A grande produção de camarão no Ceará e a necessidade do monitoramento constante da qualidade da água levaram quatro estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC) de Quixadá a criar uma solução automatizada usando a Internet das Coisas (IoT). Desenvolvida com o incentivo dos setores público e privado, hoje a startup Sitiá Brasil comercializa a tecnologia que simplifica o processo de produção e oferece qualidade e comodidade para os carcinicultores.
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“O Ceará é o segundo maior produtor do Brasil e, junto com o Rio Grande do Norte, concentra 97% da produção de camarão do país, mas a produção ainda é muito manual. O camarão precisa de três coisas: boa genética, boa alimentação e boa qualidade da água. Então a gente desenvolveu uma solução para controlar os indicadores da água”.
Matheus Fernandes, sócio da Sitiá Brasil
A tecnologia funciona com uma placa dentro dos viveiros de camarão, que coleta indicadores como o ph e a temperatura da água. Esses dados, então, são processados e enviados para a nuvem. Em seguida, o sistema manda para o aplicativo que o produtor tem instalado no celular. “É um trabalho muito mais cômodo e mais seguro. Não precisa virar noite com funcionário no local monitorando a água”, explica.
De acordo com Fernandes, a Sitiá desenha a placa com os sensores que necessita e manda para a produção na China. “Isso tudo é muito novo no Brasil e falta uma indústria competitiva aqui, o preço é elevado. Acho que o segundo momento é caminhar para revitalizar o setor industrial e tecnológico do país para conseguir virar uma potência”.
E o Ceará pode se tornar referência nesse processo, na avaliação dele. “Eu acho que o Ceará está com a faca e queijo na mão porque tem um ambiente de fomento muito bom. A Sitiá é um bom exemplo do que políticas públicas com o setor privado podem fazer. Temos uma trajetória que passa pela UFC, pelos Corredores Digitais, da Secitece, pelo Ninna Hub, do Grupo Pague Menos, e pela Funcap. Tudo isso converge para o tão sonhado parque tecnológico no Ceará e a Sitiá quer fazer parte disso”, conclui.
Esse processo de transformação digital do Ceará passa pela instalação de cabos submarinos de fibra ótica, que conectam o estado ao mundo. No início deste mês, entrou em operação mais um, o 16º. O cabo, da empresa portuguesa EllaLink, é o primeiro de alta capacidade a ligar diretamente o Brasil à Europa. No estado, a expectativa é que, com a redução de até 50% no tempo de transmissão de dados, os negócios da economia digital ganhem ainda mais impulso.
“Os cabos submarinos estão aqui há mais de 20 anos e pelo nosso posicionamento geográfico hoje temos a maior concentração do mundo. O Governo percebeu a oportunidade de utilizar esses cabos não só como local de passagem, mas para gerar oportunidades para empresas e pessoas”, afirma o secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Julio Cavalcante.
A conectividade interna é outro ponto fundamental para o desenvolvimento do Ceará, na opinião de Cavalcante.
“O Ceará vem construindo esse caminho ao longo dos anos, por meio do Cinturão Digital. Segundo a Anatel, dos 185 municípios mais conectados do país, 42 estão no Ceará, com 75% de sua área coberta por internet de alta velocidade”.
Julio Cavalcante, secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Sedet
A chegada da tecnologia 5G também vai facilitar a conexão de objetos usados no nosso dia a dia à internet. De acordo com Fernando Moulin, especialista em transformação digital da consultoria Sponsorb, o 5G tem taxa de transmissão de dados e latência (velocidade de resposta) até 10 vezes mais rápida que o 4G, além do menor consumo de energia dos dispositivos conectados à rede, que, segundo ele, pode ser até 100 vezes menor.
“Essas características irão possibilitar que o consumidor consiga, via rede móvel, utilizar vídeos e soluções de tecnologia baseadas em virtualização de modo quase instantâneo, o que trará inúmeras transformações em serviços, opções de entretenimento, educação, e vários outros exemplos. Para as empresas, deverá aumentar a eficiência nos processos de produção, produtividade dos colaboradores e trará a possibilidade da ‘sensorização’ das cadeias produtivas em todas as suas instâncias. A internet das coisas se tornará uma realidade mais viável, presente e massificada ao longo dos próximos anos”, detalha.
Em relação ao prazo de operação do 5G no Brasil, a previsão do Governo Federal é que a tecnologia chegue às capitais até junho de 2022.
“O Brasil se encontra no grupo de países mais atrasados em relação à adoção do 5G, se comparados a outras regiões do mundo onde já se começam a discutir novas evoluções para os próximos anos, como o 6G. Mas devemos ter um rápido avanço ao longo dos próximos anos, caso seja aprovado efetivamente o marco regulatório do 5G e suas condições comerciais ao longo do segundo semestre de 2021”.
Fernando Moulin, especialista em transformação digital da consultoria Sponsorb