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Crise na China impacta Brasil

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Com mais de um terço de suas exportações destinadas à China, o Brasil tem muito a se preocupar a cada crise no continente asiático, dada a sua grandeza na corrente de comércio internacional. Cada crise do lado de lá respinga aqui, causando maiores ou menores turbulências nos resultados de quem vende.


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Desta vez não será diferente. A quebra da gigante imobiliária chinesa Evergrande aparentemente tem maior relevância interna, desde que não atinja mais fortemente a cadeia do enorme mercado imobiliário que, embora local, depende de insumos externos importados, inclusive do Brasil. À beira da falência, com uma dívida da ordem de US$ 300 bilhões, a empresa assiste à queda no valor de suas ações de 80% neste ano.

O economista Gildemir Silva, doutor em Economia e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) acredita que no curto prazo haverá um arrefecimento das transações comerciais por reacomodação dos investimentos no setor imobiliário chinês. Para ele, entretanto, o grande problema que pode provocar alguma alteração na movimentação dos negócios é a crise dos contêineres que deverá perdurar até, pelo menos, a metade de 2022.

Especialistas apontaram a necessidade de adaptação do comércio exterior à nova realidade que requer cooperação entre empresas e autoridades para ajudar no aumento da velocidade de movimentação dos contêineres e na flexibilização das quarentenas de navios. Há que se considerar, ainda, o aumento das importações em todo o planeta e o bloqueio no Canal de Suez no primeiro semestre que represou as operações ainda mais. O reflexo chega através de aumento no valor do frete, consequentemente, no preço final da mercadoria transportada.

Há um histórico de negócios a ser preservado. Dados da Secretaria de Comercio Exterior (Secex) do Ministério da Economia mostram que somente de janeiro a junho deste ano, as transações entre Brasil e China cresceram 37,7% nas exportações e 25,9% nas importações, devendo superar os US$ 102,5 bilhões registrados em 2020 e podendo alcançar os US$ 120 bilhões neste ano.

O Brasil exportou US$ 46,74 bilhões no primeiro semestre para a China, que responde por mais de um terço do total ou exatos 34,4%. Em todo o ano passado, esta participação foi de 32,4%. Já em se tratando de importações, a China respondeu por 21,7% do total importado pelo Brasil, uma pequena queda no volume em relação ao ano passado. A balança comercial entre os países favorece o Brasil com um superávit de US$ 25,241 bilhões, contra US$ 33,010 bilhões de todo o ano de 2020.

Considerando janeiro a agosto, as transações comerciais com a China responderam por 67% do superávit acumulado pela balança comercial do Brasil, conforme acompanhamento do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O superávit pró-Brasil foi de US$ 35 bilhões, sem ela seria de US$ 17,1 bilhões.

O ponto frágil brasileiro fica por conta da pauta exportadora. São produtos básicos, de menor valor agregado e concentrados em soja, minério de ferro e petróleo bruto. Trata-se de commodities beneficiadas pela alta superior a 100% no mercado internacional em 12 meses, cuja demanda global tende a continuar crescendo.

Pauta exportadora – principais produtos

Soja…………………………………17%

Minério de ferro…………… 29%

Petróleo bruto………………..17%

Carne bovina ……………….. 4,2%

Celulose ………………………….2,9%

Na análise do economista Sérgio Melo, da SM Investimentos, embora a economia brasileira não seja totalmente atrelada a nenhuma economia do mundo, tem vinculações muito fortes no comércio internacional onde a China se destaca como o principal destino dos produtos made in Brasil. Com isto, qualquer problema que ocorra naquele mercado e que implique em redução de importações pode afetar a economia nacional. Em relação a outras questões que não envolvam trocas, ele não vislumbra respingos em território verde-amarelo.

Especificamente sobre o problema da Evergrande, ele entende que está focado na construção civil e pode ser relevante, mas não chega a preocupar porque o governo buscará uma solução por envolver uma enorme massa de pessoas.

O fato é que o mundo olha atentamente para a China. A pandemia desacelerou o crescimento econômico no segundo trimestre. Mesmo assim, o país deverá ultrapassar a meta anual de crescer 6%. E o PIB per capita deverá dobrar na próxima década por conta da ascensão à classe média de quase meio bilhão de consumidores chineses. Sem esquecer que, embora tenha sido o epicentro do coronavírus, a China deverá ser a única grande economia a crescer neste ano.

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