O Brasil tem um vasto potencial de crescimento no agronegócio e tende a se manter como a âncora-verde da economia brasileira. Até onde vai este fôlego? A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) responde prontamente: até quando houver demanda e aumento de produtividade.
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A Embrapa também argumenta que o setor tem condições de continuar crescendo pela força da ciência, tanto em área como em eficiência. E o Governo do Ceará, através da Secretaria do Desenvolvimento e Trabalho, engrossa a defesa de que o Brasil tem um próspero futuro. Se depender da cadeia diversificada do agribusiness e se garantir sua missão de celeiro mundial, este futuro está garantido.
Enquanto isso, os produtores de todos os portes, principais protagonistas do agronegócio, desafiam e vencem obstáculos com resultados positivos nos mercados interno e externo. Trata-se de um setor que, sozinho, respondeu em 2020 por 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) ou quase um terço da riqueza gerada pelo País.
O desempenho nas exportações também é vigoroso. Em 2020, o agronegócio brasileiro participou com quase metade do total exportado pelo Brasil, levando produtos para 190 países e somando US$ 100,81 bilhões em negócios.
Gustavo Saavedra, da Embrapa Agroindústria Tropical, destaca que o agronegócio brasileiro vai crescer na mesma proporção da adoção de práticas de sustentabilidade. Condição esta que, inclusive, é a maior para as novas relações de negócios.
A recuperação das áreas degradadas é um dos grandes caminhos disponíveis em todas as regiões do Brasil, com menor intensidade no Norte. É para lá que o mundo olha, onde a floresta preservada impacta diretamente no humor do mercado comprador.
Para Saavedra, o campo vive o que a indústria já superou ao substituir as poluidoras chaminés por sistemas avançados de tratamento dos resíduos e efluentes.
“Atividades que afetam a atmosfera e o solo não se sustentam mais”,
Eduardo Saavedra, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroindústria Tropical
Exemplo disto encontra no experimento feito no Ceará em 2019, que provou ser possível produzir trigo no semiárido. Com o apoio da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS), a área de menos de um hectare, em 70 dias, conseguiu uma produtividade de cinco a seis toneladas/hectare.
A comprovação veio em 2020, quando se repetiu no mesmo tempo em cinco hectares onde antes havia melão plantado, num sistema de turnover. “Agricultura de alta performance e conservação não são excludentes”, garante o chefe da Embrapa.
O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Bruno Lucchi, também enxerga um período de crescimento do agronegócio brasileiro no médio e longo prazos.
E por razões relativamente simples: pelo aumento da demanda da população mundial que passará dos 10 bilhões até 2050, pelas áreas agricultáveis ainda a serem melhor exploradas e pela elevada produtividade que está longe de bater no teto.
“Temos potencial para crescer quantitativa e qualitativamente”, afirma ele, considerando também o aumento de renda de mercados como os da Ásia e África.
No radar da CNA também está o pilar da sustentabilidade. Com a experiência de quem acompanha o setor nas suas rotinas, o diretor da entidade garante que os produtores brasileiros, cada vez mais, exercitam as práticas de preservação e utilizam modernos processos de manejo, plantio direto, integração lavoura-pecuária, alternância de plantio de grãos, pecuária e floresta e, assim, otimizando a fertilidade da terra.
“As possibilidades são infinitas porque reunimos características fundamentais de clima e solo, notadamente, para as culturas tropicais”, ilustra.
A trajetória do agribusiness brasileiro é vitoriosa porque conta com muita ciência. O uso da tecnologia encontrou abertas as porteiras das fazendas que agregaram a genética, a digitalização e a conectividade junto com iniciativas de sustentabilidade, como exige o consumidor, que quer saber a origem do produto.
Para a CNA, o desafio ainda está na questão do crédito rural que ainda precisa ser melhor disponibilizado para que alcance também as pequenas e médias propriedades.
“O governo tem melhorado o ambiente de negócios avançando também nos marcos regulatórios, o que traz algum alento ao produtor, mas que precisa acelerar o processo envolvendo financiamentos para que o setor privado faça a sua parte produzindo cada vez mais e melhor”, comenta Bruno Lucchi.
Ele está convicto de que o Brasil continuará sendo o celeiro do mundo podendo repetir e até aumentar nesta safra 20/21 os avanços já registrados na histórica safra de 76/77, quando a produção cresceu 464%. A área plantada aumentou em 80% e a produtividade alcançada atingiu 214%.
O Ceará – e o Nordeste – usufruem do mesmo clima favorável ao agronegócio brasileiro que cresce na proporção da demanda por alimentos no mundo. Fator favorável é o potencial de irrigação de até 60 milhões de hectares, dos quais o Brasil só irrigou 8 milhões, podendo, portanto, multiplicar as áreas irrigadas para obter os benefícios disto.
Para o secretário executivo de Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento e do Trabalho (Sedet), Sílvio Ribeiro, esta é apenas uma das sinalizações positivas de que há um próspero caminho a seguir e que mostra que o agronegócio brasileiro continuará a âncora-verde da economia brasileira.
“Temos área, tecnologia e uma cadeia de produção organizada para crescer e agregar valor ao produto nacional”, disse, acrescentando que o Brasil está fazendo a lição de casa na questão ambiental, empenhando-se na busca de certificações.
