A crise sanitária gerada pelo novo coronavírus impactou de forma contundente a vida das pessoas ao redor do mundo. A necessidade de conter a crise sanitária que se instalava no país gerou pressão sobre governos e empresas no sentido de buscar soluções que impedissem ou atenuassem o agravamento do cenário pandêmico.
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Em abril de 2020, estimulados pela pandemia, um consórcio que reuniu instituições públicas e privadas do Ceará começou a idealizar um equipamento que pudesse ajudar no tratamento da doença. Havia na época uma procura intensa por respiradores e ventiladores pulmonares, equipamentos caros e escassos utilizados nos casos mais graves de Covid.
“Nas primeiras reuniões, ainda não sabíamos o que iria ser criado. Estávamos preocupados em criar um equipamento que conseguíssemos fabricar na indústria cearense, sem precisarmos de matérias-primas de outros estados ou países, para agilizarmos a produção, já que o tempo era um fator muito importante”, diz o professor Herbert da Rocha, integrante do projeto e um dos coordenadores do Laboratório de Pesquisa e Inovação em Cidades (Lapin) da Unifor.
De acordo com o professor Rodrigo Porto, pró-reitor adjunto de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi cogitada a criação de um respirador, mas o grupo acabou convergindo para uma proposta alternativa. “O respirador tem uma característica invasiva e é mais complexo. Por isso, optamos por um dispositivo não invasivo que pudesse concentrar oxigênio nas vias aéreas do paciente e que pudesse proteger os profissionais de saúde pelo isolamento.”
Essa união de pesquisadores, especialistas e técnicos de instituições públicas e privadas resultou na criação do chamado Elmo, capacete de respiração artificial assistida que trata pacientes com insuficiência respiratória e reduz em até 60% a necessidade de intubação e de internação em UTIs.
O dispositivo foi inspirado nos capacetes hiperbáricos, equipamentos já existentes usados em doenças de descompressão. “O Elmo é um aparelho relativamente simples. O seu diferencial é que ele é muito eficaz e é mais barato de se produzir”, explica Porto.
Acomodado ao pescoço do paciente, ele consegue fornecer oxigênio a uma pressão definida, sem necessidade de intubação. O equipamento também oferece maior segurança aos profissionais de saúde, já que, por ser vedado, não permite a proliferação de partículas de vírus, além de poder ser desinfectado e reutilizado.
Diante do sucesso de utilização do dispositivo, uma nova versão do aparelho está sendo desenvolvida pelos mesmos integrantes da força-tarefa que o idealizou. A ideia é que este novo equipamento tenha um sistema de monitoramento e alerta, que possibilite às equipes médicas e aos pacientes acesso a vários dados referentes ao seu funcionamento, como temperatura interna, ruído, concentração de oxigênio e alertas de vazamento, além de melhorias que o tornem mais confortável e reforcem o bem-estar do paciente.
“É natural que depois de um ano melhorias sejam feitas para que ele tenha uma melhor performance, conforto e durabilidade, com a possibilidade de se ter controles mais precisos”.
Rodrigo Porto, pró-reitor adjunto de Pesquisa e Pós-graduação da UFC
Segundo Rocha, o Elmo 2.0 está atualmente em fase de pesquisa e testes e conta com recursos financeiros da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tencológico (Funcap) e do Grupo Edson Queiroz. “Iniciamos o trabalho com protótipos para fazer simulações e levantar dados sobre as melhorias.” O projeto tem conclusão prevista para o segundo semestre deste ano.
“O Elmo 2.0 pretende tornar o equipamento um produto mais adequado para uma realidade ‘pós-Covid’, uma vez que ele pode ser usado para o tratamento de diversas doenças respiratórias”.
Herbert da Rocha, coordenador do Lapin/ Unifor
O objetivo é que, após a pandemia, o dispositivo possa tratar outras enfermidades que comprometem o funcionamento dos pulmões, como pneumonia e H1N1.
No mesmo sentido de combater a pandemia, uma pesquisa que está em curso na Universidade Estadual do Ceará (Uece) pretende criar uma vacina para a Covid a partir de um imunizante veterinário já existente e utilizado para combater coronavírus aviário.
“A ideia de usar essa vacina surgiu porque os sintomas da doença nas aves eram parecidos com os ocorridos em humanos. Eu também já sabia pela literatura científica que os humanos que imunizavam aves com essa vacina criavam anticorpos contra ela e não adoeciam”, esclarece Ney de Carvalho Almeida, pesquisador e doutorando do programa da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio/Uece), idealizador da vacina. Além dele, estão envolvidos no estudo os pesquisadores Izabel Florindo Guedes, sua orientadora, e Mauricio Fraga van Tilburg, seu coorientador.
Segundo Almeida, os testes feitos em camundongos apresentaram bons resultados. Os anticorpos produzidos pelos animais para combater o coronavírus aviário foram colocados em contato com o vírus da Covid-19 e conseguiram neutralizá-lo.
Finalizada essa etapa, documentos com detalhes do estudo foram encaminhados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a aprovação da próxima fase clínica de testes em seres humanos, que será dividida em três partes: uma em pessoas de 18 a 60 anos sem comorbidades; outra em indivíduos com mais de 60 anos com comorbidades; e uma final em pessoas de diferentes perfis. Se todas as fases forem concluídas de forma bem-sucedida, a vacina deverá ser aplicada em duas doses por via intranasal.
No entanto, ainda há um problema de financiamento. Até agora os pesquisadores bancaram o estudo por conta própria, mas serão necessários investimentos para que essas outras etapas sejam realizadas.
“A fase de testes em humanos é muito mais cara e nós do laboratório da Uece não temos condições de arcar sozinhos. Espero que a partir da autorização da Anvisa para a fase um de testes em pessoas possamos concorrer a um edital público ou conseguir financiamento de alguma instituição privada”.
Ney de Carvalho Almeida, doutorando Renorbio/Uece e idealizador da vacina