A indústria e especialmente o setor da construção civil, grandes consumidores de aço no país, têm sido impactados por sucessivos aumentos do preço do material há mais de um ano. Segundo dados da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), o reajuste no preço do insumo no Brasil, de janeiro a dezembro do ano passado, foi de 108% nos distribuidores e de 85% para quem compra direto da usina produtora.
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A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) constatou que os preços do aço praticados nos mercados internos dos países são os mais elevados desde o ano 2000. “O produto aumentou 130% em um ano. Tudo isso é repassado para as construtoras e para o público em geral”, afirma Sergio Macedo, presidente da Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon-CE) e diretor do Sinduscon-CE.
De acordo com o Instituto Aço Brasil, entidade representativa das empresas brasileiras produtoras de aço, a volatilidade nos preços do mercado do aço foi provocada pelo “boom” nos preços das commodities em âmbito mundial.
Segundo a instituição, quase todos os insumos e matérias primas do setor tiveram elevação de preços, causando forte impacto nos custos de produção da indústria do aço, especialmente o minério de ferro e a sucata, matérias primas estratégicas, que tiveram seus preços aumentados de janeiro de 2020 a junho de 2021 em 172,7% e 157,7%, respectivamente.
Segundo Macedo, além do aumento de insumos e matérias primas, o aumento do dólar e do frete marítimo também causaram forte impacto nos custos de produção da indústria do aço em âmbito mundial.
Sampaio Filho, diretor de tecnologia e inovação da FIEC e líder do Observatório da Indústria, afirma que esse cenário pode ser explicado não só pela retomada dos setores consumidores, mas também pela recomposição e formação de estoques defensivos de alguns segmentos, que procuraram se proteger do cenário de volatilidade do mercado provocada pelo “boom” das commodities.
“Este ano, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) aplicou reajustes nos preços do aço de até 15%, em duas etapas, sendo um aumento de 7,5% em junho e outro de 7,5% em julho em um cenário em que os preços nacionais da liga estão 6% a 7% abaixo dos valores internacionais”
Sampaio Filho, diretor de tecnologia e inovação da FIEC e líder do Observatório da Indústria
Impactos no consumidor
Em relação aos efeitos gerados no consumo pelo aumento do aço, Sampaio Filho afirma que, em um primeiro momento, as empresas absorveram a maior parte dele, reduzindo margens de lucro que já vinham pressionadas por causa da crise da Covid-19. “Porém, com o crescimento da demanda, esse aumento de custos foi repassado ao consumidor, pressionando a inflação”, diz.
“Não apenas o aço, mas vários insumos que fazem parte da cadeia da construção civil tiveram aumento, como o cimento, PVC e ferro. Pesquisas de porta de fábrica mostram que produtos relacionados ao setor aumentaram 39%. Teremos que repassar esse custo porque senão as construtoras irão quebrar”, afirma Macedo.
Para o diretor da Fiec, o mercado doméstico brasileiro de aço enfrentou intensas negociações, mas os últimos níveis de preços podem representar o pico, já que os compradores estariam se tornando resistentes a novos aumentos. “Os distribuidores dizem que a queda nas compras no mercado é uma forma de pressionar as usinas a repensar os ajustes recentes”.
Macedo, acredita que o preço deve estabilizar, mas que isso é uma questão de mercado. “As Coopercons pelo Brasil e a Coopercon Brasil estão muito focadas na importação de aço. Essa talvez seja uma das maneiras que pode ajudar na estabilização dos preços.”
Segundo ele, desde novembro do ano passado, a Coopercon Brasil está em conversação com uma empresa siderúrgica para importar aço da Turquia com preço 10% mais barato. “Pretendemos trazer em breve esse aço de fora, mas um grande obstáculo hoje para isso são as taxas e impostos cobrados em cima dele para importar um produto que já está caro no país”.
Ele diz que está na pauta da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) discutir com o governo federal uma possível redução da alíquota de importação do insumo.
“Sem dúvida que a redução temporária do imposto de importação do aço provocaria um choque de oferta por meio de estímulos à entrada do produto importado no mercado nacional, ampliando a oferta e reduzindo preços e prazos de entrega”, acredita Sampaio Filho.
Em nota enviada a TrendsCE, a Aço Brasil, por sua vez, defende que não existe qualquer excepcionalidade no mercado que justifique uma decisão, tida pela entidade como “extrema”, de reduzir as alíquotas de importação de produtos siderúrgicos, especialmente em um momento em que o mercado internacional se encontra com excesso de capacidade de mais de 500 milhões de toneladas de aço.
De acordo com a instituição, o mercado brasileiro do insumo estaria plenamente abastecido e as importações estariam sendo realizadas normalmente, refletindo as condições de livre mercado. Segundo o Instituto, no primeiro semestre de 2021 foram importados mais de 1,9 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos laminados.
Para a entidade, os países que mais exportam buscam oportunidades de escoamento de seus produtos onde não há uma política restritiva, como é o caso da América Latina, o que fragilizaria a região no cenário internacional com práticas predatórias fruto do excesso de capacidade mundial de aço.
Números do setor
De acordo com dados da Aço Brasil, a produção brasileira de aço bruto aumentou 24% no primeiro semestre de 2021 em comparação com os seis primeiros meses de 2020, enquanto as vendas internas cresceram 43,9% e o consumo aparente subiu 48,9% no mesmo período. Já as exportações diminuíram 13,7% e as importações aumentaram 140,6%.
Os números positivos desse primeiro semestre e a perspectiva de que a demanda permanecerá aquecida ao longo do segundo levaram o Instituto a rever suas projeções para 2021. Agora, há expectativa de que neste ano a produção de aço bruto cresça 14% (frente estimativa anterior de +11,3%), as vendas internas avancem 18,5% (contra projeção anterior de +12,9%) e o consumo aparente aumente 24,1% (diante de estimativa anterior de +15,0%).
Em 2020, por concentrar a maior parte do parque industrial do país e por existir maior demanda por construções e infraestrutura, a região Sudeste foi a principal consumidora de produtos siderúrgicos (56,2% do total consumido no Brasil), com São Paulo como o maior consumidor estadual (30,6%) do país.
Nesse período, a região Sul foi responsável por 22,9% do total de produtos siderúrgicos consumido no Brasil; o Nordeste consumiu 12,5%; e as regiões Norte e Centro-Oeste consumiram 3,6% e 4,8%, respectivamente.