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Crescimento econômico: as bases e os desafios para o Brasil avançar

A diversificação da economia, o bom nível de recuperação cíclica da atividade econômica, a melhora no resultado fiscal e os reflexos das reformas realizadas nos últimos cinco anos apontam para um cenário de crescimento para o Brasil.


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É o que afirma o economista chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Porém, ressalva, o país ainda enfrenta desafios para deslanchar. Na sua avaliação, embora os indicadores venham apresentando melhora, por outro lado, o risco do país não está caindo.

Conforme disse, “a falta de clareza do governo federal no compromisso com as regras que já existem passa insegurança para o investidor”. E este é um dos principais embates para se ter mais confiança em um horizonte promissor para os anos que virão.

“Se melhorarmos o diálogo político, independentemente da ideologia, tivermos um debate aberto e, quem quer seja o próximo presidente eleito, tivermos o compromisso de fazer as reformas que o país precisa, respeitando as propostas diferentes de cada partido, temos tudo para dar certo”, afirma.

“Na verdade, a polarização política está tão grande, que não estamos conseguindo passar para o investidor que vamos continuar com a agenda reformista. Existe muito ruído político e quem está lá fora assusta-se com isso. O Brasil tem boas oportunidades de investimento. Mas precisa avançar na segurança passada para o mercado, a fim de tornar a recuperação cíclica da sua economia algo sustentável”, complementou.

Estas e outras colocações são fruto da palestra “Cenário Macroeconômico: Recuperação e Desafios do Crescimento do Brasil”, que marcou o lançamento do Trends Experience, braço de relacionamento, negócios e experiências da Trends CE, que teve seu primeiro evento realizado no dia 13 deste mês no restaurante Coco Bambu Iguatemi, em Fortaleza. A iniciativa foi uma correalização da VERK Investimentos e teve apoio do BTG Pactual.

Diversificação da economia

Almeida iniciou a sua explanação destacando o estágio atual de diversificação da economia brasileira, que não deixa mais o Brasil dependente de um único setor, diferentemente do que acontece em países emergentes como a Rússia e o Chile. “Na Rússia, 80% da economia está ligada ao setor de petróleo e gás. No Chile, são 85% provenientes da extração de cobre. E este não é o caso do Brasil. Não dependemos mais de um único setor”, expôs.

Nesse sentido, o economista destacou o desempenho da produção agrícola brasileira, que, segundo dados recentes do Ministério da Agricultura, até o fim dessa década, deverá crescer em torno de 27%. Ao mesmo tempo, lembrou os investimentos feitos pela Petrobras, nos últimos dez anos, na área do Pré-sal, os quais começarão a dar resultado em 2024, gerando um ciclo de maior extração de petróleo e o consequente crescimento das exportações que deve prosseguir até 2033.

“A nossa economia tem muitos problemas, mas diante da nossa diversificação, aos poucos, temos conseguido solucionar parte deles”, afirmou.

Cenário macroeconômico

O patamar dos juros básicos da economia, a Selic, hoje na casa de um dígito, disse o economista, é outro aspecto que merece destaque na análise da atual conjuntura econômica do país.

“Hoje, a grande discussão entre os economistas é se a taxa de juros no final de 2021, embora a inflação esteja subindo muito e o Banco Central tenha que fazer intervenções mais rápidas, será de 7% ou de 8%. Há cinco anos, estávamos em um país onde a taxa de juros era 14,25%”, apontou.

Para ele, no passado, o que mais impactava a economia brasileira e atrapalhava o crescimento o país eram problemas externos. “Nos anos 1980 e 1990, o Brasil era muito endividado. Possuía uma dívida externa grande e não tinha dinheiro para pagar. Em 1999, por exemplo, a dívida externa do setor público era de US$ 100 bilhões e nossas reservas cambiais de apenas US$ 7 bilhões. Agora, nossa dívida externa continua a mesma de 30 anos atrás e nossas reservas são superiores a US$ 380 bilhões. Então isso deixou de ser um problema”, relatou.

Diferentemente, disse, da crise que o país enfrentou entre os anos de 2015 e 2016, que foi provocada exclusivamente por questões internas. “O Brasil vinha muito bem. Porém, tentou-se fazer coisas que tiveram um custo muito grande, o que levou a desperdício de dinheiro público. Contudo, de lá para cá, alguns desses erros vêm sendo corrigidos, melhorando a competitividade da economia brasileira”, explicou.

