Mudança no perfil de compra, criação de espaços de coworking, readaptação de imóveis residenciais, captação de clientes por meios digitais são algumas das transformações que apontam novas tendências no mercado imobiliário. (Foto: Freepik)

Tendências do mercado imobiliário cearense no pós-pandemia

Por: Raul Galhardi | Em:
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A crise sanitária causada pelo novo coronavírus impactou diversos setores da economia e gerou novos comportamentos na sociedade. O home office passou a ser adotado por muitas empresas e a cautela, seja com a própria saúde ou de outros, seja em relação a investimentos e aplicações, tornou-se a ordem do dia.


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Entretanto, algumas áreas têm conseguido passar por esse difícil momento até com uma certa melhora da sua situação, como o mercado imobiliário. Segundo pesquisa divulgada pelo FipeZap em janeiro deste ano, os preços dos imóveis residenciais tiveram em 2020 sua primeira alta em quatro anos.

De acordo com o estudo, eles registraram subida de 3,67%. Apesar do avanço, o resultado ainda está abaixo da inflação projetada para o período, de 4,38%. O FipeZap monitora a variação do preço médio de venda de imóveis residenciais em 50 cidades. Para Tiberio Benevides, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-CE), esse aumento teria sido um reajuste dos preços de volta a um patamar equilibrado.

“Não considero que tivemos um aumento no preço dos imóveis, mas um fim dos descontos, com os preços se equilibrando”.

Tiberio Benevides, presidente do Creci-CE

Nesse mesmo sentido concorda Sergio Macedo, presidente da Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon-CE). “Chegamos a vender imóveis com até 30% de desconto e hoje estamos reajustando esses valores”, fala.

Clausens Duarte, vice-presidente da área financeira do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), explica que essa alta dos preços foi motivada pelo aumento da procura por imóveis, resultado principalmente dos juros baixos (Selic), e pelo crescimento da inflação do setor da construção.

“Desde o segundo semestre de 2019, já se percebia uma melhora no mercado imobiliário puxada pela baixa taxa de juros. Pela lei da oferta e da demanda, os preços começaram a reagir e subiram”, afirma Duarte. No entanto, devido à pandemia, ocorreu uma redução drástica nas vendas e intenção de compras no começo de 2020, tendo sido março e abril os piores meses.

“Após esses meses, no entanto, voltamos a ter um crescimento nas vendas e terminamos o ano passado com um número superior de vendas em relação a 2019. Isso permanece em 2021. Tivemos agora o primeiro trimestre com maior volume de vendas desde 2014”, afirma o vice-presidente do Sinduscon.

Um elemento que preocupa a área da construção, porém, é a inflação do setor, que desestimula novos lançamentos. “Principalmente nos últimos doze meses temos percebido um aumento da inflação da construção civil. Tivemos nesse período um índice de cerca de 13%, o maior dos últimos sete anos e isso é muito preocupante porque há um limite de quanto podemos repassar a inflação para o preço final ao consumidor, já que a sua renda não subiu tanto nesse mesmo período”, destaca.

Ele explica que os principais motivos dessa alta na inflação do setor seriam o aumento do dólar no Brasil, que favorece as exportações, e o fato da China ter retomado seu crescimento econômico de forma muito forte, fechando contratos por todo o mundo principalmente na busca por commodities (ferro, aço, vidro etc.).

“Os fornecedores brasileiros venderam praticamente toda a sua produção para fora, restando poucos produtos no mercado interno, o que justifica o aumento da inflação. De janeiro de 2020 até agora tivemos um aumento de mais de 150% no preço do aço e do cobre e atrás deles vem uma série de outras commodities como vidro, PVC, cimento, com aumentos em patamares menores”.

Clausens Duarte, vice-presidente do Sinduscon-CE

Tendências dos imóveis residenciais

Mudanças no perfil do imóvel desejado pelos consumidores foram observadas durante a pandemia motivadas principalmente pelo comportamento adotado pelas pessoas nesse período, como o fato delas serem obrigadas a passar mais tempo dentro de suas casas devido ao isolamento social.

“Tem ocorrido um crescimento na busca por casas ao invés de apartamentos e por imóveis nas praias. Tivemos uma redução significativa do estoque desses tipos de imóveis”, diz Duarte.

Segundo Macedo, a principal mudança no perfil de compra vista nesse período pandêmico foi a procura por imóveis de praia como segunda moradia. Na mesma linha, Benevides afirma que cresceu o número de pessoas que compraram uma segunda residência. Há um ano, segundo ele, havia no mercado cerca de 400 unidades na região do Porto das Dunas e de lá para cá todas teriam sido vendidas, bem como todos os lançamentos feitos no litoral oeste.

“As casas continuam vendendo bem porque muitos saíram de seus apartamentos e foram para um condomínio grande em praias. Um apartamento na praia em março de 2020 custava em torno de R$ 600 mil e agora esse mesmo imóvel custa R$ 1,2 milhão”, afirma o presidente do Creci-CE.

Em função da prática do home office, uma tendência percebida é a criação de espaços de coworking na área comum dentro dos condomínios. “Isso tem agregado valor aos empreendimentos”, afirma Duarte. “Devemos ter imóveis mais bem projetados para o uso de espaços internos para trabalho e muitos prédios continuarão tendo seu espaço de coworking nas áreas comuns”, defende Benevides.   

