Enquanto em 2020 as restrições impostas pela pandemia do coronavírus puxaram para baixo a produção física da indústria tanto no país como no Ceará, registrando quedas de 4,5% e 6,1%, respectivamente, no primeiro bimestre de 2021, o indicador voltou a evoluir. Nos dois primeiros meses do ano, a produção industrial cearense aumentou 4,9% em relação a igual período do ano que passou. Uma taxa que superou com folga a média nacional (1,4%), o que sugere, afirmam os analistas, novos tempos para a indústria, principalmente no Estado, dada a composição de seu parque industrial, ou seja, os segmentos em que se destaca, e à estratégia de desenvolvimento adotada pelo Estado.
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“E aqueles que forem capazes de entender e se adaptar a este novo cenário e seus desafios, a enxergar as oportunidades que ele trará, terão níveis de crescimento como nunca tiveram antes”, aponta o economista Ricardo Amorim.
De acordo com ele, melhoras econômicas deverão surgir no segundo semestre do ano, notadamente pelo avanço da imunização da população, que tende a alcançar as faixas etárias em maior idade produtiva. Por consequência, ampliará a circulação de pessoas e, dessa forma, o consumo. “Mesmo na pior das hipóteses, acredito que vá acontecer uma melhora importante ao longo do segundo semestre, salvo no meio do caminho surja uma nova variante que as vacinas atuais não imunizem”, avalia.
No entanto, ele afirma que quatro pontos importantes devem balizar a atuação do setor industrial a fim de justificar a expansão da atividade. São eles: estar preparado para um crescimento econômico acima do esperado; aproveitar a condição atual de competitividade internacional dos produtos brasileiros, devido à valorização do dólar ante o real neste momento; ter uma estratégia de inovação e de transformação digital cada vez mais clara; e não perder de vista o tamanho das oportunidades que se tem pela frente, ou até mesmo criar essas oportunidades.
“De fato, após a queda recorde do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020 devido à pandemia, para uma economia que já vinha patinando anteriormente, nós temos um leque de oportunidades que foi aberto para o ano de 2021 e os anos seguintes”, confirma o também economista Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Ph.D. em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha. Segundo ele, espera-se da economia cearense um crescimento ainda mais forte, com uma perspectiva de retomada em bases mais competitivas.
“Portanto, o empresariado deve, sim, se preocupar em ganhar competitividade na gestão das suas empresas, em todas as áreas, porque com a possível melhoria do ambiente de negócios e uma recuperação da economia mundial, a estratégia de crescimento do Estado do Ceará baseada em um hub portuário, em um hub aéreo e ainda em um hub de dados tende a trazer um potencial muito grande de aceleração dos negócios”.
Lauro Chaves Neto, economista e Ph.D. em Desenvolvimento Regional
Conforme Amorim, é fundamental o “desenvolvimento brutal no processo de inovação e de transformação digital das indústrias para que elas não percam o bonde da história”.
“A pandemia veio para acelerar isso. Todas as indústrias, não importa o produto que façam, precisam inserir as estratégias da transformação digital em seus negócios. Isso é o que está gerando riqueza. O processo de inovação que estamos passando, que chamamos de Grande Aceleração, está gerando uma riqueza que o mundo nunca viu. É inovar ou morrer”.
Ricardo Amorim, economista
Desse modo, ele orienta que a estratégia de atuação do setor deve ser pautada na valorização dos setores produtivos em que o Ceará já é forte, agregando valor, por meio da inovação, em toda a sua cadeia produtiva, fazendo com que os produtos deixem de competir apenas em preço no mercado internacional. “Até porque, o dólar deve iniciar um processo de queda no segundo semestre, caso o cenário atual permaneça”, afirma.
Ricardo Amorim, que falou recentemente no encontro virtual “Cenários – A Indústria em Novos Tempos”, promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em comemoração ao mês da indústria, ressaltou ainda a vantagem comparativa da atividade industrial do Estado em relação às demais unidades da Federação. “Eu vejo duas áreas em particular: frutas, devido às condições climáticas para a produção, mas precisa agregar valor em toda a cadeia produtiva, e outra mais ampla que é a produção de energia limpa”, disse.
“O Ceará detém a liderança no país no que tange à energia limpa dado o seu potencial na geração de energia solar e eólica. E o Estado consegue se beneficiar desses dois tipos de energia, absorvendo as vantagens de ter as duas em conjunto. Quem detiver a produção de uma energia mais limpa e mais barata poderá se beneficiar e beneficiar, ainda, todo o setor produtivo, levando vantagem”.
Ricardo Amorim, economista
Nesse contexto, o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, acrescentou a importância da implementação do hub de hidrogênio verde no Ceará, ao recordar que o Estado vai receber uma grande planta de produção desse combustível, que tem alto potencial de uso na geração de energia. A saber, no sentido da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente, o termo hidrogênio verde é utilizado para se referir ao hidrogênio obtido a partir de fontes renováveis, em um processo no qual não haja a emissão de carbono, o que se aplica bem ao Ceará dado o seu potencial solar e eólico.
“O hub de hidrogênio verde do Ceará terá um impacto substancial no mercado de energias renováveis. A previsão é de que nos próximos cinco anos, dobremos o PIB do Estado”.
Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec
Para o economista Lauro Chaves Neto, concentrar esforços em setores onde o Ceará tem maior vantagem competitiva já vem sendo um dos eixos da plataforma de desenvolvimento industrial da Fiec. “No entanto, é preciso separar de um lado, os setores tradicionais, como pescados, têxtil, confecções, calçados e castanha, por exemplo, e, do outro, os setores inovadores como a economia do mar, as energias renováveis entre outros que se adequam à nova realidade de mercado. Assim, essas vantagens comparativas serão o carro chefe para colocar o Ceará integrado às cadeias globais de valor e com isso termos indústrias de maior valor agregado, com maior impacto no PIB e com postos de trabalho mais bem remunerados”, destaca.
Nesse cenário, analisa Chaves, o setor de energias renováveis é, sem dúvida, um dos maiores potenciais que o Estado do Ceará pode ter para alavancar a sua economia, a fim de obter uma inserção competitiva no mercado internacional e nas cadeias globais de valor.
“Nós já temos um potencial gigante de energia eólica e solar, temos projetos em análise prontos para serem implantados para a produção de energia eólica offshore, onde a produtividade é ainda maior do que em terra, e, sem dúvida, o grande gancho nesse processo é o hub do hidrogênio verde, que pode colocar o Ceará como um dos maiores players internacionais na geração de energia limpa”.
Lauro Chaves Neto, economista e Ph.D. em Desenvolvimento Regional
De acordo com levantamento realizado pelo Observatório da Indústria, ligado à Fiec, no início de 2021, observa-se uma melhora na evolução do setor. No acumulado do primeiro bimestre, a produção física aumentou em 4,9% em relação a igual período em 2020 no Ceará. Essa taxa de crescimento foi superior à brasileira, cuja média dos estados foi de apenas 1,4% na mesma comparação.
Nesse contexto, destaca-se o crescimento dos setores de Químicos (52,8%), de Produtos Têxteis (28,5%) e de Couro e Calçados (18,2%). Nos dois primeiros meses do ano, a indústria cearense apresentou ainda uma geração de 7.995 novos empregos, sendo 5.917 na indústria geral e 2.078 na construção.