Os desequilíbrios financeiros que acometeram as diferentes classes sociais atingiram também, e especialmente, a educação, exigindo uma forte reação de seus gestores. De Norte a Sul do Brasil, as escolas privadas, que operam como empresas onde precisa ser observada a relação receita-despesa, tiveram que transformar desafios em oportunidades, até mesmo abrindo espaço para novos negócios e liberando diretores e professores para a sua nobre atividade-fim: a de ensinar, o que também exigiu adaptações nestes novos tempos.
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Longe de viver numa bolha, o sistema educacional experimentou momentos difíceis. Ao passo que os ensinos fundamental e médio mais rapidamente se adaptaram ao modelo remoto emergencial e depois, de maneira mais estruturada, teve uma evasão máxima nacional da ordem de 3%, as áreas infantil e superior foram impactadas diretamente com índices variáveis por Estado e por perfil socioeconômico da escola. No Rio Grande do Sul, por exemplo, dados do Sindicato das Escolas Privadas (Sinepe) mostraram uma evasão média de 13,8% no auge da pandemia em 2020, considerando a educação infantil e o ensino superior.
Negociação foi a palavra-chave entre escolas/universidades e famílias/universitários, por conta do desemprego que gerou atraso nos pagamentos.
Composto por 40 mil instituições, o ensino particular brasileiro, que emprega mais de 2,5 milhões de pessoas, atende mais de 15 milhões de alunos da educação infantil à pós-graduação. Conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), na Educação Básica, a rede privada tem 8.791.186 alunos – 18,6% do total de estudantes no país (47,3 milhões). E no Ensino Superior são 6.523.678 alunos – 75,8% de um total de 8,6 milhões na rede privada.
Para Bruno Eizerik, presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP) – com presença em 15 estados e no Distrito Federal – a pandemia deixou lições importantes e, pedagogicamente, sacudiu as escolas. Uma delas foi que a tecnologia ingressou, absoluta e definitivamente, para a rotina do ensino. Outro aprendizado estampado é que o tempo e o espaço de aula são muito nobres para serem desperdiçados somente para passar conteúdos que podem ser enviados aos alunos ou que estão disponíveis online. “O professor está se reinventando como um guia, um orientador, e o aluno tem que assumir seu próprio protagonismo aproveitando ao máximo este novo modelo”, explica.
Otimista, Eizerik projeta para 2022 a retomada da normalidade na rede privada, que deverá contar com a totalidade das matrículas antes da pandemia. Isto porque para as famílias e alunos, a educação continua sendo prioridade, tanto no ensino fundamental, como no superior. “O mesmo não se pode dizer dos últimos governos que inviabilizaram o financiamento estudantil com as novas regras, distanciando ainda mais das universidades o jovem de baixa renda. “O resultado disto será o apagão de mão-de-obra qualificada logo adiante”, ilustra o presidente da FENEP.
Startup Isaac moderniza gestão financeira e soluciona inadimplência nas escolas privadas
Os amigos cearenses David Peixoto e Ricardo Sales deixaram o mercado financeiro para nutrir uma paixão em comum pela educação. Junto com a pandemia, em 2020, criaram o Isaac, startup que oferece às escolas privadas do país soluções para tornar a gestão financeira mais fluida e desburocratizada, reservando o tempo de diretores e professores para o nobre objetivo de prover uma educação de qualidade a milhões de jovens e crianças brasileiras. Resultado: a empresa já atende mais de 400 escolas em 88 municípios de 23 estados brasileiros, alcançando 130 mil alunos, onde garante o recebimento das mensalidades e se responsabiliza por toda a operação financeira das escolas. Em um ano de operação foram garantidos mais de R$ 600 milhões em mensalidades.
Primeiro, os dois diretores buscaram o entendimento das principais dores que afligiam as escolas privadas brasileiras. Um levantamento realizado pelo próprio Isaac antes do início de suas operações apontou que, em média, mantenedores gastam 70% de seu tempo com questões burocráticas, sem nenhuma relação com o planejamento pedagógico. Em grande parte, isso se dá pela quase ausência de ferramentas e serviços voltados para a gestão financeira escolar, independentemente do porte da escola e de sua localização.
