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MEIs cearenses conseguem crescer em meio à pandemia

É certo que a pandemia do Coronavírus trouxe muitos desafios para empresas de todos os portes. Porém, se há um segmento que tem o que comemorar, este é o de microempreendedores individuais, os chamados MEIs.


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Em 2020, cerca de 9,6% de MEIs cearenses enquadrados nessa categoria, que abriram seus negócios em 2019, conseguiram crescer. Com um faturamento maior, mudaram, dessa forma, de natureza jurídica. O percentual corresponde a quase duas mil empresas, de um total de 20.677, abertas no ano pré-pandemia. É o que aponta estudo realizado pela Serasa Experian, empresa líder no País em serviços de análises e informações para decisões de crédito e apoio a negócios.

O desempenho registrado no Ceará é superior, inclusive, à média nacional. Segundo o levantamento, em 2020, cerca de 64 mil microempreendedores individuais cresceram e mudaram de natureza jurídica no Brasil. Isto seria o equivalente a 9,1% das 700 mil empresas abertas como MEI no ano anterior à pandemia em todo o território nacional, consideradas pela pesquisa.

Esse movimento, destaca a Serasa Experian, foi impulsionado principalmente pelo comércio – 10,8% faturaram acima do estipulado pela lei e precisaram migrar. Em seguida, vieram os Serviços (8,4%); a Indústria (7,9%) e o Setor Primário (6,8%).

Em um levantamento semelhante realizado em 2017, apenas 2,7% dos MEIs haviam trocado de natureza jurídica em função do crescimento em relação ao ano anterior.

Vendas online ajudaram MEIs a crescer

Para o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, o comércio conseguiu se reinventar graças às vendas online, algo mais complexo para segmentos como a indústria ou o setor primário.

“As redes sociais, os sites de marketplace, aplicativos e demais canais digitais permitiram que esses microempreendedores achassem alternativas para continuarem trabalhando. O público a ser atingido também aumentou, já que muitos brasileiros precisaram fazer as compras pela internet”

Luiz Rabi, economista da Serasa Experian

Outras pesquisas com empreendedores sobre o período mostram que eles enxergaram oportunidades e que contaram mais com as redes sociais para continuar vendendo.

“De fato, essa digitalização forçada foi o principal vetor impulsionador para muitos pequenos negócios durante a pandemia, incluindo aí os MEIs. Essas empresas se viram ainda diante da necessidade de implementar soluções eficazes de entrega dos seus produtos, o que também contribuiu para sustentar e aumentar o faturamento. Isso fez com elas subissem de categoria, ou seja, mudassem de natureza jurídica”, avalia.

Conforme disse, este modelo de comercialização digital veio para ficar. “As pesquisas revelam que, quando a pandemia passar, a grande maioria dos micros e pequenos empresários consultados não pretendem voltar ao formato antigo de venda. Ele será híbrido”, fala.

Planejamento e gestão formam um grande desafio

Mesmo com melhorias e ganhos de faturamento, os MEIs que cresceram ainda enfrentam um velho problema: a inadimplência. Dados do levantamento da Serasa Experian revelam um aumento nas dívidas negativadas dos que mudaram de categoria, em relação aos que permaneceram dentro das exigências da natureza jurídica – 20,2% contra 16,8%, respectivamente.

Os dados mais recentes revelam que 5,9 milhões de empresas estão com contas atrasadas no País, e as PMEs representam 92,4% do total. Cenário, afirma o articulador da Unidade de Inteligência Estratégica do Sebrae Ceará, Felipe Melo, que só reforça a importância do planejamento e das boas práticas de gestão, atentando para um crescimento pautado na saúde financeira dos negócios.

“Certamente essa parcela de 9,6% dos MEIs cearenses que cresceram e mudaram de natureza jurídica durante a pandemia, sendo 9,1% em âmbito nacional, é um fator a se comemorar. Mas, ao mesmo tempo, vale questionar em que condições esse crescimento ocorreu. Não significa apenas aumentar o faturamento e mudar de categoria, mas identificar como está a saúde financeira do negócio para que ele possa continuar crescendo de forma sustentável. Estamos falando em crescer acompanhado de uma boa gestão, o que ajuda a evitar a inadimplência e a lidar com outras dificuldades”, pondera.

Nesse sentido, a mente do empreendedor precisa estar preparada para levar o seu negócio adiante.

“A mudança do porte jurídico de uma empresa, na prática, só aumenta as suas obrigações e gera um maior acompanhamento do Fisco. Porém, as habilidades de gestão precisam estar alinhadas com essas mudanças de categoria. O novo momento impõe mais conhecimentos e a necessidade de apoio contábil, jurídico e de marketing, a fim de que todos os processos possam estar legalmente cobertos. Resumindo, o empreendedor precisa profissionalizar a gestão dentro de casa para acompanhar o seu crescimento”

Felipe Melo, articulador da Unidade de Inteligência Estratégica do Sebrae Ceará

“O que os empreendedores precisam saber, principalmente os pequenos, é que ele pode contar com o apoio de órgãos como a Serasa e o Sebrae, por meio dos quais existem ferramentas de gestão e cursos gratuitos para ajudar nessa tarefa. Eles não estão sozinhos e é importante buscar essa rede de apoio em meio a sua trajetória de crescimento”, acrescenta Luiz Rabi, da Serasa Experian.

De acordo com a professora do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Fortaleza (Unifor), Alessandra Ponte, que coordena o Núcleo de Apoio Fiscal e Contábil (NAF), da instituição de ensino, “à medida que o faturamento aumenta, é o primeiro sinal de que o negócio está se expandindo”.

“Neste momento, a atenção aos processos, à sua legalidade, é fundamental para sustentar o crescimento. Daí a necessidade de amadurecimento do empreendedor junto com a empresa. Muitos que empreendem abrem uma empresa como MEI porque é mais fácil e, assim, testam para saber se o negócio vai dar certo. Mas quanto mais ela fatura é sinal de que está crescendo. Assim, a formalização dos processos e o conhecimento vão ser fundamentais”

Alessandra Ponte, professora do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Fortaleza

Crescimento dos MEIs por região

A pesquisa da Serasa Experian considerou dados regionais. Nessa direção, o Centro-Oeste mostrou-se como a região mais próspera para os MEIs. Ali, 10,6% dos que atuavam no regime tributário subiram de categoria ao longo de 2020.

Na sequência, aparecem o Norte e o Sul, ambas com 10,2%, seguidas pelo Nordeste (9,1%) e o Sudeste (8,4%).

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