Mais do que promover a inserção digital, caminha-se para desenvolver uma experiência de mercado mais completa, integrando-se múltiplas frentes e canais, entre meios físicos e digitais, alicerçados pelas relações sociais entre empresas e pessoas, trazendo, dessa forma, novas oportunidades e o aumento da competitividade. Essa foi a principal lição deixada durante o evento O Futuro já é Figital, marcando a primeira edição do Arena 5.0, projeto da TrendsCE de eventos virtuais sobre temas de interesse para os mais diversos setores da economia e sociedade, atentos às práticas, soluções e tendências no mercado de inovação e tecnologia.
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Realizado junto com a Inova Mundo, o evento também teve a parceria da TDS Company e Câmara Brasil Portugal no Ceará, com organização da Promove e apoio da Casa de Vovó Dedé. O debate, apresentado pela jornalista Carla Matos, teve a participação de Silvio Meira, cientista-chefe da TDS Company e especialista em inovação e empreendedorismo; André Neves, professor, pesquisador em design de sistemas de computação e cientista associado da TDS Company; e Elisa Correia, diretora geral da Rede Moura, responsável pelas estratégias internacionais do grupo, que apresentou a plataforma digital Moura Fácil, da marca de baterias Moura, ilustrando, na prática, o tema.
De acordo com Meira, a pandemia do coronavírus acelerou e trouxe para o presente um futuro previsto para o mundo dos negócios para daqui a alguns anos.
“As restrições de circulação impostas pela Covid, de repente, trouxeram todos para o mundo virtual. Causou o maior processo de aprendizagem coletiva da história. Todos tiveram que aprender em meio ao caos, quando o universo físico entrou em colapso. As pessoas tiveram que mudar o comportamento, criou-se a oportunidade do trabalho remoto e a existência de negócios híbridos, com uma migração dos negócios para o espaço figital. Ou seja, antes havia a dimensão física e agora têm também uma dimensão digital e ainda a dimensão social, permitindo que todo esse modelo funcione. A presença dos negócios se dá, agora, neste espaço tridimensional”.
Silvio Meira, cientista-chefe da TDS Company
Para fundamentar este novo cenário de impactos e rupturas de mercados, o cientista traçou um histórico de como vem se dando a transformação digital das empresas, que começou, na verdade, na década de 1970, quando então os primeiros computadores passaram a fazer parte do dia a dia das corporações; seguindo pelos anos 1980, quando começaram a se popularizar os computadores de mesa; passando pela década de 1990 com o advento da internet e o surgimento do comércio eletrônico; até chegar nos anos 2.000, quando a verdadeira revolução digital se instalou por meio da disseminação da computação em nuvem, possibilitando a criação de negócios inovadores, por meio das startups, e o lançamento dos smartphones.
“A partir daí, com os smartphones, deixamos de informatizar somente as empresas para informatizar também as pessoas. Isto causou uma explosão de negócios digitais, com tudo acontecendo em tempo quase que real; e, com a mudança de comportamento das pessoas, novas experiências foram desenvolvidas a partir das plataformas digitais. Os negócios, inclusive os físicos, tiveram que passar a funcionar nos smartphones”, avaliou.
De fato, complementou, Neves, “fomos obrigados a vir para o espaço figital de uma maneira muito rápida, acelerada”. “O mundo todo mudou. O físico foi expandido para o digital, o que acabou melhorando a vida das pessoas, criando oportunidades de acesso. Dessa forma, tivemos que criar estratégias para levar os negócios físicos, ou analógicos, para o mundo digital, desenhando novos processos, produtos e serviços para ajudar as pessoas e as empresas”, pontuou. Conforme disse, não se trata apenas de colocar um software rodando nos negócios.
“Esse processo deve vir acompanhado por uma mudança no comportamento das pessoas. É um mundo novo, que envolve não apenas quem está na linha de frente em contato com o mercado, mas também quem está na retaguarda para que o negócio funcione”.
André Neves, cientista associado da TDS Company
Ainda de acordo com ele, a transformação digital passa, na verdade, pelo desenho de serviços que vão integrar pessoas e produtos. “Negócios são redes de pessoas de todos os lados, de dentro e de fora das empresas. Quanto mais a rede interna entende e interage com a rede externa mais os negócios vão prosperar”, concluiu. “Empresas são abstrações, o que interessa são as pessoas”, emendou Meira.
Nesse sentido, Neves detalhou o ciclo de inserção das empresas no mundo figital. “Temos, incialmente, o clico de aprendizagem, para entender o que está acontecendo e as tendências; e o ciclo de oportunidades, periféricas e críticas, a fim de explorar novos contextos para os negócios”, explanou. De acordo com ele, em meio a esse processo, não se deve esperar uma solução pronta.
