Em 2020, 1.038 transações de fusões e aquisições de empresas foram anunciadas no País, conforme acompanhamento da consultoria PwCBrasil, 48% acima da média dos últimos cinco anos. Para 2021, a tendência é de que a curva continue ascendente. De acordo com estudos da KPMG, somente no primeiro trimestre foram contabilizadas 375 operações, o maior número para o período registrado em duas décadas. Especialistas garantem que o Brasil está preparado e avança firme nesta alternativa de expansão, o que contempla o Nordeste, notadamente o Ceará, que dá exemplos de transações bem-sucedidas, como a recente compra da Extrafarma pela Farmácias Pague Menos. E agora o Iguatemi que será incorporado pela Jereissati Participações passando a Iguatemi S.A.
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Para o economista Célio Fernando, sócio da BFA Assessoria, a movimentação de empresas em busca de parcerias se deve à liquidez internacional que sempre esteve disponível. O que mudou foi o fluxo de capitais que se intensificou apesar da pandemia.
“É natural que as empresas busquem maior escalabilidade”.
Célio Fernando, sócio da BFA Assessoria
Ele comenta, citando a área de saúde que tem se destacado. Somente em uma semana foram realizadas sete transações em saúde no País. O varejo é outro segmento que vem usando algumas alianças estratégicas para seu fortalecimento. Da mesma forma, a área de energias sustentáveis como eólica e fotovoltaica tem despontado como de grande expansão a ponto de carecer de mão-de-obra de elevada especialização.
Como vice-presidente da Apimec Brasil, o economista observa que as empresas brasileiras têm evoluído em suas convicções e entenderam que os processos de M&A (Mergers and Acquisitions, Fusões e Aquisições na tradução livre para o português) podem alcançar, com êxito, todas as áreas da companhia, desde a auditoria e governança à gestão executiva, que cada vez mais se profissionaliza.
Célio Fernando lembra que as fusões, aquisições ou quaisquer outros modelos de parcerias são vitais para dar sustentação ao crescimento das empresas que querem ampliar sua presença no mercado nacional e internacional e que busquem vantagens competitivas. Por isto, a iniciativa de reestruturação do Grupo Iguatemi, para ele, é o caminho natural do crescimento. “O limite é o da defesa econômica através do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o CADE”, diz ele, referindo-se aos cuidados necessários para evitar que os arranjos empresariais não se configurem em cartel, monopólio ou oligopólio em prejuízo da sociedade.
O grupo Jereissati possui hoje 50,7% do capital votante do Iguatemi, e tem 30,6% do capital econômico. Caso a transação seja aprovada, o grupo passará a ter 68,5% do capital votante e 29,2% do capital econômico – o que explica a nova empresa passar a ser negociada em forma de units no mercado, com a finalidade de que a família não perca o controle da empresa.
O pensamento é compartilhado pelo sócio da Verk Investimentos/ BTG Pactual, Henrique Colombo, que atribui a movimentação de M&A à globalização que cada vez mais internacionaliza a economia e pressiona as empresas nacionais para não perderem competitividade. “Há uma pujança de recursos trafegando atrás de empresas atrativas”, diz ele, ao vislumbrar um cenário promissor para a aceleração da retomada econômica através de parcerias e que vai além do crescimento orgânico por abertura de filiais e de novas unidades industriais.
Sinergia é a palavra mágica. As empresas podem avançar aproveitando o know how seja de canais de vendas, seja de linha de produtos do lado a ser absorvido ou associado.
“Somar expertises e de portes dá maior poder de barganha aos olhos do mercado a ser alcançado”.
Henrique Colombo, sócio da Verk Investimentos/ BTG Pactual
Para ele, os chamados setores aquecidos, de acelerado retorno (saúde, varejo e educação, por exemplo) estão no radar dos fundos de pensões e demais investidores.
Da mesma forma, as empresas consolidadoras – onde novamente despontam as áreas de saúde e educação – estão buscando recursos no mercado de capitais para a aquisição de novas empresas. O alerta do especialista é que quaisquer destas transações requerem conhecimento e atenção do comprador sobre a saúde financeira e o potencial do “comprado”, considerando a escassez de dados estruturados para análise.
O Brasil, entretanto, caminha a passos largos para a transparência dos indicadores, até há pouco um privilégio exclusivo das grandes Companhias, notadamente as listadas em bolsa de valores. Mais recentemente, até mesmo as empresas de menor porte – conhecido como médio mercado – estão evoluindo nos níveis de governança com processos claros de sucessão, com diretorias cada vez mais profissionalizadas e buscando suporte dos serviços de consultorias e auditorias especializadas.