Resiliente, o setor mostrou sua força mesmo com a pandemia e diante da crise hídrica ao passar dos 260 milhões de toneladas de grãos. Apesar das dificuldades, o Ceará foi um dos Estados que respondeu com maior produtividade na fruticultura, nas hortaliças, na aquicultura e pesca.
Na pecuária, igualmente, entregou maior produção de carne e leite, graças ao gerenciamento das propriedades leiteiras e ao melhoramento genético do rebanho. Do mesmo modo, a avicultura teve destaque pelo aumento do consumo de frango e ovos, especialmente na pandemia em substituição à carne. Tudo sob o acompanhamento atento de parceiros, como Universidades e Embrapa.
Animado, o secretário Sílvio Ribeiro entende que o Ceará está preparado para ampliar as fronteiras nas transações externas com a abertura de novos mercados, notadamente a China, Vietnã e Oriente Médio.
Seu olhar também alcança o mercado europeu, especialmente a Espanha, Holanda e Portugal. Nestes países espera-se embarcar, inclusive, muito pescado, setor o qual o Ceará já ocupa o segundo lugar em volume de exportações. Pará está em primeiro lugar.
Máquinas agrícolas
Entre os grãos e o rebanho está o equipamento que ajuda no preparo da terra e na colheita. São os modernos tratores e colheitadeiras que, mesmo sem a disponibilidade de financiamento via recursos do programa Moderfrota – esgotados no final de 2020 –, seguem movimentando os negócios com pedidos em carteira já para 2022.
Capitalizado pela alta do preço das commodities, pela supersafra de grãos e pelo câmbio favorável, o setor conta com um mix de fontes de financiamento. Funciona, necessariamente, para dar suporte ao comprador como recursos próprios, consórcio e crédito direto.
É assim que o segmento pretende garantir que se realize a projeção da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) de um crescimento de 30% neste ano. E que se configure mais um recorde, uma meta que não parece nada distante. Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que os negócios envolvendo máquinas agrícolas já subiram 22,26% somente no primeiro trimestre.
A indústria de fertilizantes acompanhou a mesma batida com vendas de 12% maiores sobre 2019, alcançando 40 milhões de toneladas. A expectativa é de fechar esta safra com 44 milhões de toneladas. A questão aqui é que o Brasil ainda é muito dependente de importações. Apenas 15% do total consumido é produzido no país. Isto significa custo maior no bolso do produtor, em função do dólar.
Presença global nas exportações
Em 2020 as exportações do agronegócio brasileiro responderam por quase metade do total exportado pelo País, somando US$ 100,81 bilhões embarcados para 190 países, segundo maior valor da série histórica, depois dos US$ 101,17 bilhões registrados em 2018.
Para Bruno Lucchi, o grande desafio nacional no mercado externo é o da diversificação da pauta e a inclusão de bens de maior valor agregado. Justamente onde há ainda muitas barreiras, caso do café processado e o café virgem (verde).
É possível intensificar ações em mercados como a Ásia, pela sua numerosa população e renda média maior. Os EUA e Japão também funcionam como vitrines importantes para os produtos “made in Brasil” e o exigente mercado europeu.
Sinal positivo de uma performance positiva no mercado externo veio dos números de abril. Com recorde de negociações de soja e carnes bovina, suína e de frango, além de produtos florestais, houve um crescimento de quase 40% nas transações em abril de 2020, alcançando quase US$ 10 bilhões.
Deste total, a soja respondeu por US$ 7,2 bilhões, o que é 43,1% maior do que em abril de 2020. Os preços médios também subiram 22,3%, passando dos US$ 400 por tonelada. E o destino? A China.
Situação semelhante aconteceu com a carne também com recorde de vendas (US$ 1,57 bilhões), o que é 22,7% acima de igual mês do ano passado. E, de novo, a China está entre os maiores compradores, juntamente com EUA, Chile e Filipinas.
MAPA projeta próxima década
O Brasil estará produzindo 333 milhões de toneladas de grãos até 2031. É o que projeta o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em estudo elaborado pela Secretaria de Política Agrícola. Nesse estudo, eles calculam um aumento de 27%, a uma taxa anual de 2,4%, puxado especialmente pela soja, milho e algodão. Inovação é a palavra-chave presente nas atividades do campo, o que envolve muita tecnologia.
Pelo estudo, a produção de carnes (bovina, suína e aves) até 2031 deverá aumentar em 24%.
“Esses percentuais podem situar-se em níveis maiores, haja vista o aumento da procura por proteína animal”
José Garcia, coordenador-geral de Avaliação de Políticas e Informação do Ministério e um dos pesquisadores das projeções
A área plantada de grãos deve ser ampliada em mais de 17% na próxima década passando dos atuais 68,7 milhões de hectares para 80,8 milhões de hectares em 2030/31, agregando mais 12,1 milhões de hectares.
E a área plantada total, com todas as lavouras, incluindo cana de açúcar, café, cacau e frutas, deve passar de 80,8 milhões de hectares para 92,3 milhões.
O estudo do MAPA também sinaliza que as regiões Centro-Oeste e Norte terão os maiores aumentos relativos de produção e área. Entre os estados do Norte, Tocantins e Rondônia deverão liderar a expansão da produção. Mas o Mato Grosso continuará liderando a expansão da produção de milho e soja no país.
Os produtos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro deverão ser algodão, soja e milho, carnes suína, bovina e frango. Entre as frutas, destaque para a manga.