Logo, a importância dos ODS é tentar atingir globalmente, por todas as pessoas, o que foi proposto na agenda até 2030. E apesar de não serem uma obrigação legal, eles são um compromisso assumido por cada país-membro da ONU, garantindo que a humanidade continue se desenvolvendo por um caminho mais sustentável e resiliente. (Foto: Freepik)

O impacto das ODS no futuro do Brasil e do mundo

Por: Sara Café | Em:
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Lançada em 2015, durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) têm orientado suas decisões seguindo uma nova agenda, denominada de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 


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Considerado uma das mais ambiciosas da história da diplomacia internacional, os ODS “trata-se de uma agenda global da ONU pactuada com 193 países para atuar em metas para erradicação da fome e pobreza, e vários outras em diversas áreas, tais como: educação, igualdade de gênero, mudanças climáticas, ética nas organizações, saúde etc. A Agenda 2030 é composta por 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e 169 metas”, segundo Maiso Dias, sócio diretor da Dialogus Consultoria

Logo, a importância dos ODS é tentar atingir globalmente, por todas as pessoas, o que foi proposto na agenda até 2030. E apesar de não serem uma obrigação legal, eles são um compromisso assumido por cada país-membro da ONU, garantindo que a humanidade continue se desenvolvendo por um caminho mais sustentável e resiliente.

Cada país tem a responsabilidade de implementar essas ações, fornecendo meios para que os objetivos sejam alcançados, e também de acompanhar o progresso de cada um deles em seu território.

ODS como impulsionadores de negócios

As empresas possuem grande potencial de transformação da sociedade. De acordo com o último levantamento do Pacto Global, “dos 200 maiores PIBs do mundo, 157 são empresas. A receita das 10 maiores empresas equivale aos 180 menores PIBs.” 

O mundo está cada vez mais interconectado e mais ciente da interdependência com o planeta. Assim, existe um movimento crescente de empresas que alinham seus propósitos aos anseios da sociedade, com atuação focada na regeneração da natureza, internalização dos direitos humanos e ativismo empresarial essencial para o desenvolvimento econômico dos negócios. 

“As ODS precisam estar no foco do negócio porque esta agenda deve ser considerada e compreendida como uma agenda de Estado e não de governo, sendo, assim, sua orientação na transversalidade em instituições públicas e privadas e em organizações do Terceiro Setor, cumprindo ainda a imperatividade de ser uma agenda “integrada” e indivisível”, ou seja, que atue com a sustentabilidade e que seja desdobrada em outras áreas quando aplicada em um objetivo de desenvolvimento sustentável.” 

Maiso Dias, sócio diretor da Dialogus Consultoria

Em 2020, quando a ONU completou 75 anos, o Pacto Global convidou mais de 1300 CEOs espalhados por cerca de 100 países para participarem ativamente desta transição, assinando uma carta compromisso, ao secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçando a necessidade de mobilização e cooperação global para lidar com os desafios do nosso tempo.

No Brasil, várias empresas já são signatárias do Pacto Global. Essa iniciativa fornece diretrizes para a promoção do crescimento sustentável por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras, assumindo o compromisso de alinhar a sua estratégia de desenvolvimento aos ODS mais relevantes para as atividades da instituição e a capacidade de impactar a sociedade pelo poder de influenciar seus públicos, contribuindo para mudanças de comportamentos. 

Para que as empresas possam inserir os ODS na sua cadeia produtiva, é preciso “inicialmente a alta administração entender o porquê da agenda e sua importância na aplicabilidade, saber e conhecer as áreas prioritárias da organização para poder, em seguida, atuar em uma priorização dos ODS. Na prática, também é importante identificar quais impactos positivos nas áreas (social, ambiental e governança) que serão contemplados. E por fim, é importante também que os ODS sejam inseridos na estratégia da organização, seja pelo planejamento estratégico ou ações estratégicas desdobradas ao longo do ano”, completa Maiso. 

Sustentabilidade 4.0

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) apresentou, na última segunda-feira, 9, o mais abrangente e conclusivo relatório sobre a crise climática. O estudo mostrou que as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e levaram a um aumento de 1,07º na temperatura do planeta. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o relatório como “um código vermelho para a humanidade”, observando que “o aquecimento global está afetando todas as regiões da Terra, com muitas mudanças se tornando irreversíveis”.

A pandemia de Covid-19 também mostrou que os avanços na luta contra a pobreza e a fome, a busca pela saúde e pelo bem-estar, estão longe de ser alcançados, sendo um alerta bastante preocupante, caso a comunidade global não enfrente as ameaças ambientais que comprometem os sistemas. 

Diante das crises climática e sanitária, os ODS vão servir como um verdadeiro norte para fortalecer a importância da sustentabilidade. Por isso, nesse contexto, surge o conceito de Sustentabilidade 4.0: “é uma proposta de mudança de mentalidade, é o reconhecimento de que nós chegamos, devido ao nosso modelo civilizatório, e que nos trouxe a um determinado ponto insustentável o qual precisamos mudar”, é o que relata Magda Maia, Geógrafa e Mestra em Geografia, Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente, autora do livro Sustentabilidade 4.0

O novo compromisso das empresas, instituições, governos e pessoas será tornar seus negócios e comunidades mais comprometidos, responsáveis, éticos, transparentes, sustentáveis, inclusivos e humanizados. 

