O Ecomuseu de Pacoti foi uma iniciativa que “nasceu do chão da escola”, como conta o professor de História Levi Jucá, idealizador do projeto junto à comunidade local. “Em 2014, com meus alunos, iniciei um projeto chamado ‘Jovem Explorador’. Ele foi inspirado em um episódio pouco conhecido da História do Ceará: a vinda de uma comissão científica do Rio de Janeiro para o nosso Estado, no século XIX. Ela teve sua importância porque foi a primeira expedição formada por cientistas brasileiros a estudar o próprio Brasil, que até então só tinha recebido cientistas estrangeiros”, ele explica. “Eles passaram três anos pesquisando a nossa natureza, os nossos costumes, as tradições”, conta.
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Foi então que Levi teve a ideia de recriar a expedição com os próprios alunos, começando uma investigação pela região do Maciço de Baturité. Nessa pesquisa de campo, surgiu a ideia de criar o Ecomuseu, um espaço para compartilhar descobertas e pesquisas, validando o conhecimento que os estudantes estavam produzindo a partir desse trabalho.
“O Ecomuseu surge com um conceito que existe desde a década de 70. É muito próximo do que a gente chama hoje de ‘museu comunitário’, que é um museu criado e implantado por pessoas da própria comunidade, diferente do museu tradicional. Ele traz elementos locais que as pessoas reconhecem como importantes”, analisa Levi Jucá.
O Ecomuseu de Pacoti foi criado em parceria da comunidade com uma campanha de crowdfunding. Levi conta que os alunos também buscaram a parceria do engenheiro Joaquim Caracas, famoso pela criação de um hotel construído com plástico reciclável em Guaramiranga, para que fizesse o Ecomuseu com o mesmo material. “Essa visão ecológica e integrada, onde tudo está conectado, tanto cultura e história como natureza, para a gente sempre foi muito valioso. Principalmente porque estamos em uma área de proteção ambiental”, pontua.
A partir do momento em que o Ecomuseu se tornou um equipamento cultural, o local passou a ser um atrativo para o município. Além dos turistas que apareciam para passear na serra, e acabavam visitando as exposições do museu, também passaram a receber pessoas ligadas à academia, como universitários e professores, que viam focados em conhecer os trabalhos do Ecomuseu de perto.
“A gente estabeleceu duas linhas de ação para esses grupos turísticos: a Trilha da Memória, que é uma espécie de city tour, e a Trilha Ecológica. Na Trilha Ecológica, contamos com o pai de uma das alunas que virou nosso guia. Com o Ecomuseu já organizado, ele começou a ter ganhos com esse serviço, foi valorizado como guia, gerou renda para ele”, compartilha Levi. Inclusive, José Alves Carneiro, conhecido por Zé Carneiro, foi reconhecido como Mestre da Cultura do Estado do Ceará e hoje recebe salário vitalício por cumprir tão bem essa função.
Durante a pandemia, o Ecomuseu conseguiu aprovar um projeto em parceria com a Enel, o programa Luz Solidária, viabilizando a confecção de placas de sinalização histórica no centro da cidade. “Foi um trabalho remoto colaborativo, onde os alunos receberam bolsa como se fosse um estágio. São as formas que temos encontrado de não parar até quando pudermos voltar às atividades presenciais”, avalia o idealizador do Ecomuseu de Pacoti.
Em maio, um evento sobre a meliponicultura do Maciço de Baturité também foi uma forma que o Ecomuseu encontrou de contribuir com a renda da população, evidenciando o potencial dessa atividade na região.
“Tanto o patrimônio cultural como o natural são as nossas maiores riquezas. Nosso intuito é abrir os olhos da comunidade para que ela reconheça o patrimônio que tem, inclusive como fonte de desenvolvimento socioeconômico”.
Levi Jucá, professor de História e idealizador do Ecomuseu de Pacoti
Sustentabilidade e economia
Raimundo Eduardo Silveira Fontenele, doutor em Ciências Econômicas e professor titular do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria (PPAC) da UFC, compartilha que, quando se fala em sustentabilidade, são abordadas tanto a parte do desenvolvimento econômico, como também a questão da responsabilidade social e gestão ambiental.
“A sustentabilidade não é uma parte acessória, mas deve ser tratada como uma estratégia de negócios. Porque a sustentabilidade, em economias mais desenvolvidas, representa valor de longo prazo”.
Raimundo Eduardo Silveira Fontenele, doutor em Ciências Econômicas
Para ele, a questão ambiental envolve a participação de múltiplos atores da sociedade. “No que diz respeito ao governo, o papel fundamental dele basicamente é ser responsável pelo estabelecimento de leis, normas, critérios que devam ser seguidos por todos. Enquanto o setor privado pode usar processos de produção que utilizem de forma mais racional os recursos naturais”, pontua.
Nos últimos anos, ele avalia também que houve uma mudança no perfil das empresas e dos agentes econômicos. “Antes, existia uma visão mais passiva, somente adotavam controle quando sofriam alguma multa, penalidade, e era uma ação mais reativa. Mas agora temos várias empresas que já têm uma postura ambiental proativa. Sabem que é melhor e mais barato fazer direito desde o início. Quanto mais você tem o cuidado de fazer um bom sistema de gerenciamento ambiental, além de diminuir os custos, têm menores chances para penalidade e maior aceitação de produto no mercado”, ele comenta. Isso porque muitas pessoas têm buscado empresas que adotem atitudes mais responsáveis em relação ao meio ambiente, além desse comportamento também atrair mais investidores e acessos a financiamentos.
Raimundo também aponta que o conceito de sustentabilidade já é um tripé que une desenvolvimento econômico, questão de responsabilidade social e engajamento em todos os envolvidos. A partir do exemplo do Ecomuseu de Pacoti, ele reafirma a importância do empoderamento da comunidade local a partir dessa interação com os próprios recursos, quando utilizados de forma responsável.
Sustentabilidade e desenvolvimento
Artur Bruno, titular da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), compartilha que, cada vez mais, os empreendimentos têm que considerar a preservação dos recursos naturais e sua boa utilização, sempre na preocupação de mantê-los existindo para os negócios e o bem-estar da humanidade.
“Hoje, o mundo está atento aos governos que buscam políticas sustentáveis. Os próprios investidores internacionais, os grandes fundos de investimento, têm colocado essa exigência para financiar projetos de desenvolvimento que busquem a sustentabilidade, que é o que nós temos tentado aqui no Ceará com uma série de iniciativas das mais diversas ordens”, ele exemplifica, citando os lançamentos do Inventário da Fauna e do Inventário da Flora, o aumento das unidades de conservação do Estado, a busca por políticas de reciclagem para resíduos sólidos, além do apoio a iniciativas privadas e municipais em parceria com outros órgãos com esse objetivo.
“Nossa conclusão é que não há desenvolvimento sem sustentabilidade”.
Artur Bruno, secretário do Meio Ambiente do Ceará