“É preciso colocar em prática para testar o quanto antes e daí seguir evoluindo. Se esperamos uma solução ficar pronta, corremos o risco de ela ficar velha quando for lançada. No mundo figital as coisas são vivas e evolutivas, tudo muda todos os dias. Então, não podemos esperar. Vamos fazendo e aprendendo enquanto as coisas vão acontecendo”.
André Neves, cientista associado da TDS Company
E mais: “O maior desafio do mundo figital é olhar os negócios futuros. Escolher o nosso futuro agora e trabalhar processos, produtos e serviços nessa direção. Para isso, é só perceber o comportamento das pessoas, o que elas desejam e olhar para o futuro o tempo todo”, disse.
Para Silvio Meira, neste cenário, temos que ter claro que as mudanças podem ser espontâneas ou induzidas. “Na primeira, acompanhamos o que está acontecendo, o que está mudando por meio da adaptação. Nesse caso, a evolução do negócio vem de fora para que ele continue competitivo”, explicou.
“Já na segunda, o negócio funciona como um agente de mudanças. É ele que começa a intervir e a causar a ruptura do mercado, criando e captando valor. Dessa forma, eu escolho o meu futuro, diferentemente da mudança espontânea, onde escolhem por mim. E em não decidir escolher o seu futuro, você tem pouco tempo para evoluir e se limita a um determinado número de opções para sobreviver no mercado”, emendou.
“Alargar o tempo dos negócios buscando possíveis futuros, trazendo-os para o presente e não trazer o passado para o presente. No mínimo o que pode ser feito é otimizar o presente e investir antecipando o futuro daí para frente”.
Silvio Meira, cientista-chefe da TDS Company
“De fato, não podemos nos colocar como refém dos acontecimentos. Não podemos ser levados pelo que está acontecendo. O ideal é nós levarmos, conduzirmos esse processo, definindo estratégias para gerar valor”, complementou Elisa Correia, diretora geral da Rede Moura.
Nesse contexto, Elisa compartilhou a experiência da Rede Moura, que está há 41 anos no mercado e antecipou, ainda em 2017, o mundo figital com a criação e implementação da plataforma digital Moura Fácil. De acordo com ela, o serviço surgiu como o primeiro digital no país que entrega baterias automotivas em um intervalo de tempo, desde o pedido do cliente, de até 50 minutos. “Mas nosso tempo médio estimado, hoje, é de 38 minutos”, afirmou.
Além de ágil, o funcionamento é simples. Segundo a diretora geral, a plataforma identifica a revenda de baterias Moura mais próxima e direciona para este estabelecimento a demanda do consumidor. Em seguida, é feita a entrega, a instalação e só então é processado o pagamento, com o frete da bateria sendo gratuito.
“Com o Moura Fácil, nós usamos o digital não apenas como um modismo, mas em uma plataforma em benefício do consumidor. Descobrimos nesse processo que o cliente quer simplicidade, agilidade e conveniência. Digitalizamos um negócio já existente, combinando vários canais de atendimento, entre físicos e digitais, para fazer com que a solução do problema estivesse na mão do cliente”.
Elisa Correia, diretora geral da Rede Moura
Ao mesmo tempo que, conforme disse, passaram a encarar o digital como algo que deve permear toda a empresa, não só a nossa linha de frente. E entre os benefícios alcançados pela empresa, criou-se um vínculo mais forte com os revendedores, aumentou o giro dos produtos e se estabeleceu um contato mais direto com o consumidor.
“Nesse processo, identificamos também que não é preciso ter uma solução pronta, perfeita, para chegar ao mercado. O aprendizado e as melhorias acontecem à medida que as coisas são colocadas em prática. A gente começa pequeno, aprende a fazer e daí expande. Além disso, não considero que já estamos transformados digitalmente. Prefiro falar em uma jornada contínua e viva: ainda temos muito trabalho a fazer, mas estamos no caminho certo”, concluiu.
O Arena 5.0 – O Futuro já é Figital foi realizado de forma virtual nesta quinta-feira (10), em uma iniciativa da TrendsCE e Inova Mundo, com parceria da TDS Company e Câmara Brasil Portugal no Ceará (CBP-CE). A organização ficou a cargo da Promove Eventos e apoio da Casa de Vovó Dedé, com transmissão ao vivo no canal da TrendsCE no YouTube.
Na abertura do evento, houve a cerimônia de posse da nova diretoria da CBP-CE para o biênio 2021-2023, que passa a ter como presidente o advogado Eugênio Vieira, sócio-fundador do APSV Advogados. Estiveram presentes também a vice-cônsul de Portugal em Fortaleza, Cristina Pedroso; o ex-presidente da Câmara, Wandocyr Romero, e o presidente da Federação das Câmaras Portuguesas no Brasil, Armando Abreu. A apresentação foi realizada pelo jornalista Mauro Costa.