São 458 startups distribuídas em 115 cidades brasileiras, cujas soluções são aplicadas no setor de alimentação. São as chamadas foodtechs, que atuam em 23 categorias, sendo a maioria em novos alimentos e bebidas (10,9%), logística e entrega (8,9%), promoção do varejo (8,7%), marketplace de alimentos e delivery (7.86%), tecnologias para produção (7.42%), gestão do varejo (5.68%) e alimentação em casa e no trabalho (5.24%).
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
Os dados são do Startup Scanner, ferramenta da Liga Ventures em parceira com a PwC Brasil, cujo objetivo é rastrear, acompanhar e mapear startups de vários segmentos de forma gratuita e atualizada.
De acordo com a publicação, a maior parte das foodtechs está em São Paulo (51,92%), Paraná (10,48%), Minas Gerais (8,08%), Santa Catarina (7,86%), Rio de Janeiro (6,99%) e Rio Grande do Sul (5,90%). Porém, em menor escala, Goiás (1.75%), Bahia (1.31%), Espírito Santo (1.31%) e Ceará (0.87%) começam a despontar, completando o ranking dos 10 principais estados de origem das startups com foco em alimentação.
“O segmento de foodtechs brasileiras é muito importante para um país como o Brasil, por serem empresas que atuam na redução do desperdício em processos ao longo da cadeia de produção alimentícia, por ofertarem tecnologia que otimiza a operação logística e/ou oferecem melhorias na venda e interação com o consumidor”
Mário Alves, do Rapadura Valley, maior comunidade cearense de startups, e consultor da indigital.lab, consultoria em transformação digital
Considerando o ano de fundação, o mapeamento do Startup Scanner revela ainda que, entre os anos de 2014 e 2018, as foodtechs brasileiras experimentaram um boom no país, com taxa de abertura superior a dois dígitos, como em 2017, quando chegou a 14,41%.
Na avaliação de Strauss Nasar, sócio e mentor da Cordel Ventures, investidora cearense de startups, a ascensão das foodtechs brasileiras no período está associado a novos hábitos de consumo do brasileiro e ao surgimento de novas tecnologia.
“Movimento que, nos dias atuais, também tende a se acelerar por conta das medidas de restrições e lockdowns da pandemia, assim como do avanço do modelo de consumo fora do restaurante e de novos hábitos inseridos na sociedade”
Strauss Nasar, sócio e mentor da Cordel Ventures
Conforme disse, “os estabelecimentos e produtores estão mais próximos e mais atentos ao que os clientes esperam e preocupam-se com a jornada do consumidor e sua fidelização”.
O Ceará e o segmento de foodtechs
Para Nasar, apesar de apresentar-se entre os dez principais centros com foodtechs no Brasil, o Ceará ainda não tem a sua representatividade da forma esperada. Vale pontuar que alguns players significativos não são citados.
“Dentre eles, alguns de iniciativa individual e outros coletivos, como é o caso do app do Sindirest. No mais, além de soluções em marketplace, temos outras diversas possibilidades de expansão e desenvolvimento com vários segmentos de atuação dentro do mercado de alimentação”, defende.
De fato, analisa Camila Forte, líder o Habitat de Inovação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Ceará (Senai-CE), a atuação das foodtechs no Estado pode avançar muito mais.
“Isso acontece visto que o estado tem grandes indústrias do ramo alimentício, universidades, institutos de ciência e tecnologia e a Embrapa que fomentam a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias. Ao passo que o Estado também possui, hoje, uma comunidade muito forte de startups”
Camila Forte, líder o Habitat de Inovação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Ceará (Senai-CE)
Além disso, emenda, as foodtechs brasileiras têm um papel importantíssimo para o mercado cearense, principalmente porque elas trazem soluções para o setor de alimentos, chave para a nossa economia.
“As indústrias alimentícias, as novas tecnologias voltadas para os alimentos e o surgimento de mais produtos só aumentam a necessidade de mais foodtechs no Ceará. E isto é possível ver pela variação do consumo humano que exige cada vez mais das indústrias de alimentos o acompanhamento dos novos perfis de consumo”, afirma.
Nesse sentido, aponta a especialista, a tendência é de que marketplace de alimentos e delivery, por exemplo, vão continuar crescendo, mas devam passar por algumas transformações.
“A ideia é que essas empresas continuem se transformando para atender cada vez mais os consumidores no pós-pandemia. Elas podem vir a entregar outras formas de valor para que o comportamento de consumo continue se transformando”, projeta.
Atualmente, destaca Mário Alves, do Rapadura Valley, já existem, no Ceará, diversas foodtechs brasileiras focadas em logística e tecnologia, como a Mercadapp, a Supermenu e a Inhouse Market.
“Também podemos destacar a Muda Meu Mundo, pela sua atuação na logística combinada com implementação de metodologias modernas em conjunto com pequenos produtores rurais”
Mário Alves, do Rapadura Valley
Contudo, reforça, ainda temos muito espaço para novas soluções. “E o Interior do Estado pode se configurar como um grande campo de teste para foodtechs brasileiras entrantes dispostas a implementar tecnologia na cultura alimentícia nordestina”, conclui.
Do campo para a mesa
Entre as 23 categorias de foodtechs brasileiras mapeadas pelo Startup Scanner, 18 trazem soluções aplicadas ao conceito farm-to-table (do campo para a mesa, na tradução livre para o português), ou seja, que conectam a produção diretamente ao consumidor final; e 14 trazem soluções focadas na cadeia agrícola e pecuária, que possuem direta relação com a produção de alimentos. No Ceará, um exemplo que mescla as duas aplicações é a Muda Meu Mundo.