Contexto que se configura, afirma o economista, como fruto das reformas realizadas desde então e que tiveram reflexos positivos na economia. “Apesar da pandemia do Coronavírus, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2020 foi de 4% e não entre 7,5% e 9% como se previa”, lembrou.

Para ele, essa retração no indicador esteve mais atrelada ao consumo do que a investimentos. “Em 2020, a queda do PIB ligada a investimentos foi de apenas 0,8%. Além disso, no primeiro trimestre de 2021 já houve recuperação, puxada por um aumento muito forte na aquisição de bens e capitais para o setor agrícola”.

Em paralelo, disse, em meio à pandemia, outros setores também deram resultados positivos, como a construção civil. “Por conta do ciclo de juros baixos, no ano que passou, os investimentos na construção civil também cresceram. E devem continuar se expandindo em 2021. Neste ano, mesmo com a segunda onda da Covid, este setor não parou. Soube continuar trabalhando mesmo diante de todos os protocolos e restrições”, ressaltou.

Com relação ao mercado de trabalho, Almeida lembrou que na segunda metade de 2020 iniciou-se uma reação, com a geração de emprego formal aumentando, embora a taxa de desemprego ainda permaneça alta.

“Então, o que podemos dizer é que, hoje, diante de tudo isso, é que a expectativa de crescimento do PIB é de 5,5% ao fim deste ano. Ou seja, um cenário bem melhor do que há cinco anos”, ponderou.

Cenário externo

Analisando o cenário internacional e as implicações sobre a economia brasileira, Almeida deu o exemplo da previsão de crescimento das economias dos Estados Unidos e da China, principais parceiros comerciais do Brasil.

“O desempenho das economia desses dois países elevou o preço das commodities. Nesse sentido, vale lembrar que quase 80% da pauta de exportação brasileira está ligada a elas. Então, quando se tem esse aumento tão forte, o Brasil se beneficia. E é exatamente o que está acontecendo”

Mansueto Almeida, economista chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional

De acordo com ele, o reflexo se dá na melhora da situação do balanço de pagamentos do país. “Vamos ter a melhor situação no indicador desde 2007”, disse. “Quando olhamos as nossas trocas com o resto do mundo, sem considerar a aplicação de capital financeiro, ou seja, exportação menos importação, o que pagamos de serviços de dívida e remessa de dividendos, vamos ter um saldo de conta corrente esse ano muito próximo de zero ou na casa dos US$ 2 bilhões. A última vez que o país teve superavit de conta corrente com o exterior foi em 2007”, recordou.

A questão fiscal

No entanto, emenda o economista chefe do BTG Pactual, a questão fiscal ainda se coloca como um grande problema para o governo federal, com um déficit que vem se acumulando ao longo dos anos, embora a melhora nos indicadores macroeconômicos no primeiro semestre de 2021 tenha aliviado as expectativas para o ano em curso.

“Começamos 2021 esperando um déficit fiscal de quase R$ 300 bilhões. Entretanto, o que aconteceu nos últimos seis meses, com o aumento do crescimento do PIB esperado para o ano e o boom no preço das commodities, a recuperação da arrecadação do governo federal está sendo além e mais rápida do se esperava”, pontuou.

“Nesse sentido, vimos que no fim de maio, foi anunciado que a arrecadação, em 2021, deverá crescer R$ 100 bilhões acima do esperado. Ou seja, do que foi aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) para o ano. Já no fim de julho, o governo anunciou nova revisão e disse que a arrecadação deverá crescer ainda mais, com mais R$ 70 bilhões acima do projetado”, justificou.

Conforme disse, são projeções que revelam uma recuperação da arrecadação em ritmo mais forte, capaz de fazer face a quase toda a arrecadação perdida em 2020, quando o país teve despesas extras, fora do teto dos gastos, a fim de enfrentar a pandemia. “De modo que, para 2021, o déficit fiscal deverá ser de R$ 128 bilhões e não mais de R$ 300 bilhões como o apontado no início do ano”, afirmou.

Na sua avaliação, o que preocupa, agora, é a inflação esperada para este ano, cujas projeções aumentaram para algo em torno de 7,5% e 8%, assim como o constantes aumentos no preço da energia. “Isto impacta diminuindo o espaço para um eventual aumento das despesas governamentais. Nesse sentido, há incerteza no mercado quanto a uma possível quebra do teto dos gastos públicos. Por isso, é preciso mais clareza e compromisso do governo federal com as regras existentes. E qualquer presidente que for eleito no ano que vem deverá mostrar responsabilidade fiscal, colocar o que é prioritário e, assim, o país poderá avançar”, concluiu.

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