A crise pode ser uma oportunidade. Nunca uma frase fez tanto sentido diante da pandemia do coronavírus. Impossibilitadas de realizar boa parte das operações de forma presencial, principalmente o contato com clientes e fornecedores, empresas e associações passaram a organizar eventos online para não ficarem paradas. E um dos setores que vêm se destacando nesse contexto é o de comércio exterior. Com as fronteiras fechadas, rodadas de negócios virtuais, assim como feiras e capacitações, estão protagonizando as negociações internacionais e trazendo resultados para empresas do Ceará.
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Para se ter uma ideia, dados do Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), revelam que, em 2020, a entidade apoiou como parceiro e na arregimentação de empresas cearenses ao menos quatro rodadas de negócios virtuais. A saber, três foram do setor de alimentos e bebidas e uma no de mineração.
Já em 2021, mais precisamente em abril, foi realizada, juntamente com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Rodada Internacional da Moda, contemplando os segmentos de confecção, têxtil e calçados. Ao passo que, também em abril, o CIN apoiou a rodada de negócios promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para o setor de castanhas, amendoins e nozes, da qual participaram cinco empresas cearenses.
O próximo item na agenda do CIN é a divulgação e o apoio à Rodada Virtual Natural, Organic & Healthy Foods 2021, promovida pela Apex-Brasil, que acontecerá de 28 de junho a 1º de julho deste ano. Segundo o CIN, o evento busca reunir as empresas brasileiras do setor de alimentos e bebidas para um encontro virtual com importadores e distribuidores internacionais, incluindo reuniões bilaterais entre as empresas por meio de videochamada.
Ainda envolvendo o mesmo setor, sendo que de 22 a 26 de junho próximos, ocorrerá, também com o apoio do CIN, o Business Connection Brazil Food & Beverage, proposta pelo BID em conjunto com a Apex-Brasil, Confederação Nacional da Indústria (CNI), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Plano Nacional da Cultura Exportadora (PNCE). A iniciativa traz às micro, pequenas e médias empresas de alimentos e bebidas a oportunidade de participarem de uma rodada de negócios com compradores internacionais de forma virtual.
Para a gerente do CIN, Karina Frota, o sucesso das rodadas de negócios virtuais vem não só da facilidade de participação de empresas de diversas regiões e portes, mas também da objetividade para negociar de forma online e, principalmente, pela orientação disponibilizada para cada evento.
“O interessante nessas rodadas é que as empresas que participam já chegam bem-preparadas. Antes, também de forma virtual, conseguimos realizar uma série de workshops, capacitações e consultorias para os empresários inscritos envolvendo todas as informações que eles precisam para uma melhor negociação. Isto inclui informações estratégicas como investimentos necessários para a internacionalização dos seus produtos, câmbio, logística e formação de preço, para que eles tirem o maior proveito possível da oportunidade”.
Karina Frota, gerente do CIN
Embora sejam eventos online, ela ressalta que as empresas reportam que costumam se surpreender com os resultados. “O que temos visto é uma adaptação ao cenário imposto pela pandemia. Embora seja um modelo bem disruptivo, o mais importante é que as empresas estão fechando negócios. Dessa forma, é um avanço muito grande diante dos resultados que estão sendo obtidos”, expõe.
“As rodadas de negócios internacionais permitem que as empresas brasileiras apresentem seus produtos para compradores de outros países, aumentando sua capilaridade de vendas e auxiliando na retomada econômica da indústria. É uma excelente forma de iniciar uma negociação para exportação”.
Marlene Albuquerque, assessora técnica do CIN
Segundo o analista de negócios e consultor do Sebrae Ceará, Sílvio Moreira, a agilidade que as rodadas virtuais trazem para as negociações é um dos principais ganhos que precisa ser visto pelos empresários. Mas, antes, afirma, é preciso que os empreendedores desenvolvam uma “mentalidade digital”.
“Para se ter uma ideia, em uma recente reunião online com representantes do setor de confecções do Interior do Ceará, eles comentaram que após a pandemia voltariam a viajar para contatar fornecedores e prospectar negócios. Foi aí que eu intervi e procurei trazê-los para a nova realidade. Não se pode esperar a pandemia acabar, pois isso não vai ocorrer da noite para o dia. Durante muito tempo vamos ter que conviver com ela e com outras questões que virão. Então, por que não marcar agora uma reunião virtual com um fornecedor ou cliente?” argumenta.
De acordo com ele, este fato só reforça a necessidade de uma mudança de atitude por parte dos empresários, “focando no desenvolvimento dessa mentalidade digital, principalmente o micro e pequeno empreendedor”.
“O que percebemos, ao conversar com os empresários e gestores, é que ninguém estava preparado quando a pandemia começou e tivemos que migrar para o modelo digital. Para que mesmo fisicamente a distância continuassem havendo contato. Muitas empresas, inclusive grandes, precisaram ajustar alguns processos para que o cliente estivesse próximo. O momento exige de todos essa adaptação, a surfar nessa onda, procurando saber o que precisa ser feito no seu negócio, ou então vai ficar para trás”.
Sílvio Moreira, analista de negócios e consultor do Sebrae-CE
Não é à toa, conta, que desde o ano passado, o Sebrae Ceará vem realizando vários encontros de negócios virtuais, quando empresas compradoras e fornecedoras são colocadas para conversar, assim como empreendedores e instituições financeiras também são colocadas frente a frente, mesmo que de forma online, para negociar capital de giro entre outras formas de capitalização. “Ao mesmo tempo, apoiamos a realização de diversas feiras e rodadas de negócios virtuais, inclusive internacionais. O Sebrae não só realiza como também estimula e é parceiro de eventos realizados por outras instituições no Ceará”, fala.
Participante da Rodada Internacional da Moda, que ocorreu de 13 a 15 de abril deste ano, o pequeno empresário Leonardo Mota Moreira, do Estúdio Matulão, é um dos que comemora os resultados com as rodadas de negócios virtuais em comércio exterior. A empresa fabrica bolsas e está localizada em Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza.
“Esta foi a primeira vez que eu participei de uma rodada de negócios internacional e ainda por cima virtual. A experiência é bastante positiva, pois abre espaço para os pequenos empresários participarem, sem envolver os custos de um evento presencial fora do país”, afirma.
De acordo com ele, apesar de já vender, mesmo que de forma pontual, seus produtos para países como Estados Unidos, Itália, Portugal, França e Holanda, a iniciativa o colocou em contato direto com vários clientes em potencial, permitindo entender suas demandas e necessidades. Assim como o ajudou a ficar por dentro da legislação para vender para o exterior, sobre a adequação de produtos e preços, entender a logística de entrega adequada entre outros fatores.
E os primeiros resultados já começaram a aparecer. “Das conversas que mantivemos com representantes de quatro países – Espanha, Barbados, Guatemala e Peru – enviamos nossos catálogos para dois deles, assim como estamos acertando, agora, o envio de amostras dos produtos, a fim de dar continuidade às negociações”, comemora.
“Por isso, pretendo participar de outras rodadas de negócios virtuais. Agora, o que vejo é que este mesmo formato poderia ser criado para feiras e rodadas de negócios dentro do Brasil, não só internacionais”.
Leonardo Mota Moreira, proprietário do Estúdio Matulão