Para que essa mudança de mentalidade não fique na abstração, Magda propõe “que isso ocorra em pelo menos quatro níveis, que seria os 4 R’s da Sustentabilidade 4.0: o primeiro seria a reconexão pessoal, que caberia a todos os habitantes do planeta a busca pela reconexão com a natureza e a naturalidade do bem viver. O segundo R, seria a remodelagem empresarial, o qual não se busque o lucro a qualquer preço, mas, sim, o lucro com benefícios sociais e ambientais. O terceiro R seria a representatividade institucional, ou seja, as instituições públicas precisam representar os interesses da sociedade e não de grupos específicos. E por último, o quarto R é a renovação legal, o qual precisamos nos basear em países, como o Equador, que tem o reconhecimento dos direitos da natureza em nível constitucional.”

Assim, a Sustentabilidade 4.0 busca uma mudança e uma virada de mindset. “E por conta dessa mudança de mentalidade, somente assim, nós trabalharíamos efetivamente os objetivos do desenvolvimento sustentável. Os ODS ainda não têm efetividade no Brasil, porque até agora não foi criado um modelo de governança. Assim, quando você entende a importância dos 4 R’s, que temos que ter pessoas reconectadas, empresas remodeladas, instituições com boa representatividade e legislação renovada, a tendência é que os ODS sejam realmente aplicados, valorizados e suas metas sejam atingidas.” completa. 

Terceiro Setor

Quem atua no Terceiro Setor sabe o porquê da existência de tantas organizações não governamentais no mundo. Afinal, ele existe para preencher lacunas deixadas pelo Poder Público, atuando em uma diversidade de questões que afetam a sociedade na área da assistência social, da saúde, do meio ambiente, da cultura, educação, lazer, esporte etc. E quando alinhado aos ODS, os projetos desenvolvidos pelo Terceiro Setor tornam-se fortes aliados no alcance dos 17 objetivos e das 169 metas da Agenda 2030. 

A pesquisa Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), realizada pela ONG Comunitas, desde 2008, traça o desenvolvimento dos investimentos sociais feitos por grandes instituições. Em 2020, foram 254 empresas e 17 institutos e fundações empresariais.

Um dos dados principais que a pesquisa revela é o número total do investimento social no Brasil. De acordo com a publicação, mesmo em um período no qual a conjuntura econômica foi pouco favorável, o volume de recursos aplicados se manteve no patamar de R$ 2,1 bilhões. Toda essa movimentação de interesse do segundo e do terceiro setor com relação aos ODS é justamente o impacto que essas iniciativas podem gerar no planeta. Segundo o relatório, 57% das organizações consideram esse impacto positivo.

O ODS comunica uma visão mais estruturante, dialoga com as políticas públicas para o futuro e constrói uma capacidade das empresas e das organizações de enfrentar os problemas da sociedade. 

Uma dessas empresas é o Instituto Verdeluz, que tem a missão de promover a reconexão com a natureza por meio do engajamento jovem e da educação ambiental. Lucas Saraiva, integrante da diretoria do Instituto Verdeluz, ressalta a importância das organizações para a mobilização de pautas na Agenda 2030:

“Quanto ao terceiro setor, em especial, as organizações da sociedade civil (OSCs), é necessário salientar que, para além da sua capacidade de mobilizar as pessoas e influir na agenda e nas pautas estabelecidas pelo Estado, tem uma grande contribuição no processo de cumprimento das metas dos ODS. Por exemplo, por meio das OSCs, é possível apontar temas e localidades que estão longe de atingir as metas estipuladas pela Agenda 2030. Isto é, a territorialização dos ODS.”

Lucas Saraiva, integrante da diretoria do Instituto Verdeluz

O Brasil foi um dos Estados que adotou a Agenda 2030, comprometendo-se em efetivar os seus objetivos e as suas metas, possibilitando a participação de outros atores e níveis de governo. Por isso, o Instituto Verdeluz ganha destaque na execução dos seus projetos, levando-se em conta que as suas atividades implementam os ODS 13, 14 e 15 dentro do território de Fortaleza, contribuindo de forma municipal para as mudanças globais.

“Nesse intento, destacam-se os projetos GRU, GTAR, PIPA e Ativismo, envolvendo temas como estudo e ação dos resíduos sólidos urbanos, consumo consciente, limpezas de praia, educação ambiental, proteção das tartarugas marinhas, participação em políticas públicas, participação em conselhos gestores, denunciando ataques ambientais, entre outros. O Instituto tenta, por meio de diversas frentes, reconectar a sociedade com a natureza e, nesse processo, os ODS são contemplados.” finaliza Lucas. 

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