Segundo Laís Xavier, diretora técnica (CTO) da empresa, a Muda Meu Mundo nasceu de uma inquietação da fundadora Priscilla Veras ao observar em diversas partes do mundo uma pobreza no campo, imigrações para cidade e uma necessidade patente de comida fresca e de procedência.
“Nessa época, a Priscilla tinha um bebê que teve intolerância ao leite e precisou se alimentar da melhor comida possível”
Laís Xavier, diretora técnica (CTO) da Muda Meu Mundo
Nesse sentido, o negócio ganhou e vida e se perpetuou, conforme disse, com o propósito de conectar pequenos produtores e produtores familiares com o varejo utilizando dados de impacto ESG – práticas nos aspectos ambiental (E), social (S) e governança (G) -, para uma gestão da cadeia de suprimentos.
“O pequeno produtor participa da nossa rede, recebe qualificação, acompanhamento técnico e é certificado para comercializar com varejistas. Os varejistas, por sua vez, conseguem comercializar com o pequeno produtor através de uma cadeia de suprimentos sustentável, potencializando suas margens e fornecendo para o cliente final um preço justo pelo alimento”, explica Laís.
Atualmente, conta, são atendidas 18 grandes e médias redes varejistas no Ceará e, agora, a Munda Meu Mundo acaba de desembarcar em São Paulo em quatro lojas no St. Marche e uma do Empório Santa Maria. “A expectativa é de que, até abril de 2022, estejamos em 100 lojas em São Paulo e até 2024 estaremos em mais 13 estados”, adianta.
“O mercado está cada vez mais preocupado com alimentos menos processados, mais frescos e sem químicos. O cultivo, produção, escoamento, distribuição desses alimentos em larga escala não é tarefa simples e a tecnologia pode ser, de fato, uma grande catalisadora para que, através das foodtechs, seja possível alimentar as cidades sem perder qualidade alimentar”, avalia.
Mercado inteligente
Outro exemplo de foodtech cearense bem-sucedida é a Inhouse Market. Em maio de 2020, seus idealizadores criaram mais um canal de vendas para o varejo ao levar minimercados digitais, autônomos e 24h para dentro dos condomínios residenciais, com experiência de compra imbatível de um minuto e na segurança do lar.
“Tudo surgiu com uma dor mal resolvida como cliente, ou seja, ter acesso aos principais produtos de mercado diários de forma rápida e acessível, sem enfrentar filas, trânsito, demora para escolher os produtos, espera, altas taxas e erros do segmento de delivery”
Leonardo Deana, um dos fundadores e CEO da startup.
Conforme disse, necessidade que foi ao encontro da tendência dos chamados “Honest Markets”, comuns fora do Brasil e que aqui ainda eram uma oportunidade em condomínios residenciais. “Havia um espaço grande, pois existia o segmento já consolidado em empresas e torres comerciais, mas faltava esta lacuna com potencial enorme nos condomínios”, justifica.
Na prática, explica, para consumidor final, o mercado inteligente funciona dentro do condomínio, operando com autoatendimento onde o morador escolhe os produtos, faz escaneamento do código de barras no leitor do totem ou pelo aplicativo de celular e paga com o cartão no seu condomínio – tudo sem atendentes no local.
O cadastro no aplicativo de celular, destaca Deana, é integrado com todas as unidades da InHouse Market no Brasil e, para cada compra, o morador recebe o cupom fiscal em seu e-mail e na tela do seu dispositivo.
“E para as geladeiras de bebidas alcoólicas, desenvolvemos uma solução própria de travas inteligentes, onde somente pessoas cadastradas e maiores de 18 anos possuem senha pessoal para liberar a geladeira”, expõe.
Além disso, segundo ele, o portfólio da InHouse é personalizado com os mais diferentes itens, desde limpeza, higiene pessoal, até produtos de mercearia, refeições congeladas, sorvetes e bebidas, os quais são definidos através de pesquisa de consumo com os moradores.
Ao mesmo tempo, é importante ficar claro, pontua o empreendedor, que para o condomínio, não há implicações fiscais ou burocráticas. “É tudo operado pela InHouse. O contrato que é feito com os condomínios é simples e a empresa se responsabiliza por toda a operação, incluindo eventuais produtos furtados – o que é bem raro de acontecer, afinal o ambiente é monitorado por câmeras com áudio bidirecional, controle de estoque automático e estamos todos em casa”, afirma.
Já no segmento B2B, complementa, a InHouse licencia sua tecnologia para que terceiros possam criar minimercados digitais pelo país ou outras lojas digitais sem serem atrelados a marca da InHouse Market. “Por exemplo, alguém que gostaria de vender serviços de manicure em seu prédio ou até mesmo anunciar sua garagem através da plataforma SaaS da InHouse”, explica.
No momento, afirma Deana, com apenas um ano de operação, a empresa é líder do segmento de mercados inteligentes no Nordeste. “A Inhouse conta com mais de 120 unidades em condomínios no Brasil atuando em mais de dez cidades e servindo mais de 50 mil clientes, incluindo Fortaleza, Salvador e São Paulo”, diz.
A expectativa, agora, é chegar a mais de 250 minimercados digitais instalados ainda este ano em todo o país.