“Outra tendência que tem sido incorporada aos novos lançamentos é um espaço para as visitas esperarem (entregadores, por exemplo) no condomínio, motivado pelo aumento dos pedidos de entrega em domicílio”, diz o vice-presidente do Sinduscon Ceará. “Para o pós-pandemia, uma das coisas mais procuradas pelos clientes será a varanda”, afirma Macedo.

O presidente do Creci-CE diz que os consumidores agora buscam mais área interna e externa nas moradias, como salas e quartos maiores e locais com gabinete para trabalhar, e que isso deverá continuar. Porém, de maneira geral, tanto Benevides como Macedo acreditam que os apartamentos de dois quartos continuarão liderando as procuras. 

Imóveis comerciais

Durante a pandemia, o home office foi adotado por diversas empresas de diferentes setores e o mercado de prédios e salas comerciais sofreu um forte impacto com isso. De acordo com a pesquisa “O Futuro do Trabalho no Brasil” feita pela IDC Brasil, a pedido do Google Workspace, 44% dos funcionários entrevistados trabalham atualmente no sistema híbrido (remoto e presencial); 29% presencialmente e 27% de forma remota.

Quando questionados sobre as formas de trabalho escolhidas pelas organizações para o futuro, 43% dos profissionais cujas empresas já definiram um formato de trabalho pós-pandemia afirmam que o escolhido foi o híbrido. O levantamento conversou com quase 900 funcionários de empresas brasileiras de diversos setores e tamanhos.

É unânime entre os especialistas entrevistados pela TrendsCE que o mercado de imóveis comerciais está parado e que deverá permanecer assim ainda por um tempo. “Não percebemos nenhuma alteração em números de venda e de procura por imóveis comerciais. Eles já vinham com uma procura reduzida e continuam dessa forma, tanto por causa de uma retomada tímida do crescimento econômico como por questões comportamentais ligadas à pandemia”, afirma Duarte.

Para ele, ainda não está muito claro como se comportará esse tipo de imóvel no futuro. “Temos visto reportagens que falam que determinadas áreas perceberam que poderiam trabalhar em home office, mas outras matérias que mostram um maior esgotamento dos funcionários ao trabalharem em casa devido ao aumento de horas trabalhadas e à falta de separação entre a casa e o trabalho”.

Benevides acredita que as pessoas já estariam cansadas de reuniões virtuais e que o pós-pandemia seria um momento de retorno aos escritórios. “Certos tipos de negócios não funcionam em home office. Não acredito que irá mudar muita coisa em relação à necessidade de retorno aos locais de trabalho.”

Macedo afirma que o trabalho híbrido irá permanecer e crescerá, mas que em um primeiro momento após o fim da crise sanitária haveria “uma necessidade muita grande da volta ao trabalho físico, até por necessidade de convivência entre as pessoas”.

Em relação aos espaços de coworkings também há uma indefinição entre os especialistas de como o mercado desse tipo de imóvel deverá se comportar. “É cedo para dizer como ele se comportará devido à questão do compartilhamento do espaço físico entre as pessoas, já que ainda estamos vacinando a população. Não temos visto nem queda nem aumento na procura por espaços desse tipo”, diz o representante do Sinduscon-CE.

De acordo com presidente da Coopercon-CE, o mercado de coworking vai progredir. “Ele dá mais acesso a espaços e ao compartilhamento de ideias com outras pessoas”. Já o presidente do Creci-CE defende que muitos prédios comerciais criaram locais de coworking, mas que nem todos os trabalhos podem ser realizados nesses espaços, sendo ainda necessários escritórios para algumas empresas.  Ele vê com otimismo o futuro do setor de imóveis comerciais.

“Muitas lojas quebraram devido à pandemia, mas muitos shoppings no Brasil deram descontos em aluguéis para que seus lojistas não saíssem, por exemplo. A recuperação da economia irá colocar tudo de volta em seus devidos lugares. Algumas fecharam, outras reabrirão”.

Tiberio Benevides, presidente do Creci-CE

Transformação digital

Foi nítida a transformação digital em vários setores da economia com a aceleração e desburocratização de processos e não foi diferente no campo imobiliário. “Vimos a aceleração da jornada digital com o uso de ferramentas que já existiam e que passaram a serem mais utilizadas. Nos cartórios, que tinham processos demorados, burocráticos, agora já é possível observar uma melhora no sentido da maior rapidez. A jornada online dos clientes aumentou significativamente o percentual das vendas digitais no setor e após a pandemia essa digitalização deverá continuar forte”, defende Duarte.

Para Benevides, o presencial ainda é muito importante e continuará sendo, embora mudanças importantes tenham ocorrido. “Vimos que as assinaturas de contratos cresceram muito de forma remota, mas acredito que as relações mais presenciais irão retornar após a pandemia”. Essa alteração na forma dos contratos também foi verificada por Macedo.

“As assinaturas digitais de contrato vieram para ficar. As empresas já estão se adaptando para isso ou deverão se adaptar”.

Sergio Macedo, presidente do Coopercon-CE

A captação de clientes por meios digitais também é outra transformação sem volta. “Nessa pandemia, os corretores tiveram que criar novas maneiras de captar clientes, principalmente por meio das mídias digitais, o que já vinha acontecendo, mas que foi intensificado agora”, conclui Benevides.

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