No Ceará, as empresas de médio porte aceleram os sistemas de organização e gestão, especialmente nos últimos três anos, já sendo assediadas por investidores, como mostram as diferentes transações realizadas. “Mais de 10% das empresas de médio porte no Nordeste já estão auditando balanços ou estão a caminho”, garante Henrique Colombo.
Com mais de 25 anos de atividade, o especialista em direito societário, Edson Santana, não tem dúvidas de que o caminho do crescimento econômico passa pelas diferentes formas de fortalecimento disponíveis para ganhar mercados. Mas alerta que é preciso, juridicamente, estudar as regras e ficar atento às diferenças entre cada uma das ferramentas de negócios.
A fusão tem o propósito de união para a formação de uma nova figura jurídica e pressupõe novas regras com a extinção das anteriores, como aconteceu com Antarctica e Brahma que gerou a Ambev.
Na aquisição, onde a empresa dominante adquire o controle societário de outra e dita as suas normas, o Ceará desponta com inúmeros “cases” como Hapvida, Hospital São Carlos. E na incorporação, o comprador absorve a sociedade desejada com todos os seus direitos e obrigações, modelo que encontra referência no Bradesco, atualmente HSBC.
“Qualquer que seja a estratégia de crescimento e até de sobrevivência adotada, entretanto, cabe alertar que há vantagens e desvantagens que precisam ser analisadas desde o início do processo”.
Edson Santana, sócio-fundador da Edson Santana Advogados
Ele diz que este acompanhamento está acessível e que o empresariado brasileiro está conectado. E cita a TrendsCE como mais uma oportunidade de promoção de sinergia conectando as empresas cearenses com os investidores.
Para prosperarem e serem protagonistas de sua história, também as pequenas empresas têm que adotar eficazes estratégias de controles e metas. A posição é de Luciano Almeida, diretor de Novos Negócios da Fortus Consulting.
Ele entende que com seu poder empreendedor, o País precisa encurtar a distância entre as práticas de gestão comuns às grandes corporações daquelas ainda ausentes no verdadeiro universo empresarial brasileiro formado por pequenas e médias empresas, que também podem utilizar o M&A para crescer.
“É hora de apoiarmos a preparação destas empresas para saltos maiores, implementando e aperfeiçoando mecanismos de controle para torná-las mais transparentes e atraentes ao mercado, disponibilizando informações relevantes ao parceiro interessado em investir”, afirma ele para quem este é o novo jeito de atuar em rede, junto com o cliente, para que ele ganhe fôlego no período do “diagnóstico” e avance sozinho no “pós-operatório”.
Com 1.101 lojas e com presença em todo o País, ao adquirir a Extrafarma, a Farmácias Pague Menos acrescentará 402 novos pontos e acelera em três anos o seu plano de expansão especialmente para o Norte e Nordeste. Com a aquisição no valor de R$ 700 milhões, ainda sujeita à aprovação prévia do CADE, a Pague Menos se transforma na segunda maior rede de farmácias do Brasil, com 1.503 lojas, R$ 9,6 bilhões em vendas e 7% de market share nacional. E a palavra-chave parece ser sinergia sobre ganho de escala e de eficiência operacional.
“Esta operação acelera a implementação do nosso plano de expansão com a incorporação de unidades da Extrafarma em locais selecionados para nossa expansão entre 2021 e 2023, ampliando nossa presença nas regiões Norte e Nordeste e na classe média expandida. Além disso, continuaremos com nosso plano de expansão orgânica”.
Mário Queirós, CEO da Pague Menos
O impacto da operação vai além do porte da rede. A malha logística da Companhia ganha quatro centros de distribuição (Maranhão, Ceará, Pará e São Paulo), que se somam aos atuais localizados no Ceará, Pernambuco, Bahia, Goiás e Minas Gerias. “A iniciativa também assegura a competitividade da Pague Menos em mercados estratégicos”, acrescenta Queirós.
Também as operações da Pague Menos no ambiente digital serão fortalecidas com esses 402 novos pontos para retirada de produtos e, no caso de São Paulo, estado com alta penetração do digital, ainda haverá expansão de 50% do footprint de distribuição. O programa de fidelidade é outro ponto forte do negócio que deverá resultar em uma base de 20 milhões de clientes ativos.
Para a integração das operações, além do apoio de seu time de executivos que acumula experiência em grandes fusões e aquisições de sucesso do varejo no Brasil, a Pague Menos terá a consultoria da McKinsey & Company e o suporte da General Atlantic, como parceiro estratégico. Em 2020, a Rede de Farmácias Pague Menos apurou uma receita bruta de R$ 7,3 bilhões e lucro líquido de R$ 96,2 milhões. O primeiro trimestre deste ano fechou com receita de R$ 1,9 bilhão e lucro de R$ 44,2 milhões, 380% superior ao do mesmo período do ano anterior.