Começou no domingo, 31 de outubro, em Glasgow, na Escócia, a Conferência sobre Mudança Climática (COP 26), encontro anual promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que reúne 197 países para discutir as mudanças climáticas.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
Participam da reunião líderes mundiais, empresários, negociadores, ativistas e jornalistas, que discutem os novos compromissos para combater o aquecimento global e para proteger o planeta, sobretudo depois que o Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC) divulgou relatório, em agosto, mostrando como o planeta está esquentando mais rápido do que o previsto em função da ação humana.
Até o dia 12 de novembro, esses líderes pensarão em ações conjuntas e emergenciais com um único objetivo: manter o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis da era pré-industrial. Isso significa que se as emissões de gás carbônico (CO₂) não forem reduzidas rapidamente e em larga escala, os resultados serão catastróficos para o planeta e, consequentemente, a para a humanidade. As expectativas são altas e é preciso correr contra o tempo na busca de soluções práticas e efetivas.
Beatriz Azevedo, Mestranda em Políticas Públicas na Universidade de Oxford e voluntária do Instituto Verdeluz, relata a experiência de participar da conferência da ONU que deve definir o futuro do clima global: “Passei anos da minha vida acompanhando as conferências de clima da ONU. Até que cansei de tantas palavras vazias e falta de atitude prática que realmente resolvesse o problema que está afetando também a vida das pessoas. Talvez eu seja a única representante da sociedade civil cearense, quando tantas outras pessoas deveriam poder participar de um evento que, teoricamente, vai decidir o futuro do planeta.”
A expectativa é que sejam apresentados os planos de redução de emissões de CO₂ por cada país e que sejam definidas medidas em relação a disseminação mais rápida do uso dos carros elétricos e de painéis solares; eliminação mais ágil da energia a carvão; e redução do desflorestamento.
O que está em pauta?
Para o Vereador de Fortaleza, Biólogo e Mestre em Ecologia, Gabriel Aguiar, esse encontro emergencial se dá por consequência do grave cenário de aquecimento global que estamos vivendo. “Os índices de emissões de gases de efeito estufa seguem subindo a cada ano, principalmente devido às termelétricas, queimadas e desmatamentos, e isso tem elevado rapidamente a temperatura da nossa atmosfera. Já subimos 1,1ºC desde a revolução industrial e, se chegarmos a 1,5ºC, entraremos em uma situação crítica”, relata.
Espera-se também que os países pobres, que são os primeiros a serem impactados pelas mudanças resultantes do aquecimento global, provocado majoritariamente pelos países ricos, peçam subsídios para compensar e financiar as adaptações necessárias às mudanças climáticas e para tornar suas economias mais verdes.
Além disso, vão ser objetos de debate ações que visem proteger grupos mais vulneráveis, como territórios indígenas e comunidades tradicionais, e a garantia de financiamento para que consigam enfrentar os efeitos implacáveis da crise climática; proteção de recursos naturais; transição para o uso de energias renováveis; substituição dos combustíveis fósseis no transporte e aumento da eletrificação dos veículos e definição de financiamento para impulsionar as mudanças.
“Fortaleza, o Ceará e todo o Brasil tem tudo que é necessário para ser exemplo para o mundo no combate às mudanças climáticas, mas isso tem se tornado uma realidade mais distante a cada ano. Estamos aqui para fazer o caminho oposto: colocar pela primeira vez a nossa gente alinhada com a demanda do século. Se conseguirmos, o que virá depois certamente será mais vivo, bonito, promissor e harmônico com toda a nossa natureza e ecologia”
Gabriel Aguiar, Vereador de Fortaleza, Biólogo e Mestre em Ecologia
Justiça Climática em Glasgow
Em sua semana final e decisiva, dezenas de milhares de pessoas pediram neste sábado, 06, ações urgentes de combate à injustiça climática (que reúne a crise do clima e questões sociais) em Glasgow, cidade escocesa em que acontece a conferência da ONU sobre o clima. Organizada pela Coalizão COP 26, que reúne mais de 100 entidades, a passeata percorreu cerca de 4km com mais de 200 mil participantes.
Sob o discurso de justiça climática, os manifestantes criticaram os líderes e negociadores da COP 26 por não atingir o suficiente para frear o aquecimento global em, no máximo, 2ºC acima do período pré-industrial, como estabelecido no Acordo de Paris. Todos os representantes que discursaram ao final da marcha, disseram que as delegações da COP são justamente as pessoas que provocam a crise climática, e ainda defendem uma mudança do sistema, principalmente em relação ao consumismo.
Os manifestantes também puxaram coro contra o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que foi criticado por entidades da sociedade civil por perseguir lideranças indígenas. Além disso, o chefe do executivo não participou da 26ª Conferência Mundial sobre o Clima. Preferiu fazer um vídeo de quase três minutos que foi exibido no Pavilhão Brasil.
Apesar de estudos mostrarem que o Brasil é hoje um dos maiores emissores de gás do efeito estufa, o presidente fez elogios à agenda ambiental brasileira. “O Brasil é uma potência verde. Temos a maior biodiversidade do planeta. A maior e mais rica cobertura florestal e uma das maiores áreas oceânicas. No combate à mudança do clima, sempre fomos parte da solução, não do problema”, disse Bolsonaro.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, participou de uma transmissão ao vivo para Glasgow. Ele estava em Brasília, na Confederação Nacional da Indústria e foi acompanhado por empresários e pelos ministros da Justiça e da Agricultura. Leite anunciou a revisão da meta brasileira de redução da emissão de gases que causam o efeito estufa, que passará de 43% para 50%, prevendo a neutralização do carbono em 2050.
Porém, sem detalhar como pretende atingi-la, ele não informou qual a linha de base a ser considerada para a respectiva contabilização, o que gera dúvidas quanto ao alcance e efetividade da medida. Especialistas criticaram a nova meta, que, segundo eles, apenas recupera o que o Brasil já tinha estabelecido lá atrás, em 2015, no Acordo de Paris, ainda durante o governo da, então, presidente Dilma Rousseff, do PT.
“É evidente que o Brasil não fez a lição de casa. Não há sustentação política no cenário internacional para o presidente Bolsonaro depois de toda uma gestão desastrada na área ambiental e nociva. Essa argumentação não tem sustentação, porque ela passa prioritariamente pela construção de uma capacidade operacional que é normativa, que é a capacidade regulatória do Estado para evitar a degradação”, disse o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy.
Cúpula do Povo
A partir do último domingo, 07, a Coalizão COP 26 vai promover uma conferência paralela, chamada Cúpula do Povo, para discutir soluções para a crise “vinda de baixo”. Representantes de vários povos originários e comunidades tradicionais do Brasil marcam presença para acompanhar de perto os desdobramentos da COP 26. E ainda, pressionar líderes dos países que verticalmente tomam decisões que impactam em seus territórios.
Integrando a comitiva, a liderança Alessandra Korap, do povo Munduruku, disse que os indígenas estão em Glasgow para falar da Amazônia e dos seus territórios. “E para desmascarar o governo que chega aqui e diz que está defendendo o meio ambiente, que está defendendo os povos indígenas. Isso é mentira, eles nunca defenderam”, disse ela.
A Coalizão Negra por Direitos, a qual reúne mais de 250 organizações, movimentos sociais de base e pesquisadoras negras do Brasil, também embarca na Conferência, assim como representantes de comunidades tradicionais que integram comitiva da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).