

Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), reforça ainda a necessidade de reformas estruturais, como a tributária, orçamentária e administrativa, para reativar a economia brasileira e atrair investimentos. “É preciso avançar nessas reformas ao invés de pensar em metas fiscais”, afirma.

Essa agenda estrutural de reformas estaria ligada com a redefinição da integração econômica do Brasil com o mundo. “Essa integração está relacionada à revisão de alguns estímulos econômicos, como aqueles focados em vantagens de produtividade. Precisamos reduzir a concentração em alguns mercados e ampliar a competitividade internacional do país e hoje a opção que enxergo, tratando-se de governo federal, é avançar nas reformas estruturais”, explica.

Segundo a gerente, as empresas estão “suplicando por apoio” diante do momento extremamente frágil vivido pelo país.

“Qualquer elemento que prejudique mais o setor produtivo irá causar grandes prejuízos ao mercado de trabalho, na geração de emprego e renda. Este é o momento de apoiar esse setor, principalmente as empresas de pequeno porte. A internacionalização é estratégica para dinamizar a economia do país. Não podemos ter a concentração da exportação brasileira em três ou quatro estados”.

Karina Frota, gerente do CIN/ Fiec

“À medida em que o país controlar a doença e o equilíbrio das contas públicas, a tendência é vermos uma retomada dos investimentos no Brasil”, conclui Trompieri Neto.

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