Diante deste desafio, o Isaac oferece um produto que visa amenizar a falta de previsibilidade financeira enfrentada pelas escolas, seja pela inadimplência ou mesmo pelo atraso das mensalidades. Todos os meses, em datas pré-definidas, o Isaac transfere um montante previamente acordado, independentemente do valor em atraso por parte dos responsáveis. Uma vez implementado, a startup também desonera o dia a dia da secretaria ao assumir a gestão de recebíveis e facilita a comunicação financeira com as famílias, oferecendo uma interface que envia lembretes de vencimentos, permitindo aos responsáveis o pagamento das mensalidades de forma digital e por métodos diversos, como Pix, cartão de crédito, boleto ou recorrência.
“O serviço oferecido pelas escolas é anual, dividido em 12 parcelas. Mesmo com pagamentos em aberto, um aluno não pode deixar de ser atendido até que o ano letivo termine. Vários responsáveis pagam a taxa de matrícula e, ao enfrentarem dificuldades financeiras, atrasam as mensalidades ao longo do ano, quitando o valor em aberto apenas no momento da rematrícula, o que penaliza severamente o fluxo de caixa dessas instituições”, comenta David Peixoto, CEO e cofundador do Isaac. “Com a receita garantida, oferecemos previsibilidade e eliminamos toda essa complexidade financeira, principal entrave para o crescimento e investimento na modernização das escolas”, pontua.
O potencial de expansão é gigantesco diante do universo escolar. E não faltou a confiança do mercado para a solução estruturada pelos dois cearenses. O Isaac tem o apoio de grandes investidores. No início da operação, a startup recebeu um investimento seed da Arco. Poucos meses depois recebeu um aporte Series A encabeçado por General Atlantic e Kaszek, fundos que têm entre suas investidas empresas como XP, QuintoAndar e Hotmart no primeiro caso, e Nubank, Loggi e Gympass, no segundo. Mais recentemente, a confiança foi renovada pelos investidores com novo aporte Series B, com o reforço da SoftBank.
Turno Inverso é marketplace da educação
Com o objetivo de tirar das estruturas escolares quaisquer questões que não seja a educação, a plataforma Turno Inverso oferece mais de 50 atividades extracurriculares presenciais ou à distância. Para isso, conecta professores autônomos a alunos e escolas. Funcionando como um marketplace da educação de contra turno, a inovação tem como foco aulas extracurriculares e oferece sistema de gestão tanto para os professores como para as instituições de ensino.
“Nosso objetivo é resolver os problemas dos professores: cadastrar aulas, definir o perfil das turmas, emitir recibos, organizar a agenda, captar alunos e divulgar o serviço”, explica o fundador e CEO da Turno Inverso, Alan Streck. Semelhante à sistemática de plataformas como Airbnb, a Turno Inverso conta com um sistema de avaliação e ranqueamento de professores, a fim de conduzir a escolha dos interessados em contratar os serviços.
O foco, inicialmente, é cadastrar professores de modalidades esportivas, culturais e de idiomas. “Fazemos uma avaliação de perfil que inclui reconhecimento de diplomas e/ou certificações exigidas para a ministração da aula em questão, além de antecedentes criminais e comprovação de experiência”, adianta Alan.
Conforme ele, uma das vantagens que a Turno Inverso oferece para as escolas, além da intermediação com professores autônomos, é a possibilidade de utilização gratuita da plataforma para a gestão de atividades extracurriculares. “É uma forma de as escolas também captarem novos alunos, como nova fonte de receita, uma vez que são alunos de fora da escola que praticam apenas o extracurricular no ambiente dela”, explica Alan.
Uma vez conectada a uma escola por meio da Turno Inverso, a instituição receberá métricas de retorno, avaliações e desempenho do docente. “Queremos desburocratizar a conexão entre as partes e gerar oportunidades especialmente pela facilitação na intermediação financeira”, finaliza o CEO da plataforma.